Visualização das frases 1657. Carta não autógrafa de António Fernandes da Mata para a sua irmã Antónia Fernandes. Autor(es)
António Fernandes da Mata
Destinatário(s)
Antónia Fernandes
Resumo
O autor comenta vários assuntos familiares, a carestia que se vive na colónia e a atitude de certos parentes. Agradece as lembranças enviadas, desabafa sobre o seu estado de saúde e refere o envio de açúcar para o Reino.
Texto: Transcrição Edição Variante Modernização - Cores
[2]
Irmã minha .
E da minh a alma
[3]
Não lhe encaresso o gosto , que recebo cõ novas suas , E saber que cõ esta idade pas
sa,sẽ achaques , sustentamdoa Deos ,
[4]
par a emparo desse dezemparo , porque
por ssi o yulgara , delhe nosso se nh or Vida par a que minh as sobrinhas cõ Vm passem
cõ mais alivio seus trabalhos , E lhes sirva Vm de bordão , ou palmatoria , que ain
da , que não dé temece .
[5]
De mĩ não sei , que relate mais que viver ja morrendo
[6]
E como
o Perdigão sẽ pena quatro par a sinco mezes pacei agora eu hũa viva dezen
quietassão , da ilha par a a cidade , E da cidade par a a ilha sẽ pareyar de dores cõ a ca
za toda revolta ,
[7]
tal que os medicos me dezempararão , porque não obedecia nada
o mal .
[8]
mandei chamar hũ negro Ervolario , que me deu hũas ayudas de tanta
Virtude par a o mal , que tinha cõ que deitei couzas pessonhen tas
[9]
E me acho a hũ mes par a
ca mui to aliviado enquan to se não torna a encher o saco ,
[10]
de todo o modo , par a a encomen
dar a Deos .
[11]
Izabel da costa dalhe Deos saude , par a poder soportar a carga que co
mo Deos da a chaga logo acode cõ a mezinha , passa cõ saude
[12]
E suas filhas E fi
lhos sobrinhos de Vm E tiverão gran de alegria de ver a de Vm E suas primas
conhecendo seu amor gratifacandolhe seu bom dezejo de sse comunicarem
de hoje por diante . pois que até agora o não poderão fazer .
[13]
rendẽlhe as grassas
dos mimos que vierão na boceta cõ tanta perfeissão , como de quẽ vierão ,
[14]
tão
bem escrevemos ao Padr e frei adyunto agradecendolhe o cudado , que tẽ dessa
caza , E dandolhe de tudo mill Louvores .
[15]
Minha filh a mais velha Mari a da fonseca
aqui a tenho en caza , que seu marido esta em Angola de todo esquecido de sua
caza , E perdido
[16]
de rremate , milhor me fora levalo Deos , par a tratar de a tor
nar a emparar , que estar , nẽ cazada nẽ soltei ra E minh a neta molherzinha , E hũ
menino
[17]
a outra filha Anna da costa , ja nos comunicamos cõ seu marido
ainda que não sei se durara mui to porque he hũa Bestafera
[18]
tẽ ja hũ menino , E
lhe morreu hũa menina ,
[19]
seu tio o Padr e Thomas Ribeiro acabou cõ elle
que viesse ella a ver a may a ilha que avia mais de seis annos a não tinha visto
E a mandou en companhi a de seu tio a ver a may /
[20]
dos Machos o mais velho mor
reo como ja lho mandei dizer
[21]
Antoni o da mata ha cete annos que se meteo no
Colegio , E estava na Bahia no curso
[22]
adoeceo , E não quizerão con
tinuace por não vir a dar en hũa tissica
[23]
estamos esperando por elle
que outros tantos annos ha que não o vimos .
[24]
João ainda se nõ meteo
Capucho que não tẽ idade E cuido que ja muda o parecer , dizendo quer
ser tãobẽ da Companhi a se o asseitarẽ ,
[25]
Paulo menor , E o neto insina
seu tio aqui na ilha .
