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Maarten Janssen, 2014-

CARDS0106

1822. Carta de António José Cabral de Melo e Pinto, desembargador e corregedor, para o seu cunhado João Cardoso de Almeida, padre.

SummaryO autor relata ao cunhado certos acontecimentos, ocorridos no Terreiro do Paço, que causaram a morte da mulher.
Author(s) António José Cabral de Melo e Pinto
Addressee(s) João Cardoso de Almeida            
From Portugal, Lisboa
To S.l.
Context

Processo relativo a António José Cabral de Melo e Pinto, desembargador e corregedor da comarca de Beja, considerado culpado da morte da mulher, Maria dos Prazeres Soares de Abreu e Melo, e condenado a degredo perpétuo. No processo existem várias cartas, na sua maioria lidas e copiadas pelos advogados. Há cartas escritas pelo réu à sua mulher, e cartas escritas pela mulher a várias pessoas. O primeiro conjunto de cartas foi utilizado pela defesa para demonstrar como entre marido e mulher não havia qualquer animosidade. Um segundo conjunto foi já utilizado pela acusação para mostrar que o réu duvidava da fidelidade da mulher e por isso mesmo ter-se-ia fingido vítima de um assalto, no decurso do qual Maria dos Prazeres fora assassinada. Segundo a acusação, no assalto estariam implicados os criados do desembargador, seus cúmplices. A carta aqui transcrita foi endereçada a João Cardoso de Almeida e escrita por António José Cabral de Melo e Pinto, seu cunhado, relatando-lhe os trágicos acontecimentos de 15 de fevereiro.

Support meia folha de papel dobrada, escrita em todas as faces.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Casa da Suplicação
Collection Feitos Findos, Processos-Crime
Archival Reference Letra A, Maço 4, Número 12, Caixa 11, Caderno [22]
Folios 21r- 22v
Transcription Cristina Albino
Main Revision Cristina Albino
Contextualization Cristina Albino
Standardization Sandra Antunes
POS annotation Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Transcription date2007

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Lxa 4a fra de Sinza de 1822

Hoje q recobro os sentidos mais alguma couza e q me deixam escrever algas poucas letras, apezar de considerar pouco todo o tempo pa dar graças ao Céo por me condenar a vida ahinda pa enparo de teos innoces sobros e de me dizerem q te escreverão. julgo do meu dever aprezentar-te hua ligra idea do tragico acontecimto q sofri, e tua infeliz Irma na prezenca de seos fos no meio de sentinellas ao lado de hua goarda principal e no terro do Paco ahonde paceavam mais de 100 pessoas pelas 7 horas da noute do memoravel dia 15 do Corre Em suma, porq eu nem posso mais dipois de me tirarem o dinro em prata q levava, hua volsa com ouro, hum Relogio de reptom com sinetes, e grilhons levei 3 punhalladas e tua Irmãa 2, sendo cauza os gritos q ella deu qdo vio lancar-lhe a mam ao pescoco pa Retirar os aljofres que levava. Eu fiquei sem sentidos, nam senti q me fericem sendo tudo feito momentaneamte sem estrepito e como pessoas limpas q estavam conversando. Eu estou de cama porq hua ferida no braco esquerdo q me livrou o Coram he grave e hontem soube da morte disgrasada de ma infeliz consorte pois q os meos amos nunca mais me deixaram chegar a ella nem a vella. Todos os nossos patricios absolutamte fallando incluindo mmo o Barom de Mollellos, e Pais de Mangde Anadias etc me tem feito, e fizeram logo os mais devedos devedos obsequeos. Nem fallo nos do Serpa e Sa q jámais me esqueceram mas de q me servem disgrasado de mim!! q fatalide ou q providencia!! ouco q te escreveram logo por Sta Comba dão; e no mmo dia 15 de tarde nos tinhamos escripto antes de sahir pa difres ptes supoem-te por hum momento nas mas tristes circonstas e nada mais te digo nem tenho forcas pa isso.

Teu Mano leal amo A J Cabral

Recomendame a S Exa O cro q levava os piquenos pela mam, qdo quis acuidir, e outros no mmo momto foram embaraçados e detidos por dous indeviduos difres dos agressores, donde se conclue q tudo foi estudado e premeditado. Nos tinhamos estado naquelle dia e na Estallage dos Camillos com tencom de mudarmos pa aqui (caza do Serpa) no dia segte dipois de arranjados os piquenos no Collo e comprado tudo


Legenda:

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