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Maarten Janssen, 2014-

PSCR0331

[1630-1639]. Cópia de carta de Luís de Melo, advogado da Relação e da Casa da Suplicação de Lisboa, para Álvaro Pires Pacheco, padre.

Author(s) Luís de Melo      
Addressee(s) Álvaro Pires Pacheco      
In English

Copy of private letter from Luís de Melo, lawyer, to Álvaro Pires Pacheco, priest.

The author describes what happened when he was arrested by the Inquisition, lamenting that credit is given to voluntary confessions and asking for help to get rid of penitence in Portugal.

The defendant in this process is Luís de Melo, a 39 years old New-Christian, graduated in law from the University of Coimbra and a lawyer in a Lisbon court. Married to Isabel Loba, with whom he had two children, the defendant was the son of Álvaro Mendes (who lived from his farm) and Inês Fernandes, and and was arrested on May 19, 1637, charged with perjury and breach of the prison that he had been sentenced to before. In the process nº2982 of the Inquisition of Lisbon, the defendant had been considered guilty of Judaism. However, after being convicted he received a general pardon and was reconciled, thus getting rid of his sentence. The second process about him was due to the fact that, after that general pardon, he again declared that he believed in the law of Moses and that it was good, and practiced all Jewish rituals, declaring himself a Jew and claiming to have feigned repentance because he had been coerced by the Inquisition. Furthermore, the defendant infringed the prison who had been sentenced to him, leaving the city and going to Seville. The letters written by him were sent by Simon Peres (owner of the house in Seville where the defendant lived) and then delivered by Álvaro Pires Pacheco (a religious man in the Company of Jesus) to Martim Afonso Ferreira (lawyer), so that he would take them to table of the Inquisition. In an auto-da-fe on October 11, 1637, the defendant was sentenced to be publicly whipped, prison and to row in the galleys for ten years, among other punishments.

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Não respondi no passado a huma carta q me derão de V P porq suppunha q como me tinha faltado no correio presedente, ficaria satisfazendo às propostas que na de simão soares Peres se me fazião, Peremya q V P se não da por satisfeito, e manifesta receos tão apertados nesta sua convem que torne a qualificar o em q sempre convim ainda q obre pouco ou nada, porque aonde o temos assertou de deitar raizes converteo em ha-bito a prezumsão e assi sera mto difficultiozo desfazelo.

em Primro Lugar estimo q V P goze saude q nosso sor lhe augmente com toda a felicidade spiritual p q em seu zelo e nos mais religiozos desse santo convento tenha esta na-são tão opprimida o alivio q tão jniustamte lhe nega a fortuna (porq ainda q conheco q nem tudo he são contudo he ynfalivel que a maior parte della nestes reinos procede no enterior como no spirito; por q conveniensia he q facilmte obriga a quqlquer animo xpão q crea, q agora aonde a fee catholica tem feito vivas demonstrasois de sua verdade, estejão imoveis em seus pre-ceitos mais q aquelles q os segirão e amarão quando a doutrina christã comesou a publicarsse) foi esta resolução tão verdadra e asentada sempre em ma alma, q a ignoransia e preversso e affecto com q indifferentemte presumia mal de todos, me fes per provedensia incomprehensivel alusinar naquillo em q de antes me paresia empusivel, ainda q contra mi se conjurassem todos os rigores, mas assi como cpo sor nosso mostrou às confiancas do Principe da igreja, q erão futeis faltandolhe seus auxilios, assi tambem manifestou em meu exemplo q não bastava ter zelo fervoroso se não fosse acom-panhado com charidade; a falta della, e os baxos em q meus peccados me fiserão cahir, chorei, choro, e chorarei perpetuamte; porq tenho asumto mui piadoso, mui liberal em perdoar em cujas chagas faco todo o meu fundamto e lhe peco e pedirei sem-pre concorra em ma alma de manra q todos os males do mundo jamais me possão fazer bacilar hum so momto em sua fee e conforme a esta verdade mo outorge ou negue, e se outra couza me fiqua no corasão elle com sua omnipotensia me condene com maior aturidade do q meresem todos os peccado-res.