[26]
todos se encomendão a Vm E a suas primas
[27]
Meu
primo lhes manda a todos sem mill saudades , pezaroso de não poder ser
o portador .
[28]
a rrespei to da pouca melhoria de seus achaques receandosse
meterse no mar , trata de tomar segun da cura que so dos brassos se queixa
[29]
juntamen te não pode cobrar os annos , que ha que serve nesta capella E com
mo o Cabedal não he mui to não quer deixar seu remedio .
[30]
Esta mui to agradecido assosterẽ Vms a cauza , sendo que o sobrinho não lhe escreveo
sobre isso nada , sendo que lhe mandou dizer o Padr e mill reprehensiois E a sua may , não lhe deferirão ainda /
[31]
A minhas irmãs reprehendo de
seu mau modo de irmandade , porque cõ suas parvoisses dizẽ que dezabafão commigo ,
[32]
dezabafei eu desta ves cõ ellas , E me parece não
me tornarão a escrever tolisses ,
[33]
poucos dias ha soube de tudo , que venderão fazen da retolos cazas , E negro , o qual mandarão dizer que lhe
morrera , E venderão a hũ Clerigo ,
[34]
agora se me mandarão chorar , que pagam aluguéis de caza
[35]
hũ filh o de Vicen te lobato me contou
tudo isto
[36]
E assi lho mando dizer , que ja que minh as sobrinhas são tão trabalhadeiras , fassão o mesmo .
[37]
Da esmola que mandava cui
dando eu seria como o lima ficavame devendo o mestre seis mill rei s de nossas contas ,
[38]
E porque tomei hũa sua divida de sento
E tantos mill rei s par a ca os cobrar por elle me disse daria a Vms La outros seis mill rei s , que erão doze , par a eu ca os pagar na vinda
[40]
nẽ deu os seis que promoteo , nẽ os que lhe ficarão na mão mais que os dois mill . E tantos rei s ,
[42]
Novas deste Brazill são hirse consumindo o estado cõ esta negra
bolsa , quãtdo achão assuquar de dous annos par a o levarẽ pello preço
que elles querẽ ,
[43]
andava os annos atras a quatro patacas E mais , E
agora o levão por sinco tostois E menos arroba ,
[44]
E como he fazen da
que se não pode guardar he forsa largala ,
[45]
não trazẽ fazendas
nenhumas
[46]
algũa vara de pano que apareceo de geito pedẽ a cruza
do E pataca e mea ,
[47]
E o demais da mesma ma nei ra apenas chegão
os assuqueres a sse poder vistir a caza
[48]
quer Deos , que nos não custa
o trigo dinhei ro o peixe tãobẽ , não
[49]
falta carne tambẽ barata
mas se com o trabalho dos negros , se não comprão outros en lugar
dos que morrẽ acabace tudo o que não tẽ as fazendas dellla .
[50]
novas
de Julião não ha Caminho , par a as saber ,
[51]
deve estar bem esquecido
que tẽ irmãs no mundo ,
[52]
a Angola vão navios de boinos ayres , mas
tambẽ aqui vierão os annos atras , E peçoas la da terra dentro
onde o deixarão ,
[53]
E Conhecerão sabendo vinhão par a ca , sẽ trazerẽ
carta sua , mas darẽme novas como estava mui to de assento , capellão
de hũa Confraria das almas , E todos os seus sinais ,
[54]
E o que me disse isto
he natural dahi bẽ perto pello zezere assima .
[55]
disseme yu
gara E perdera hum dia e par te da noite dinhei ro cõ que se po
dia comprar meo punhete .
[56]
quan do hia de Angola par a boinos ayres
chegou o navio a ilha gran de que sera daqui , como dessa terra a Lis
boa , E levando hũa encomenda , que lhe tinha mandado , nẽ isso qu
is deixar a peçoa , que me conhecia , E a levou consigo
[57]
E totalmen te
não veo a este rio ou a Bahia , por não fazer algũ bem a seus
sobrinhos , E irmãos , que o chegarão a sser gente !
