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Maarten Janssen, 2014-

CARDS0259

1822. Cópia de carta de José Cupertino da Fonseca e Brito, Corregedor, para Dom João VI, Rei de Portugal.

Author(s)

José Cupertino da Fonseca e Brito      

Addressee(s)

Dom João VI                        

Summary

O autor informa D. João VI das diligências efetuadas relativamente à prisão do conspirador Joaquim Teles Jordão.
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Senhor. = No dia 13 do corrente tive a honra de participar a Vossa Magestade tudo quanto havia occorrido sobre a diligencia da prizão de Joaquim Telles Jordão, que Vossa Magestade houvera por bem mandar-me encarregar por portaria do primeiro do actual mez, e como o esperava n'aquelle dia prezo, pois que o havia mandado conduzir por uma escolta. Eu, Senhor, não podia ter receios alguns a respeito de tal diligencia: o Escrivão, que eu havia mandado era incorrumptivel, zeloso no cumprimento de seus deveres, e assaz habil, e da escolta não podia eu desconfiar, nem havia razões algumas de esperar que ninguem se arrojasse a querer-lhe tirar o preso, que não tem amigo algum alem de seus proprios irmãos. Pelo que, e porque as noticias dos manejos, que os inimigos do presente sistema de Governo fazião em diversas terras da comarca, e particularmente n'este paiz de Cêa me fizerão entender que era aqui necessaria a minha presença, parti da Guarda deixando o juiz de fora encarregado de providenciar por occasião da chegada do ex-brigadeiro alguma cousa que fosse necessario, que eu julgava nada seria, porque ao escrivão tinha eu dado as precizas instrucções para se governar até Gouveia, aonde eu vim combinar com o Major commandante do batalhão o mais que me pareceo conveniente para a conducção segura do preso até Lisboa, não me tendo esquecido pedir ao general da provincia dous soldados de cavalleria para o acompanharem, associados á escolta do batalhão para isso destinada, os quaes effectivamente elle enviou a Gouveia. No dia quinze chegei a esta villa de Cea, e hontem dezesete em logar de ver chegar o preso, como esperava, recebo a noticia de que elle fugira, e escapára á escolta á entrada mesmo da cidade!...; eis aqui, Senhor, como o caso aconteceu, e me he relatado- No dia quatorze de manhaa partio o preso da praça d' Almeida a cavallo em uma cavagaldura, que o Governador tinha para esse fim requesitado ao Juiz de fora, acompanhado do escrivão tambem a cavallo em uma egoa propria d'elle, e escoltado por doze soldados do referido batalhão commandados por um sargento: vierão ficar a Pinzio duas e meia legoas da Guarda; d'onde, segundo as ordens, reenviárão a cavalgadura em que vinha o preso; e como este repugnasse em vir a requererão ao juiz da terra, que lhe fizesse apromptar outra; o que elle não fez, e então o escrivão para não ver por mais tempo paralisada a marcha, offereceo ao preso virem alternadamente por espaços na egoa do mesmo escrivão; e assim vierão até ao chamado chafariz de , que fica á entrada da cidade, enxergando-se no preso muito cançaço, e quasi impossibilitado de andar pelo muito que tinha caminhado a . Ali pedio elle ao escrivão que o deixasse entrar a cavallo, porque se envergonhava de que o vissem a : condescendeo o sincero escrivão; montou o preso; e aproveitando-se de um momento de distração que vio nos soldados, os quaes, tendo deposto as armas, se estavão lavando, e refrescando, estimulando a egoa fugio. Os soldados ainda lhe atirarão dous tiros, e parece que ferirão a egoa, e estiverão a ponto de ferir o escrivão, que o seguio de perto até que de cançado que vinha não pôde continuar. O sargento, e alguns soldados correrão a par delle, e ainda não tinhão voltado. O juiz de fóra tambem sem demora expedio officiaes e milicianos em seu seguimento, e officiou a todas as autoridades da raia, e das vizinhanças, e fez prender o escrivão tomando as mais providentes medidas. Por amor e amisade ao escrivão, tambem voluntariamente partirão algumas pessoas a cavallo, e porque elle prometeo premios, etc tambem correrão outras a : mas até a manhãa d' hontem não se sabia ainda resultado algum. Eu d'aqui mesmo tenho providenciado o que me era possivel. Fiz partir de Gouveia os dous mencionados soldados de cavallo, que estavão, e o officiei ao Major para cooperar com o seu batalhão; o que elle tinha feito pondo em movimento o que tinha disponivel logo á primeira noticia, que teve, e estou em correspondencia tão frequente com elle, que hoje tive duas cartas delle À vista do que, Senhor, eu tenho ainda fundadas esperanças de que Joaquim Telles não escapará á justiça. Ainda que elle consiga entrar na Hespanha, he possivel, e até provavel, que sendo em uma ou outra parte achado sem passaporte, seja, segundo a pratica em taes casos, reenviado atè à fronteira, e para essa hipothese, se se verificar, eu tenho tomado precauções no que fica ao meu alcance mas conviria que Vossa Magestade as fizesse mais extensas visto como he largo patente a raia. Este desgraçado acontecimento teve logo um bom effeito, e foi, que mostrando-se os habitantes da Guarda condoidos da do ex-brigadeiro, trocárão logo estes sentimentos em odio, e execração, e tanto elles como todos os outros aonde chega a noticia da traição, e aleivosia, que elle praticou com o escrivão, dizem que agora se acabárão de desenganar de que o Governo tem procedido mui justamente com elle, e que elle era capaz de todos os crimes. Seguro a Vossa Magestade de que se hão de fazer todas as possiveis deligencias para a reaprehenção daquelle indigno, que eu tenho razões de crer, que elle leva em mira partir para a França, aonde espera se lhe verifique o posto que perdeo; e que se ha de proceder contra quem se achar culpado da sua fugida. A magoa que d'ahi me tem recrescido escusado he encarecê-la a Vossa Magestade. Cea em dezasete d' Agosto de mil oitocentos vinte e dous = O Corregedor da Guarda = José Cupertino da Fonceca e Brito =


Legenda:

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