Num misto de queixas e recriminações, a autora adverte o seu padre
confessor para que admita as suas culpas perante o Tribunal do Santo
Ofício.
[1] |
J M J
|
---|
[2] | Sr
ou pa milhor dizer grandisimo imbostei
|
---|
[3] | ro V m serra algum demonio do
inferno se o não he he
|
---|
[4] |
peLLo menos seu escravo q asim
anda temtando as almas
|
---|
[5] |
tam sotilmte digame se
achou em algum livro q paçaçe pe
|
---|
[6] | lla sta incriçição
as doutrinas q nos inçinou o Luçifē q se qu
|
---|
[7] | is fazer
mais q Ds digame N Sor quando andava no mundo
|
---|
[8] | obrou
alguma ves com as molheres q seguio q as asoens tam to
|
---|
[9] | rpes q comnoscõ obrou q só a madelena permetio lhe alimp
|
---|
[10] | açe os pés com os cabelos e não tocou mais nada tornolhe a
dize
|
---|
[11] | r q se não he dimonio tem logo com elle algum patto
q asim se a
|
---|
[12] | treveo a vençerme na materia em q eu hera
tam estrem
|
---|
[13] | eçida ó açeivozo jodas q asim me vendeu falçamte quantas ve
|
---|
[14] | zes lhe diçe o qto
hera estremeçida ó só quem
ti
|
---|
[15] | veçe com o demonio páto he q me poderia vençer tam
sagasmte
|
---|
[16] | com o seu falço amor d alma dizendome q tudo qto me fazia
|
---|
[17] | hera naçido do amor d alma
q dahi se não seguia senão mais a
|
---|
[18] | mor de Ds ó grandiçimo imbósteiro digame q premo
espera
|
---|
[19] | de quem tem servido tantos anos os q se chamava ao demo
|
---|
[20] | nio seu mosso eu o conçidero agora seu escravo terra porve
|
---|
[21] | ntora algum séo q lhe de por premo ou tera algum infe
|
---|
[22] | reno
q lhe de pa sempre ora pello amor de Ds não viva m
|
---|
[23] | ais tenpo tam sego abra os olhos pello amor de Ds q
ainda
|
---|
[24] | tem tenpo olhe q esta Ds com os bracos abertos pa o
reçe
|
---|
[25] | ber ora não despreze a sua méziriçordia q o está
esperan
|
---|
[26] | do
q o podera ter ja lançado no inferno olhe q lhe digo isto
|
---|
[27] | da pte de Ds olhe q lhe digo as verdades ólhe q
dezengano com tenpo
|
---|
[28] | olhe q lhe tenho agora verdadeiro amor d alma
qto Vosa m me que
|
---|
[29] | ria condenar a minha olhe
não o segue o seu mosso de quem Vosa
|
---|
[30] | m he escravo dizendolhe
q ja não tem remedio a sua culpa o
|
---|
[31] | lhe q ainda ten
tenpo q ainda q lhe tenha dado o sengue do
|
---|
[32] | braço todo tem remedio
olhe q estam sincó fontes de sengue
|
---|
[33] | nas sinco chagas de Christo pa
lavar todas as suas culpas ora não
|
---|
[34] | despreze tanta miziricordia ora se ha de
de dar gosto a todo o in
|
---|
[35] | tento de gloria a
Ds i a toda a corte do céo pois tanta recebe na
|
---|
[36] |
converção de hum peccdor
vaçe aos pés de Christo confe
|
---|
[37] | confece todos os seos
peccdos e chornios con lagrimas de sengue se pocivel
for mas não pa
|
---|
[38] | re ahi só a sua confição q
perçizamte se ha de confassar a sta incricição e se não morera
quei
|
---|
[39] | mado ó se Vosa m se não quize aporveitar do
q lhe digo eu serei a q lhe asópre no fogo digame
|
---|
[40] | Vosa m
tam innorante he q não
adevertia q o seu mosso q algum dia lhe avia descrobri as suas im
|
---|
[41] | bostiçes o pe
barmeu lhas descobrio mas bemdito seja o
sor pa sempre q deça miada tam iriçada
|
---|
[42] | ja estou dezimbilinhada pois me confisei ao
sor pe fr afonço de sta ma
jaralmte de todo qto com Vosa m
|
---|
[43] | pacei tornolhe a dizer q me esqueçeu q me
confeçei ao sor pe fr afonço de sta ma
pe miçiorario q
|
---|
[44] | ca nos touxe Ds qui
somte pa mi tirarem do ingano em q vivia em cuja obediencia
agora estou e de
|
---|
[45] | de Vosa m não quero
nada pois tenho renoçiado todo qto he de Vosa m nem dos olhos
mais o quero ver pois
|
---|
[46] | simtam segamte me
inganou renoçio e portesto diante de toda a santiçima trindade e da sempre vir
|
---|
[47] | gem Ma e de toda corte do céo em
como da obediençia de Vosa m não quero nada nem das suas imbós
|
---|
[48] | tiçes o mesmo portesto q faço da
minha pte façoo da pte da Anta q esta com o mesmo
prepozito e qualquer
|
---|
[49] | de nós pareçe hum Liam dezatado
o q pa quem tam segamte nós queis inganar o q lhe faziamos com
|
---|
[50] | o falço
amor d alma lhe fariamos agora se o cacaramos
com hum intranhavel hodio q só nos conte
|
---|
[51] | ntavamos com o fazer num piçado q ao mesmo
tenpo q Ds tocou a hum tocou a outra pois ao mesmo
|
---|
[52] | tenpo fomos anbas a mais precioza
botiça boscar a mais saudavel medeçina q llogo fiquemos sara
|
---|
[53] | doas agora nem
pa a cama d onde nós levantemos de tam inferma deença voltemos os olhos
pa não
|
---|
[54] | tornramos a mesma imfermidade pois
achamos tom perciozo medecina sem serrem como as suas
|
---|
[55] |
tpirolas
douradas q com o ouro de algumas bomas couzas q nos
dezia imcobria ao amargozo do veneno
|
---|
[56] | q vinha dentro da pirola agora ja de tais
bocados não quero gostar pois de todo o meu coração renosio
|
---|
[57] | todo qto he de Vosa m e qto quartas tinha
suas e todo o mais q tinha seu quemei numa fogeira nem
|
---|
[58] | me responda a esta q não lhe quero ver nem a
Letra Vosa m dirmiha q falo agora com
mta paixão
|
---|
[59] | q eu tambem procorava as
ocázioens sim confeço a minha culgpa q tambem cahi neça
inoran
|
---|
[60] | çia mas foi porq me
enganou q todo hera nacido do amor d alma q dahi se não seguia senão
mais
|
---|
[61] |
amor de Ds q as primeiras
vezes qto foi vioLentada qtas vezes me dice q não tinha
espirito pa nada
|
---|
[62] | e asim me foi façilitando no q eu hera tam
acautelada mas seja o Snr bemdito pa sempre q como
|
---|
[63] | sabia q estava inoçente pois me fiava q
em qto me dizia hera verdade e como o Snr conheceo a minha
|
---|
[64] | inocença me quis acodir a tenpo ó Ds do meu
coração quem me podera darvos tantos Louvores como vos
|
---|
[65] | tem dando todos os bem aventorrados no céo por me tirares de çemelhante ingano o
se eu podera
|
---|
[66] | converter todo em lingoas pa vos
Louvar por me trazeres a esta terra quem nós tiraçe do ingano em
|
---|
[67] | q viviamos qdo codavamos q hiamos
mto direitas
|
---|