PT | EN | ES

Main Menu


Powered by <TEI:TOK>
Maarten Janssen, 2014-

Sentence view

[1774]. Carta de Anacleto José Rodrigues para José Anastácio da Cunha, matemático e poeta.

SummaryO autor menciona encomendas que envia de Lisboa: chá e calções. A Inquisição resumiu assim o documento: "hua carta de Anacleto sem data em que lhe recomenda prudencia e paciencia depois de falar enigmaticamente em que tenha Fe viva, porem cubrindo hua palavra/ [?] esta nos faz algum piqueno obstaculo".
Author(s) Anacleto José Rodrigues
Addressee(s) José Anastácio da Cunha            
From Portugal, Lisboa
To S.l.
Context

Pequena biografia de José Anastácio da Cunha (1744-1787), preparada por Fernando Reis para a página "Ciência em Portugal" do Centro Virtual Camõeshttp://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/p7.html:

Matemático e poeta, nasceu em Lisboa a 11 de maio de 1744. De ascendência humilde, o seu pai, Lourenço da Cunha, era um pintor com alguma notoriedade, que passou um curto período em Roma de forma a melhorar a sua técnica. A sua mãe, Jacinta Inês, foi criada e recebeu educação elementar. José Anastácio da Cunha foi educado em Lisboa, no Convento de Nossa Senhora das Necessidades que pertencia à Congregação do Oratório. Segundo testemunhos do próprio Anastácio da Cunha à Inquisição, os Oratorianos ensinaram-lhe Gramática, Retórica e Lógica até aos 19 anos. No que diz respeito à Física e à Matemática foi um autodidata. Em 1764 foi colocado nomeado Tenente do Regimento de Artilharia do Porto e colocado na praça de Valença do Minho. O Regimento de Artilharia do Porto era constituído por uma maioria de oficiais estrangeiros, muitos deles protestantes, que influenciaram Anastácio da Cunha. Terá então aderido a ideais como a tolerância, o deísmo e o racionalismo, que vieram a integrar a sua produção científica e poética.

Devido à sua relação de amizade com os oficiais britânicos, aprendeu a falar inglês fluentemente o que, juntamente com os conhecimentos que tinha de outras línguas como o francês, latim, grego e italiano, lhe permitiu traduzir autores como Voltaire, Pope, Otway, Horácio, Rousseau, Holbach, Helvetius e outros. Pensa-se que foi neste período que aderiu à maçonaria, por influência dos seus amigos estrangeiros.

Em 1769 fez, a pedido do Major Simon Frazer, uma memória sobre balística, intitulada Carta Fisico-Mathematica sobre a Tehoria da Polvora em geral e a determinação do melhor comprimento das peças em particular, onde apontava erros e falta de precisão que encontrou em alguns trabalhos sobre artilharia. Em 1773 o Marquês de Pombal nomeou-o lente de Geometria na Universidade de Coimbra, na sequência da Reforma da Universidade levada a efeito em 1772. Anastácio da Cunha não encontrou ambiente propício ao desenvolvimento e aplicação das suas capacidades e após a morte de D. José I, em 1777, foi denunciado à Inquisição, preso em 1 de julho de 1778 e acusado de envolvimento com os protestantes ingleses em Valença, de ler Voltaire, Rousseau, Hobbes e outros autores perigosos e de corromper as gerações mais novas através da sua eloquência. Foi considerado culpado das acusações e excomungado, afastado do seu cargo na Universidade, dos seus títulos e viu confiscados os seus bens. Foi ainda condenado a participar num auto da fé e a ficar encerrado na Congregação do Oratório em Lisboa, após o que seria deportado para a cidade de Évora durante 4 anos. Foi ainda proibido de voltar a Valença e a Coimbra. Após dois anos nos Oratorianos a sua pena foi reduzida a residência obrigatória nos Oratorianos.

