PT | EN | ES

Main Menu


Powered by <TEI:TOK>
Maarten Janssen, 2014-

CARDS9076

1717. Carta de Francisco Antunes Ferreira para Manuel da Costa, padre comissário.

SummaryO autor apresenta ao destinatário todas as provas que julga ter dos feitiços que Guiomar Pereira, meretriz, lhe lançou a ele e a outros homens para os ter apaixonados.
Author(s) Francisco Antunes Ferreira
Addressee(s) Manuel da Costa            
From Portugal, Porto
To Portugal, Coimbra
ContextDentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.
Support uma folha de papel dobrada, escrita em todas as faces.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Coimbra, Cadernos do Promotor
Archival Reference Livro 340
Folios 360r-361v
Socio-Historical Keywords Rita Marquilhas
Transcription Leonor Tavares
Main Revision Rita Marquilhas
Standardization Rita Marquilhas
Transcription date2007

Javascript seems to be turned off, or there was a communication error. Turn on Javascript for more display options.

Meu Sor Rdo Pe Comissario Manoel da Costa

Denuncîo ao tribal do sto offo por ordem de comfessor Franco An-tunes Frra Pintor nal, e mor na Rua das taypas da çide do Portto da frga de N Sra da Vitoria, de Guiomar Prra mer meretris natural da cide de Lxa fa de João Pinto Pra defunto criado q foi do fi-dalgo do Bomjardim, e de sua mer Mna Carva a Lisboana por al-cunha, Lavadra e mora defronte do Adro de sto Andre frga de sto Ilde-ffonço extramuros desta cide, e ella dta denunçiada mora por bayxo dos selleiros do pão ao calvario novo defronte da qta das virtudes frga de sto Ildeffonço; por prezumpção de ter pacto com o demonio, e por virtude de obrar couzas, com q fizesse comtinuar em corresponderemna os homens, com qm trata, e tratou illicitamte, e q outros a procu-rasem, e pareçesse a todos fermoza, e lhe quizessem bem, e dispendesem mto com ella.

O q a esta prezumpção me persuadio foy, q falando eu com a denunçiada por tempo de Dous mezes, por algũas vezes tive com ella algũas dissenssõins, e sem embo de por cauza dellas não querer falar com a denunciada, poucos dias se passavão, q eu como violen-tado não fosse falarlhe, procurandoa, e dandolhe dinhro mtas vezes com largueza, e não deixava eu de fazer reflexão admiran-dome asim sobre o alvoroço com q a pcurava. como sobre o gastar tanto com ella, qdo com outras similhantes mers mto menos dispendia não passando de 240 rs, e 480 rs

E andando asim perplexo, receando q ella me tivesse feito algua couza, busquei meyos pa me retirar della, e não me foi possivel, the que me vali de N Sra da Nativide da fonte da Arca, fazendolhe hua novena com premessa de hũa esmolla, pedindo-lhe me acudisse, e fizesse esqueçerme de tal mer, e no ulto dia da Novena emcontrando Anta Correa mer soltra, vezinha q foi da denunciada, e hoje mora na viella do ferrás dta frega de N Sra da Vitoria, e por ser grande amiga da denunciada, lhe reprezentei em segredo o sentimto com que andava; e ella e ella me respondeo, q em hũa das occazioins, em q eu estava differente com a denunciada, lhe disera esta, q ja tinha feito as pazes comigo, e q ella denunciada fazia aquillo zonbando em chegando a meixer os paos, q ella dta Anta Correa sabia; e q em outra occazião lhe disse-ra a denunciada: «Anta eu hey de amarrar o Franco Antunes»; o que ella dta Anta Correa não duvidava fizesse a denunciada, por ser de mto alma plo q lhe tinha vto fazer alguas vezes, e lhe tinha dto a mesma denunciada, q he tudo o seguinte.

1 Que uzava dar pão abocanhado della denunciada aos homẽns q entendia dispenderião mto com ella, na ocazião, em q hião a sua caza convidandoos pa comer, ditas primro no pão, e qdo o comião palavras diabolicas.

2 Que tambem costumava lançar no comer agua, vinho, tres cabellos de cada hũa das tres partes do corpo mto miudamte picados, e raspa, q tirava das unhas dos pes, e com palavras diabolicas dava tudo pa os homẽns não pararem sem a procurarem, e dispenderem mto com ella, e a estimarem, por lhe pareser mto fermoza, e andarem à obeda della denunciada, e q tudo qto souvessem lhe contassem.

3 Que ella denunciada lhe disera, q tinha hũa mão de toupeira pa fazer q os homẽns a procurassem, e q pa Snr isso havia de passar com ella tres portas da cide, e nellas dizer certas palavras, mas q inda se não tinha exposto a fazello.

