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Maarten Janssen, 2014-

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1593. Carta de Francisco Fernandes para destinatário anónimo.

SummaryO autor, um condenado à morte, renega a fé católica antes de morrer.
Author(s) Francisco Fernandes
Addressee(s) Anónimo435            
From Portugal, Porto
To Portugal, Porto
Context

Francisco Fernandes, preso na cadeia do Porto e condenado a pena capital, dirigiu ao abade da Sé do Porto, com quem se deveria confessar, uma carta onde renunciava à fé católica. O tribunal do Santo Ofício desvalorizou a declaração por considerar que fora feita na perspetiva de uma morte certa e optou por não atribuir pena. Ressalvou, no entanto que, em caso de comutação de pena, deveria ser informado para instauração de processo próprio.

A carta saiu do cárcere pela mão da mulher de um António de Andrade, também preso, autor da outra carta particular existente no processo (PSCR0083).

Support uma folha de papel dobrada, escrita na primeira face e com o sobrescrito na última.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Coimbra
Archival Reference Processo 483
Folios [5]r-[5]v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=2350138
Socio-Historical Keywords Tiago Machado de Castro
Transcription Tiago Machado de Castro
Main Revision Catarina Carvalheiro
Contextualization Tiago Machado de Castro
Standardization Catarina Carvalheiro
Transcription date2015

Text: -


[1]
Sõr abade da see
[2]
pois me disestes q me cõfesase a vos isto minha omRa ja esta perdida pois me fiz cornudo meu corpo pois a Justa me quer emforquar esta mto guanhado
[3]
pois ha allma levem na todos os diabos
[4]
a comfisãa q tenho pa fazer he a seguimte e he de todo coRacam
[5]
aReneguo da augoa do bautismo e do olio e crisma que Recebi
[6]
he quer me queymen quer me apedrejem vivo protesto de moRer na fe de cristo
[7]
amtes me pesa mto de certas misas q aqui mãdey dizer he de allgũas oRacois e esmolas que aqui tenho fto
[8]
he a causa disto he porq me premderam na igra
[9]
he porq eu sey q me valia e me tornarã ha ella faco isto porq eu sey como acomteceo ho meu caso
[10]
e por iso diguo q e na vdade q duas tas q me comdenaram dizemdo q de bertolameu treycam mẽtiram e juraram fallso
[11]
outra causa tenho a querer moRer fora da ley de xpo he e que Judeu amiguo meu me dise dia q crese em cristo porque os Judeus ho mataram por se fazer fo de ds mas q elle no eRa
[12]
e eu asi ho creo
[13]
outro Judeu me q as oRacõis q se Rezavam na tera q eRam ouvidas no ceo
[14]
he eu asi ho creo he bem as vejo porq se elas se ouviram tamtas como eu tenho Rezado não podeRa deixar ds de ser servido q a casa omde me a min prẽderam me valera pois se chama casa de ds
[15]
mas como diguo emtemdo ter cristo ese poder nẽ se sallvarem os q na sua ley creram
[16]
eu follguara de cheguar q vira esta tera chea de luteranos he as igreyjas deRibadas e q serviram d estrebarias pois ham de valer haos homẽs
[17]
e isto digo de coRacam
[18]
e de ve he esta a comfisam q tenho de fazer e outra
[19]
e mais me lembra que ouvi dizer a dois cleriguos q viram livro q dezia q nãa avia paraiso nẽ inferno e eu asi o creo e asino aqui de meu sinall
[20]
de xxij de novẽbro de 1593 anos
[21]
frco frz

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