Com esta supposisão torno a dizer a V P q a mi me prenderão pello s officio quando estava tão inocente em dividas que lhe devesse como se pode alcansar do referido, e em 18 mezes q agonizei nas maiores ansias q jamais teve corpo naque-les trabalhos discursei donde me poderião nascer, pa que fazendo a humanidade seu effeito pudesse evadir a morte q tanto temia no estado em q me via, persuadindome q acharia mais favoravel a Ds culpado q aos homeis inocente, e em resolusão fis confissão daquillo q mais abominei nesta vida q quanto se pode conciderar nas primras daria entre pessoas ausentes, e q tinhão saido couza de 30 pecoas sem offender a viva criatura mas como estava tão ignorante na cauza de mas des-venturas como tudo hoje o estou (e Ds me he boa testta desta verdade) não pude contestar com as testtas) fis segunda confissão, da mesma laia culpando mortos e saidos a quem tambem não po-dia prejudicar, e pondo a boca em 4 pecoas q la estavão dentro, ao tempo de ma entrada persuadido q dellas me podião vir as desgracas mas nem ellas tinhão sido, nem lhes empecoo meu testimunho porq sairão como eu por mta carga q tinhão não chegei ao vivo, ate q vierão com lebello de deminuisão contra my, e na publicasão q me fizerão pedi tempo e lugar, e então soube q de 3 testtas q tive forão duas de Coimbra huã de 23 annos, e outra de 22 e ambas me culparão em ajuntamto de outras pecoas, (esteja Ds comigo e com ellas no mais apertado e rigurozo juiso de todos os viventes pa me perdoar a mi ou condenar, ou a ellas lhe dar a satisfacão de seus aleives) a tersra foi dessa cidade, esta alcansei por infalivel couza q foi hum cão inimigo q veio donde seus Pais estão aportatando a fee catholica, e acuzandosce no tribunal (q na ma opinião tão fingidamte como suas obras mostrão,) me culpou a mi, stomagado de ca lhe aver dito que dicesse so a verdade porq aquelles senhores somte essa querião; e foi tão desalmado q me culpou dizendo q naquelle mesmo tempo em q era notorio a todo o mundo q elle se hia accusar por cão perro judeo, eu me declarara com elle por tal, perem como eu estava tão inocente ainda q contestei com elle no delito q me imputei defferi no tem-po e fazendo discursso nos de Coimbra dei todas as pecoas q tinhão de la saido sem ate hai poder saber quem são pello divino misterio de Ds nosso sor e pellos santos evangelhos; emfim levarãome ao tormto, hum dia q me tinha banhado em sangue com deciplina, e estando quazi etico, nelle dei a meu Pai ecimas e mais parentes prezentes e auzentes, e não sei se poria mais a boca en alguem porq pello mesmo juramto que q nehua Lembranca me ficou daquelle acto por ser tal e tão medonho e rigurozo que priva a huma pessoa de seus sentidos: mas na q asento he q nehuã pecoa de negosio tenha sossobra de mi porq a nehuã offendi, sendo assi q computada a gente q refiro em q pus a boca foi muita

Duas irmãs mas q estiverão la somte mes e meio tenho por sem duvida q porião a boca em outras pecoas mas eu assi veja meu Pai com estes tristes olhos q dellas não tenho sabido couza alguma. e assim, digo V P que quem presumir de mi alguma couza me pon-ha as contraditas a mi e a ellas q lhe pareser ser q tudo o q ha tenho aqui relatado, e se in spesie me alembrara alguem o dicera.