[58]
Poucos dias ha
que procurando eu por João Vicen te ou peçoa que lhe levasse hũas
cartas que mui to depois das outras recebi que dizião no sobre escri
to a meu cunhado Diogo de morais me derão huas novas , tais
merecião meus peccados
[59]
bem se parece Vm commigo nesta par te
[60]
sabera Vm que sẽ temer a Deos , se cazou cõ hua viuva
que tẽ pai E paren tes todos os moradores na ilha gran de onde vive
o irmão , deitando fama que tambẽ era viuvo .
[61]
Levei as car
tas ao Viga ri o geral minhas , En que me encomendava minh a sobri
nha o fizece embarcar , E as duas da mesma fechadas par a que
as abrisse , E visse , E fizesse como pastor seu officio
[62]
fi
cou espantado E detriminado a o mandar vir prezo
[63]
Eu hei de fazer minh a obrigassão ainda que a justiças desta terra são da par te de quẽ mais da , assi seculares como Eclezi
asticas .
[64]
E tudo abafam mas não lhe rendo o ganho porque em o sabendo os parentes da molher , não sei se escapara cõ vida
[65]
Leve minha irmã iste trago cõ paciencia Pois que Deos assi o premite
[66]
do que nisto rezultar farei avizo na primeir a ocazião
[67]
Leva nosso amigo Lima hũa caixa de assuquar branco remetido o que der a Vm , cõ seu conhecimen to
[68]
elle fara o officio
de amigo , en segun do lugar a Manu el Rodr igue s Cabral cõ quẽ correrei daqui por diante , que o lima não tornara ca
[69]
Vm par
tira a metade do que render a caixa cõ suas irmãs Mari a tristoa E Catherina lopes ,
[70]
E perdoẽ a pouquidade que a von
tade he gran de
[71]
encomendẽme a Deos que he maior mimo que espero que enquan to elle me der vida cõ o que puder não faltarei a mi
nhas sobrinhas
[72]
escrevo 4 regras em recompensa das Largas relassõis que recebi a quẽ mandão sua tia E primas
Infinitas lembransas E saudades rendendolhe as graças pe
llos mimos , que estimarão en primeir o lugar as linhas , que são ca caras , E po
dres , E as agulhas que são prefetas
[73]
de que tudo ouve logo geral repar
tissão , não tẽ cõ que poder fazer dela outro tanto , que he esta
terra mui seca de mimos ,
[74]
Vindo o nosso padr e da Companhi a que estam
os esperando da Bahia todas as horas algũs rozarios de
contas ha de trazer ,
[75]
E hũs rozarios de lagrimas , que o Padr e frei
adyunto nos pedio , que tudo mandaremos na primeir a ocazião
[76]
se
Poderẽ por ordẽ do mesmo lima , ou Manu el cabral mandar hum
par de toalhas finas de rengo , a sua irmã sera gran de merc e
[77]
E
algũs botõis das maõs de minhas sobrinhas brancos
[78]
E aDeos
que não ha tempo ,
[79]
par a mais nosso se nh or nos de a ttodos huma
boa hora en que acabemos en san to san to serviço
[80]
E no entanto
espero sempre boas novas de minh a Irmã d alma , E sobri
nhas do Coração par a que cõ ellas de algũ alivio a minh as penas
cuyas peçoas Deos guar de Etc
[81]
Antoni o
fe rnand iz da mata
Do seu Irmão d alma
[82]
leva o lima farinhas e beiyus par a partir
cõ Vms E saberẽ do pão cõ que ca nos sosten
tamos
[83]
O lima nos comprou ca hũas caixas de assuquar minhas E de meu primo
E dara como lhe ordeno a quẽ Vm mandar seis mill rei s par a sapatos de
minhas sobrinhas E algũs beijus que lhe dei par a partir cõ Vm a nossa irmãs o mesmo
[84]
E perdoem a pouquidade que temos ca mui ta
falta de tudo ,
[85]
sua irmã lhe pede alẽ das toalhas , se suas sobrinhas fa
zem coizas de seda lhe mandẽ tambẽ hũ par dellas par a baixo das
toalhas .
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