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Maarten Janssen, 2014-

PSCR0508

1734. Carta não autógrafa de Romana da Rosa, vendedeira de pão, para o seu irmão, João de Deus, oficial de sapateiro e tendeiro.

ResumoA autora escreve ao irmão mostrando-se feliz por ter sabido notícias dele. Mostra-se ansiosa por causa do boato de que ele estará preso por bigamia. Conta-lhe que o seu próprio marido, cunhado do destinatário, também andou preso, tendo depois fugido da prisão.
Autor(es) Romana da Rosa
Destinatário(s) João de Deus            
De Portugal, Beja
Para Portugal, Avis, Ervedal
Contexto

Esta carta foi ditada pela autora e escrita pela mão de um primo de nome João da Rosa Graça. Este processo diz respeito a João de Deus, também conhecido por José António, casado com Maria de São Bento, com quem esteve casado treze anos e não teve filhos. Casou, uma segunda vez, com Ana Serra (viúva de Manuel Rosado), com quem fez vida marital por três anos, estando a primeira mulher viva, pelo que foi acusado de bigamia e preso, a 6 de junho de 1734.

A primeira mulher do réu, Maria de São Bento, passou a viver em Beja, à saída da porta de Mértola após a separação. João Baptista e João da Silva, ambos sapateiros e moradores na cidade de Beja e de Mértola, respetivamente, foram testemunhas de que o réu, sendo casado, se mudou para Ervedal, onde, passando a chamar-se José António, voltou a casar. Em sua defesa, João de Deus diz que a certa altura perguntou a uns almocreves de Beja se sabiam de sua mulher e que lhe terão dito que ela estava morta.

A carta transcrita (PSCR0508) foi remetida pelo padre António Gonçalves de Carvalho, capelão de Ervedal, a João Vidigal, da Inquisição, por lhe terem chegado aos ouvidos os rumores espalhados por João Baptista e João da Silva sobre a suposta bigamia do réu. O portador da mesma foi um moço, Nicolau de Brito Botelho, porque na altura em que a carta chegou às mãos do padre António Gonçalves de Carvalho, Nicolau de Brito Botelho se encontrava em sua casa e presenciara a entrega da mesma. Segundo parece, a carta terá chegado às mãos do padre António Gonçalves de Carvalho pela mão de António Serrão, morador de Ervedal, que tinha ido a Beja visitar o irmão, Manuel Serrão (almocreve) e que, nessa altura, fora abordado por um conhecido que lhe disse que havia no Ervedal um bígamo que tinha mudado de nome e que tinha as mesmas características que o réu. Movido pela curiosidade e sabendo que a irmã do réu era moradora da praça de Beja e lá era vendedora de pão, procurou-a e perguntou-lhe se queria que enviasse alguma coisa ao irmão, uma vez que moravam na mesma cidade. Foi aí que Romana da Rosa lhe entregou a carta transcrita, para que ele a entregasse ao irmão. Contudo, António Serrão entregou-a ao padre António Gonçalves de Carvalho para a apresentar na mesa da Inquisição. A carta foi anexada ao processo por servir de prova da identidade do réu e da vivência da sua primeira mulher. Consta do processo que o réu tinha muitas dívidas e andava fugido da prisão porque já se tinha metido em confusões na sua cidade e tinha sido preso por furtar bestas e ser passador delas. Consta também que se dizia que o réu, após saber que o procuravam, além de ter mudado de nome, mudou de profissão, passando a ser tendeiro, e que andava assustado e pouco parava por casa. Consta ainda que depois de fugir da sua cadeia, o réu passou pelas vilas de Serpa ou de Moura, depois por Torres Novas, Barquinha, Avis e, finalmente, a do Ervedal. Com a intenção de se casar pela segunda vez, foi então a Coimbra apregoar-se como filho da igreja (filho de pais incógnitos) para conseguir certidão para fazer correr os banhos, tendo também arranjado duas testemunhas dos arredores de Coimbra. Em interrogatório, Manuel Serrão diz ter estado pessoalmente com a primeira mulher do réu, Maria de São Bento, e ter-lhe perguntado se ela gostaria de ir a Ervedal ver se José António era de facto o seu marido, ao que esta terá respondido que não queria saber porque o marido lhe tinha dado muitos trabalhos. Em auto-da-fé de 5 de fevereiro de 1736, foi condenado a abjuração de leve, açoutamento pelas ruas da cidade, degredo por tempo de cinco anos para as galés servindo ao remo sem soldo, penitências espirituais, instrução ordinária e pagamento das custas do processo.
Suporte uma folha de papel dobrada, escrita na primeira face e com sobrescrito na última.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Évora
Cota arquivística Processo 4486
Fólios [8]r
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2366423
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Catarina Carvalheiro
Contextualização Leonor Tavares
Modernização Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2014

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A meu Irmão João de deos guarde Deoz muitos annos ofesial de sapateiro em

Meu Irmão sumamte festejei de me darem novas vosas de q tinhens saude noso Sr vola conserve como dezejais, q eu e migel glz de saude e mais vosos sobrinhos q são coatro porq tenho ja mais otro Bem dezejavamos ja as vosas novas porq se tem ca falado de vos q: vos tinhes cazado otros dizião q estaves no santo ofisio por teres cazado duas vezes e eu como irmã sentia todas estas penas de q não nos tem faltado emfados pois esteve Migel glz prezo dois mezes e escondido otros dois isto agora de prezente não falo de qdo foi a volta e agora esta em lisboa pa se livrar ahinda pelo degredo mas com boas esperansas querendo deos asim q vede se nos podeis mandar novas vosas q como Irmã aliviarei as saudades vosa molher boa de saude e Migel glz esteve ca nos ultimos da vista porq o q abrio a porta os prezos lhe deo sertas Cutiladas de q temos andado em demanda e o escrivão desta voço primo João da Roza grassa se recomenda saudozo e com isto estimo estares com mto aumto e q pasais bem Ds: vos gde como mto qro Beja 28 de março de 1734 desta vosa Irmã mto do coracão

Romana da Roza

Legenda:

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