quanto a dizerme V P q la ha rol, e q eu dicera mtas couzas a amigos e q dera liberdade pa se dizerem he falso, e mintirozo, e não pode aver tal no mundo porq o q ouve foi dizer por maior e geralmte que dera muitas pecoas e isto eu mesmo o digo aqui, mas q as specificara nem ha tal nem he prezumivel, porq eu temo e venero aquelles senhores, e eu so em suas auzensias nasi pa acreditar a pureza, a verdade e a santidade daquelle santo tribunal quada hum se fas assi o mal, porq aquelles senhores julgão pella verdade dos autos E procedem com extremos de mizericordia, E bigninidade, se bem he verdade q como Ds nosso sr lhes deu tanto talento, e o arbitrio de menistros tão doutos e graves e illustres, he tão largo pa regular o credito dos testimunhos pudera prevaleser mais a evidencia das obras q mtos mostrarão sempre tão encontradas ao q se lhe imputa e pudera ser maior huã enformasão q primra se tirasse não de todos mas de algums e vio estado e predicamto o pede, do q a assersão e tistimunhos daquelles q por cauza do lugar do tempo, e das ansias en q agonizão he creivel que por se livrarem delle farão o q a enponensia tem mostrado, e nestas mate-rias a prizão somte chega a ser a maior pte do descredito, e os Doutores asentão q a não pode aver nestes crimes senão com quasi a mesma prova q he neccessaria pa convenser. e huã das couzas q me confunde o enten-dimto e q tendo lido tanto nos direitos como aquelle q se tem cansado nelles mais, he que a maior pte daquelles penitensiados vai confescar vuluntariamte e nas confisois q fazem mostrão com evidensia q não podião ser judeos, e q o fazem timore carceris aut tormenti foneri e por se verem fora de traba-lhos; Porq, sendo perguntados em q Ds crião dizem q em Moizes; e q orasois rezavão dizem q todas as da igreja catholica singularizandoas, e assi digo eu se elles forão verdadramte judeos assi como confessão spontaneamte q o forão tambem avião mostrar nas confissois q erão judaicas, mas dizerem nellas couzas tão encontradas com o judaismo e q claramte denotão q nem o professarão nem sabem q couza he arguem pernascesse q são seus testimunhos quasi todos falsos; e daqui nasce como eu vi em mtos q hums ensinão aos outros o q an de dizer e eu estive com q dava duas caminzas a outro por lho ensinar e isto pa se verem fora daquelles trabalhos. e assi o arbitrio de menistros tão doutos ade regular estas confissois pello q nosso sor manda e o sto ensina e emquanto as couzas se não moderarem por esta via tudo acabara sem remedio, seja boa testta a experiensia, pois fazendosse computo de couza de 22 ou 23 cidades E Villas desse Reino donde ouve prizois não ficou huã so pecoa delles, e paresse q pa gloria de nosso sor avia de aver algua familia catolica e q não seria tudo podre, mas como a destruissão de tudo tem seu fundamto nas ponderasois q digo sera impossivel por forca humana darselhe remedio salvo for, não se dar credito algum senão aquellas confissois q en reiventese forem todas judaicas porq estas não se podem proferir senão donde ouve ter conhesimto do q se confessa e ainda ade ser separandosse cada pecoa em seu carsere, não se aceitando os primros 3 ou 4 mezes confissão algua porq nos prencipios ordinariamte esta a destruisão das pecoas. eu digo isto com zelo xpão e porq o sor inquisidor geral e mais senhores so querem q se descubrão verdades pa reconsiliar peccadores e pa q os inocentes não peresão mas sempre tudo o q aquella s menza ordena he o santo o puro e o verdadro. Sabe nosso sor a ansia com q vejo neste lugar e quanto dezejo tornarme pa elle porq avalio mais qualquer acsão catholica dos Portugeses q todas quantas ha nos castelhanos, aonde tudo he futil e aerio; se V P com seguransa me puder aver remedio na penitensia, e q me não vira mal dos aleives q la se contão de mi estimarei me anime a tornar a essa cidade porqto quem agorou sabe a differensa q tem das mais com isto espero a resposta desta e q V P me acupe em tudo o q ouver de seu servico gde Ds a V P


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