Visualização das frases 1817. Cópia de carta de Francisco Quintino da Cruz, mestre de iate, para António Ribeiro Pessoa, negociante. Autor(es)
Francisco Quintino da Cruz
Destinatário(s)
António Ribeiro Pessoa
Resumo
O autor pede a compreensão do destinatário, patrão do iate que conduz, para os erros que cometeu, listando uma série de atenuantes. Pede perdão em nome das filhas e da defunta mulher do destinatário. Mostra-se tão desesperado que confessa sentir a tentação de se atirar ao mar.
Texto: Transcrição Edição - Cores
[1]
Senhor Antonio Ri-
beiro Pessoa
Bordo onze de Fe-
vereiro de mil outtocen-
ttos e dezassette
E dezassette
[2]
Infellis de todo aque-
lle homem a quem a des-
grassa fas timbre de per-
seguir ,
[3]
a sua prezença ,
sempre me foi agrada-
vel , eu o respeittei sem-
pre como a hum bom
Pattram e amavel Paỹ
em toda a partte espalhei
com o maior prazer as
boas quallidades do
meu Pattram sempre
Sempre incançavel
a dizer que homem
nenhum poderia ter
tam bom Pattram como
elle
[4]
sempre como tal
o respeittei , e amei , e sem-
pre em vossa Merçe
confiei com a maior
fé e com a mais firme por-
teçam de bom Paỹ nam
só meu mais tambem
de minha ttristte mulher
e tenros filhos .
[5]
Hoje po-
rem que se conttam onze
Onze do correntte qu
ando vossa Merçe te
ve- a bondade de chamar
me a sua prezença fi-
quei como mortto qu-
ando observei a sua
indignaçam , a sua in-
despoziçam conttra
mim e juro a vossa Mer-
çe Senhor Anttonio
Ribeiro Pessoa que te
nho impettos de matar
me e atirar commigo
ao mar .
[6]
Eu nam posso
Eu nam posso
negar ao meu Pattram
que commetti erros
porem o homem he su-
jeitto a erros ;
[7]
seguindo
as suas ordens eu me de-
regia para Almeria a cum-
prillas
[8]
porem venttos
conttrarios me fize-
ram abrigar por vezes
nesttas desgraçadas
abrigadas
[9]
mudaram to
das as circunstançias de
entteresses para estta Em
Estta Embarcaçam
[10]
Bons entteresses com
tudo tive eu arranjados
em Gibraltar os quaes
cubriam despezas e da-
vam bons lucros
[11]
porem
como pudia eu acau-
tellar huma conjura-
çam huma denunçia fal-
sa que transtornou e tirou
os entteresses arranjados
com tanto trabalho a es-
tta Embarcaçam
[12]
hum
denunçiantte costtuma-
do ja a viver de denunçias
De denunçias falsas
e verdadeiras foi quem
me quis lançar o fogo
[14]
nam sujeittei o seu Hia-
tte a couza alguma
[15]
asi-
gnei as lettras digo algu-
ma
[16]
nam asignei as le
ttras a que me queriam
obrigar por industria e
somentte tratei de correr a
prezença do meu Patram
porque hera o abrigo a
onde me julgava se-
guro e tambem para
E tambem para com-
binarmos as maneiras de
recuperarmos os perjuizos
destta viagem de cujos
avensos me julgo ca-
pas como ja mostrei
nouttras viagens .
[17]
Es-
tou como doido nem
sei o que escrevo e portan-
to só digo a vossa Mer-
çe que se compadeça não
tanto da minha humil-
dade como da minha tris-
te e afelitta mulher e
tenros filhos
[18]
eu lhe rogo
Eu lhe rogo pella
Alma da sua senhora
que Deos tenha em glo-
ria e pella boa sortte
das suas meninas que fa-
ça o que he proprio da
sua boa alma de huma
alma nobre e huma al
ma grande pois que
n'huma ou duas via-
gens vamos recuperar os
perjuizos e hiçar
[19]
esttas
foram as visttas que me
fizeram correr a sua
prezença , e do conttrario
E do conttrario nin-
guem sertamentte me
obrigaria a vir sacrafi
carme e a entregarme
nas mãos do meu Pa
ttram
[20]
a quem amo com
afecto e
O maior respeitto
[21]
e como
humilde creado e obri-
gadissimo
F Q da C
[22]
PS
Estta tarde fui cha
mado a caza da sau-
de e a Mi me apareçeu
E a Mi me apareçeu
Joze da Barca , com hum
Espanhol segundo elle
disse a pregunttarme pel
la agoardentte , a quem res
pondi o que devia se-
gundo a rezam e os toques
que me deram
[23]
Eu nada
temo porque a razam me
governa para com Joze
da Barca , e outtros assim
[24]
a quem temo he o meu Pa-
ttram porem assim mes-
mo vim buscar a sua
boa sombra
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