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Maarten Janssen, 2014-

CARDS2047

1751. Carta de António de São José, padre, para António Álvares Guerra, comissário do Santo Ofício.

Author(s)

António de São José      

Addressee(s)

António Álvares Guerra                        

Summary

O padre António de São José escreve ao comissário António Álvares Guerra para transmitir uma denúncia de bigamia.

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Senhor Reverendo Doutor Antonio Alveres Guerra

A este nosso Convento do Carmo de Olinda, veyo buscar me Antonio da Costa Gomes, conduzido de Paulla Rodrigues, crioula forra, cazada, moradora em Beberibe, e criada em caza de meus pais, a quem batizei hũa filha, por nome Maria da ConCeisam; e este foi o motivo de Recorrerem a mim, a darem me parte, do imfelix estado em que estava a dita sua filha, e afilhada minha; pois Reputando a cazada com Manoel de Andrade, Crioulo forro, e filho das Alagoas; agora pela individual imformasam, que da o dito Antonio da Costa, morador tambem nas Alagoas, vem no ConheCimento de que o estado em que esta a dita sua filha, he de amancebia; porque o dito seu genrro Manoel de Andrade, he cazado, e tem a molher viva, como atesta o mesmo Costa como testemunha de vista; e posto que sua filha se Recebese a facie da Igreja com o tal crioulo Andrade, na freguesia da Santa , desta sidade; ex vido primeiro matrimonio o segundo he nullo, e a dita pobre queichoza, se acha danificada no estupro que lhe fes em sua filha o dito Andrade ato de matrimonio: porem como me não acharam neste convento, porque por hora estou asestindo por Missionario dos Indios Aldiados na missam de São Miguel do Sery, deicham me o papel, que Remeto encluzo, que he hũa certidam, que passou o Costa, expondo com endividuasam, tudo quanto sabia na materia; e he do Teor seguinte Certefico eu Antonio da Costa Gomes morador nas Alagoas na Povoasam do Norte freguesia de Santa Luzia, que conheso verdadeira e fielmente a Manoel de Andrade natural da dita freguesia e filho legitimo de Antonio de Andrade e de sua molher chamada Anna, e o dito Manoel de Andrade tem dous irmãos hum por nome Antonio e outro por nome Phelipe, tem mais hũa irmãn por nome Anna, e todos sam naturais da mesma freguesia este Manoel de Andrade he cazado na sua freguesia com hũa crioula por nome Luzia que foi escrava de Joze de Mello Tavares e de sua molher Izabel Clara, a qual crioula foi vendida para a sidade da Bahia e a comprou o Padre Antonio Lopes e este a tornou a vender no Reconcavo no Rio de Joannes a Joam

A João GonCalves e eu a vi e falei com ella propria em pessoa em sincoenta, e como todo o Referido asim passa na verdade, asim o jurarei nos Livros dos Santos Evangelhos se asim me for perguntado- e aqui esta asignado o dito Antonio da Costa Gomes. Vindo pois eu a esta sidade pella somana santa a pregar no nosso convento o Descendimento, achei esta Certidam em Carta fichada para se ma Remeter a qual vendo a mandei chamar a dita minha comadre queixoza para melhor me emformar da materia veyo ella, e lavada em lagrimas me dise que tivera aquela noticia muito por acazo pois pasando pelas cazas em que vivem em Beberibe o dito Antonio da Costa, e vendo ao seu chamado genrro Manoel de Andrade o salvara com demostrasõis de amor, e conhecimento antiguo, e por cauza da chuva o dito viandante se demorara na tal pouzada; porem que o tal Andrade talves porque a sua conciencia o acuzava, fes se logo hido para a Rossa, e se despedio apresado, sem temer o Rigor de agua, que emtam cahia: depois de ter o dito se hido de caza perguntara ella sogra, ao pasageiro sua merce de honde era, e ouvindoo dizer que era das alagoas (de donde seu Genrro era natural) perguntoulhe se o conhecia, muito bem e lhe foi dando a emformasam supra, com a qual ficou ella mais morta que viva, e pelas lagrimas que derramava precizouze o Costa o perguntarlhe o de que chorava? ao que a dita Respondera; pois não hei de chorar ouvindo dizer a Vmce que o Senhor Manoel de Andrade, he cazado, e tem a mulher viva se elle esta cazado com minha filha della tem filhos do que muito se admirou o home, e ficou escandalidado de tal aleivozia; e asim Rogado este se determinou a vir com a quichoza a minha prezença, e por me não acharem no Convento me deicharam o papel que encluzo e tresladado Remeto a Vmce como o comissario que he do santo Tribunal para que segundo as obrigasõis do seu officio melhor se emforme e exzecute o que deve segundo o menisterio que emcumbe que eu nesta materia não sei mais do que o que exponho isto faso sem amor nem odio mais do que Por hum mero zello, e asim não testefico ser verdade o deduzido na certidam porque não conheso de vista ao testificante mas ouso dizer que he home verdadeiro, e como o que sertifica he com tanta individusam pelas sircunstancias expostas podera Vmce emformarse da melhor serteza. Tambem advirto a Vmce que o sujeito denunciado he de capa em collo e poderâ fugir se tiver alguã noticia pela qual Rezam boa era a seguransa, Vmce obrara o que for servido como acerto que costuma em todas as materias. Fico Rogando a deos pella vida e saude de Vmce e o mesmo Senhor o guarde como dezejo

Carmo de Olinda 30 de Abril de 1751 De Vmce Humilde subdito e Reverente capellão Padre Antonio de São Joze

Legenda:

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