Entre 1778 e 1781 teve que se dedicar ao ensino privado para subsistir e em 1783 foi contratado pelo Intendente Pina Manique para o Colégio de S. Lucas da Casa Pia como professor de Matemática, tendo aí elaborado o programa pedagógico da Casa Pia. Enquanto esteve na Casa Pia concluiu a sua obra Princípios Mathematicos. Por volta de 1785-86 perdeu a sua posição na Casa Pia, por razões que se desconhecem. Morreu a 1 de janeiro de 1787.

O processo inquisitorial de José Anastácio da Cunha foi inicialmente estudado e parcialmente publicado por Teófilo Braga, António Baião e João Pedro Ferro: Teófilo Braga (1898) Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica portugueza. Tomo III 1700-1800. Lisboa,Typographia da Academia Real das Sciencias (pp. 611-636), António Baião (1924/1953) Episódios Dramáticos da Inquisição Portuguesa, Vol. II, Lisboa, Seara Nova (2ª ed.) e João Pedro Ferro (1988) "O processo de José Anastácio da Cunha (1744-1787)", in Inquisição: Comunicações apresentadas ao 1.º Congresso Luso-Brasileiro sobre Inquisição, Vol. III, Lisboa, Sociedade Portuguesa de Estudos do Século XVIII, pp. 1065-1086.

Sobre a vida e obra de José Anastácio da Cunha, consulte-se a edição de Maria Luísa Malato Borralho e Cristina Alexandra de Marinho (2001) José Anastácio da Cunha: Obra literária, Vol. I, Porto, Campo das Letras.

Support meia folha de papel dobrada escrita nas três primeiras faces; na última página da carta, que tinha sido deixada em branco, foram acrescentados alguns desenhos geométricos.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Coimbra
Archival Reference Processo 8087
Folios 42r-43r
Transcription Leonor Tavares
Main Revision Rita Marquilhas
Contextualization Leonor Tavares
Standardization Catarina Carvalheiro
POS annotation Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Transcription date2009

Text: -


[1]
Meo rico Jozé do meo Corasão
[2]
recebi a tua estimavel carta (em q me mandavas a pesa, e a ordem pa o Morão).
[3]
fora dos do dia do correio isto em huma quarta feira e suponho q ja era retardada, por iso como mediava pouco tempo ao correio, não tinha tempo pa te satisfazer as encomendas,
[4]
o correio pasado quiz satisfazerte e vim de Bemfica de preposeto a iso,
[5]
porem absolutamte não me coube no tempo. etc
[6]
emfim ahi vai hum arratel de bom cujo he de preso 1600 e na realide creio q gostarás dele, mas pa outra vez qdo quizeres mais mande me logo dizer a qualide de q o queres qorq vime perplexo sem saber q de qualide o quererias.
[7]
Vai hum calsão como encomendaste feitos polo lebau,
[8]
verás se vão ao teo gosto,
[9]
a meia duzia de botens; irão porq faltavão com eles
[10]
as meias irão em outra ocazião, não vão porq agora porq mandei ao Morão a carta; e ele dise q mandaria a caza o dinheiro, e q lhe paresia q era mais de huã peza.
[11]
Com q inda q ele mande, ou não elas irão
[12]
VSa Sinto a tua ausensia, tu o sabes, sinto a tua molestia, porem Vou ter pasiensia
[13]
meo amado amo não desmaiar, os projectos estão lansados, eu sou capaz de jurar q não falhão,
[14]
o ponto está em nos mesmos, em asentando absolutamte q ha de ser e vivermos constantes e com viva:
[15]
esta ... he q nos faz algum piqueno obstaculo, porem tudo se venserá havendo prudensia, e paciensia
[16]
Dame lembransas a tua Mãy e diselhe q o uzo do em Lxa os Medicos estão todos conspirados contra ele, e o café
[17]
aDs
[18]
dezejo saude como pa mim
[19]
agora ando milhor alguã e amenhãa pa Bemfica tomar banhos.
[20]
porem, venho todos sabados a lxa. e mando ao correio
[21]
não deixes de escrever.
[22]
aseita o C do teo Anacleto
[23]
a tua encomenda he cosida pela delicada mão...

Edit as listText viewWordcloudFacsimile viewManuscript line viewPageflow view