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Maarten Janssen, 2014-

Sentence view

1755. Carta não autógrafa de António Francisco Rego, irmão da Ordem Terceira de S. Domingos, preso e juiz da enxovia da cadeia, para Bernardo Germano, comissário do Santo Ofício.

SummaryO autor pede ao destinatário que consiga a transferência do preso António de Paiva Travassos, uma vez que esse preso incomodava os outros com as suas blasfémias.
Author(s) António Francisco Rego
Addressee(s) Bernardo Germano            
From América, Brasil, São Salvador da Bahia
To S.l.
Context

Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.

Support meia folha de papel não dobrada, escrita em ambas as faces.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Lisboa, Cadernos do Promotor
Archival Reference Livro 306 (Caderno 114)
Folios 201r-v
Transcription Leonor Tavares
Main Revision Ana Rita Guilherme
Standardization Catarina Carvalheiro
POS annotation Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Transcription date2008

Text: -


[1]
Sr Rdo Dor Bernardo Germano, e dignisso comisso do sto offo
[2]
A razão de christão, cathollico, temte a Deos, fo da Sta Me Igra; e amantisso zellador da nossa sta cathollica como Irmão que sou da veneravel Ordem 3a do meo grde Patri-arca S Domingos, estou obrigdo pelas circunstancias expen-didas a evitar todos os aggravos, afrontas, injurias, blasfemas, e renegaçõis contra nosso snr Jezu Christo verdadro Deos, e ho-mem em qm creyo, a qm adoro como fiel, e verdadro Christão,
[3]
e como pa se dar a provida necesra a tão grande escandalo percizo fazerse recurso a Vm como dignisso comissro do Sancto offo Como Juis que sou da Enxovia da cadea desta cidade alem das razões assima expreçadas fasso a saber a Vm; que nesta mesma cadea se acha prezo pelo Juizo Eccleziasto o Capitão Antonio de Payva Travaços
[4]
, e como se fação abominaveis os seus perniciozos, e gravantes dtos, e conjurações actualmte dando com elles escandalozissos exemplos a grande turba de gentes que aqui se achão tãobem prezos, e entre os quaes não se pode duvidar, que haverão mtos de infecta nasção como o são os infinitos negros, e muitos estrangeiros, que pela sua quallide; e condição se regozigem de ouvirem as taes renegações, e blasfemas, o que mtas vezes tem acontecido em inreverencia, e fraude da nossa sta , e por evitarmos estes incómodos entre a Christandade o exponho da forma profferidas por elle dto.
[5]
As torpes, e malvadas pronuncias que proffere pla sua boca o dto Capitão sem nẽhuã reverencia a Deos, e aos seus santos são as seguintes.- Que renega de Jezû Christo (e fallando com toda a devida sũmissão dis elle) que caga pa Christo, e que o verdadro Christo elle, e que Deos pa com elle não tem nẽhũ poder,
[6]
e desta forma se poem como em desafio dizendo, q se Deos poderozo, q o mostre em alguã couza.
[7]
Trata aos sanctos aos Sanctos por cornudos:
[8]
nas occaziões em que os mais prezos estão ouvindo Missa, cuida elle mto em os perturbar com allaridos, gretarias, e descomposturas a fim de o motim estorvar a devossão,
[9]
e finalmte incuntiveis são as suas estra-nhadas acções por serem quotidianas como o deporão as ttas do rol junto.
[10]
Deste maniffesto, e mau procedimto espero eu, e todos os mais prezos desta cadea, que Vm a provida mais necesra com toda a brevide; que remover o dto prezo blasfemo pa algũ outro carsere donde não prejudique a Christandade, pois neste lugar não deve estar pela diversidade de animos que nelle se acham, sendo a mayor pte gentillide, e por isso de facil comvensão;
[11]
e quando Vm o não queyra fazer, pois tem disso obrigam tanto pela do cargo de dignisso Commisso do Sancto officio, como por ser o dito prezo do Eccleziastico, dar me hâ licensa pa fazer a minha obrigação perante as Justiças secullares, pois não devo apoyar semilhantes culpas sem grande pre-juizo da minha consciencia, e alma.
[12]
pa obedecer a veneran-da pessoa de Vm fico mto certo, e pa tudo o que for do seu serviço me achará prontissimo.
[13]
Deos ge a pessoa de Vm ms annos.
[14]
Cadea, e Janro 2 de 1755 De Vm Menor Criado, e mayor Vor Anto fransico Rego

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