4 Que costumava pór hũa tripeça com os pes pa sima e nelles punha tres pedaços de vella de certa medida, q tinha, e acezas a punha aos pes da cama, e descalçandosse, e rezando ao que parecia, andava a paciar com mta pressa sem falar com nynguem, por tempo da reza de hum rozario, e dezia ella denun-çiada a ella dta Anta Correa q aquillo era a reza das almas.

5 Que dissera ella denunciada em hũa ocazião a ella dta Anta Correa, e em outra a felicia de Mello mer soltra, e vezinha da denunçiada, q pa ver se os homens lhe querião bem uzava de lançar húm vintem em hua tigela de agua. que

6 Que costumava comprar húm pucarinho novo de prado, emxofar, vinagre, e pimenta, dizendo antes de ajustar o preço certas palabras, e vindo pa caza punha tudo no Lume dentro do pucaro, e com grande ansia começava a abanar, e a dizer palavras diabolicas, chamando pellos demonios, e prohibia a ella dta Anta Correa, e a Mel Coelho q a denunciada tem consigo a titulo de sobrinho, q não falassem em o nome de Jesus emqto se não abrazasse com fogo, o q dentro do pucaro estava, e q ao dipois o punha debaixo da cama com o fundo pa sima.

7 E q tudo isto fazia entre as onze, e meyo dia, âs Ave Marias, e das onze pa a meya noute, q sam tres vezes no dia; e q tudo isto via tambem fazer, e sabia o dto Mel coelho declarado no no 6o, q he fo de franco coelho cirg cirurgião, e asistente nas ptes do Brazil, o qual andou amigado com a denunçiada algũns annos, e sera o dto rapas de ide 13 pa 14 ans, e susposto a denunciada o tenha com titulo de sobro, não tem com ella rezão algũa de pa-rentesco.

8 E q ella dta Anta Correa tinha por certo conseguir a denunciada com estas couzas, o seu pretensso effeito; porq falando com ella denunçiada o Presbitero Dos da Rocha Pintor, e mor na travessa do pastelleiro de sto Eloy, q he da dta frga de N Sra da vitoria, este despendia no prencipio mto pouco com ella, e q dipois que a denunciada lhe fizera o referido logo se alargara com ella no dispendio dandolhe mtas couzas de valor, e q inda hoje estava dispendendo mto.

9 E q em outra occazião se gabara ella denunçiada a ella dta Anta Correa, q estando fazendo o q fica dto no N 6o a João da fonca homen de nego desta cide, e mor â ponte nova frga da , antes q ella acabasse a estava elle ja procurando â porta. e estando eu em hum Do, ou dia sto de preceito do mes de 7bro 4a fe passada com a denunciada â sua janella pella pte de dentro, passara o dto joão da fonca pa a dta qta das virtudes a falar com o Dor juis dos orphãos, q neste tempo nella asiste, e por eu saber q a denunciada falava com elle, reparei em que elle elle não fes cazo da janella, nem pa ella olhou, e dizendo eu isto â denunciada me respondeo ella, q sim andava o dto joão da fonca a monte por certas rezois, q entre sy tiveram, mas q se ella denunciada quizesse logo o faria vir ao Rego brando com hũa cera, e q o ponto estava em ella dar ordem a porse nisso; e despois deste dito quiquei com ella mto asustado pela suspeita com q della andava.

. E q tambem em outra occazião se gabara a denunciada a ella dta Anta Correa, q falando com Jozeph Ribro caixro de Mel Antunes Lage mercador e mor aos arcos de sam Dos frga da desta cide lhe fizera por vezes o q se declara no N 6o âs onze horas da noute, occazião em q elle estava dormindo na cama, e acordara mto ansiado, e apertado do coração, e que não podia parar sem a vir procurar, e ver a denunçiada a qual dissera isto mesmo o dto jozeph Ribro, e q ella lhe devia ter feito algũa couza: porem q ella denunçiada dis forçara a resposta dizendo: não te fis nada.

11 E q em outra occazião disera ella denunçiada a ella dta Anta Correa, q se lhe não desse de estar mal com Manoel frz soldado do Regimto desta cide por rezois q tiverão, porq ella denunciada lhe emsinaria a fazer cazo com que o dto Mel frz ficasse seu amo, e a procuraçe, o q ella dta Anta Correa não quis ademetir etc.

E como me obrigace o comfessor, Dou a Vmce esta pte; Vmce obrara o q for justo. etc V Sa Ds N Sr me gde a Vmce mtos a Porto 15 de 8bro de 1717 a

Servo e cdo De Vmce Franco Antunes Frra

Legenda:

ExpandedUnclearDeletedAddedSupplied


Download XMLDownload textWordcloudFacsimile viewManuscript line viewPageflow viewSentence view