Aquando da prisão, em 1609, de Tomás da Fonseca, médico, nascido na Covilhã, foi encontrada no seu espólio uma carta não assinada oriunda de Florença. No decurso dos interrogatórios, Tomás da Fonseca confirmou que conhecia a carta e que lhe tinha chegado às mãos poucos dias antes da sua detenção pelo Santo Oficio. Originalmente, não a quis receber por não saber quem era o remetente, vindo depois a perceber que se tratava do seu cunhado Filipe Rodrigues de Montalto, cristão-novo e médico residente em Florença, que considerava bom cristão. O facto de a missiva ter sido endereçada à “Cutilaria”, local onde já não residia há ano e meio, foi argumento usado para demonstrar que não existia um contacto regular entre ambos. No entender do inquisidor, a carta continha claro incentivo a que abandonasse o país e abraçasse a fé judaica, algo que Tomás da Fonseca foi refutando. Apenas em 1611, quando foi confrontado com a pena capital, é que aceitou confessar, implicando um vasto conjunto de pessoas, muitas delas familiares, entre os quais Filipe Rodrigues de Montalto, o qual havia deixado Lisboa em 1602, quando a emigração de cristãos-novos foi tolerada oficialmente. Possuía estudos de medicina, adquiridos em Salamanca. Em 1606, compôs um tratado sobre ótica. Foi também médico na corte de Luís XIII de França e de Maria de Médicis.
Bibliografia
Salomon, H.P. (1983), Une lettre jusqu´ici inédite du Docteur Felipe Rodrigues Montalto (Castelo Branco, 1567 ‒ Tours, 1616), Paris, Fondation Calouste Gulbenkian/ Centre Culturel Portugais.