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Maarten Janssen, 2014-

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1720. Carta de Manuel da Anunciação, pároco, para um Inquisidor do Santo Ofício.

Author(s)

Manuel da Anunciação      

Addressee(s)

Anónimo508                        

Summary

O autor dá conta de vários casos de superstição de que tem notícia, ocorridos na vila de Sendim e arredores.

Text: -


[1]
Meo amo e meo Sr a saude de VM estimarei como o mais empenhado e q se queira servir da minha pte tenha algum prestimo.
[2]
Meo Sr perdoeme esta molestia q pela vossa amizade me atrevo mais com VM do q com todo o tribunal
[3]
Domingo ia da quaresma repeti a publicação do edital desse sto Tribunal como nele me he mandado, e o expliquei comforme a minha intelligencia;
[4]
e do pulpito declarei no discurco do sermão o q pude asim fazer pte da obrigação de denunciar como de meio pa isso q mta gente ignoráva asim hũa com outra couza, donde tem rezultado mta gente o encarregarme o onus de delatar o q sabem.
[5]
e asim peso a VM q o q pertençer a esse rectissimo e sto tribunal o haja por delatado,
[6]
ao q não pertençer me releve pelo q lhe meresso por amo
[7]
Pramte ha nesta minha frga huns peccadores cujas culpas não sei se pertençem ao Sto offo porq bem ponderados paresem suspeitos e sentirem mal das censuras.
[8]
hũa joanna Pinta de Aldea está excomungada ha tres ou coatro annos poré com alguns recurcos, se bem he sem qontumacia porq he por dro de hũa condenação,
[9]
e ella não tem nada de seo e tem la quando quer fazer Çessão de Bens, e não lhe querem Deferir.
[10]
Luis de Mages fo de Berndo de Mages do mesmo lugar de Aldea tratou de se casar com hũa mossa contra vontade de ses pais
[11]
sahiolhe este malliciozamte q tinha acistido em o Cotto das Salzedas e hindo la os banhos fes com hũa mossa de q lhe sahisse o q tudo la se julgou por falco,
[12]
nasceo daqui intentar o mosso cazarsse clandestinamte
[13]
nullo, motivo por q o pai o dezerdou;
[14]
denuncieio ao perlado, sentençiousse ha dous annos com excam Rezervada e pena pecuniaria e degredo,
[15]
declarousse e acim está
[16]
so o anno passado pela pascoa tirou recurco pa se confessar,
[17]
fas tam pouco cazo das censuras q tem dado em algumas pessoas por se desviarem delle e negarenlhe a comunicação;
[18]
e pa q elle não caze com a mossa o levou seo pai outra vés pa caza, e o trata e comunica, sem o querer tirar das censuras sendo rico, antes desprezandoas com escandal Com escandalo bastante do povo;
[19]
isto qdo pertença he publico e notorio
[20]
Item Dous benzedores ou comedores Agstinho Soeyro moleiro e outro Jozeph Rz da Corte nova são tidos e havidos paboulos,
[21]
e elles são huns bebados ja forão culpados na vizita
[22]
o 1o ia com dous e vo não sei se com so
[23]
sahirã condenados excomungados e Degradados,
[24]
tudo pagarão com dro e continũao fazendo curas supersticiozas tudo comun e notorio.
[25]
Sobre a revellação de segredo do sto offo ouvi dizer q os tempos passados viera certo comissario do sto offo, não sei quem, a villa de Longa a hũa deligca e tudo foi . q viera denunciar do Abbe sobre hũa illicitação, o q se vira fallar as ttas pa se acomodar o negocio
[26]
e dia destes depois de eu ler o edital me deu hũa sra D Franca minha fregueza e suas fas D Felicianna, e D Eugenia q nessa ocazião estavão moradoras em Longa, e q tudo isso la fora cheio, e q Luis da Silva, e barbeiro q chamão o baboza lhe dicera de de qts artigos se la perguntavão, mas q não sabião se tinhão sido ttas ou se o tinhão ouvido e q se ellas estavão obrigdas a denunciar me pedião ho fizessem pa descargo de suas consciencias.
[27]
Os dias passados me veio dizer por medo de queixa o thezoureiro das bullas Marces Riz de Sousa do lugar de guidieiros q Mel Rz galante do mesmo lugar sentia tam mal das bullas q dizia publicamte não servia senão de tirar dro e q hera bẽ tollo qm dava dro por huns papelinhos
[28]
e tanto asim q hera tezma ha sinco annos e nunca o dto galante tomara bulla so o an no passado pella pascoa pa o absolverem de testemunho falço q deo claramte
[29]
E sua mer e hũa fa a tomavão sempre .
[30]
o Pe Joachim Rz Castilho seo vezinho me pedio avizasse q asim o tinha ouvido ao dto thezoureiro.
[31]
Mandei chamar o homem pa lhe dar hũa correção fraterna como paroco mas elle vinha tam ensacado q trazia a bulla na algiba tomada do outro dia conforme dice por fora escrito bulla do anno de 720 do sr dizendo q dicera queixandosse de huns q lhe tinhão feito não sabia de q lhe servião as bullas de prizão qdo a esmolla de coatro vinteis e tostão livrava de quem quem furtava
[32]
finalmte do modo q ele deo o recado paressia sto Agostinho a explicar;
[33]
mas do mto q trazia estudado a direito o recado eu desconfiei, porq confessou q a mer e fa as tomavão sem elle saber e elle q as não tinha tomado os annos antes e dantes
[34]
e todos dizem mal delle
[35]
e nunca se confessa senão hũa vez no anno e iso no fim,
[36]
e o anno passado q tomei por trabalho examinar a todos da doutra e andou a pratica athe depois da pascoella sem xaber o credo e os misterios principais da nossa sta feé rezão por onde desconfio q elle dicesse e sentisse mal das bullas e das suas graças.
[37]
Athe que eu agora em nome das ptes Anna da Fonca mer de Mel Simão de sendim me pedio avizasse ao sto offo q Ma Frz de alcunha a maricota mer de Mel de Almda de Cabris tinha fama de feiticeira e q curava com pallavras, q lhe curara fo q se lhe queimou com hũas pallavras q lhe dicera logo ficara são,
[38]
e a hũa fa lha curara tambem de achaque dando com ella hũas vellas com as pernas pa sima dizendo hũas palavras mas q não sabia q pallavras herão
[39]
esta maricota so eu a denunciei em nome de Ma Soeyra mer de Berndo de Mages por semelhantes curas.
[40]
Anna fa de Simão Franco de Sendim dice sabia q a mesma Maricota curara com pallavras e em certos dias determinados a hũns fos ou nettos de Ma da Silva da mesma villa.
[41]
Ma fa do mesmo Simão Franco tambem dice sabia o mesmo q sua Irmã.
[42]
Mais diçe q Das Martins da mesma villa tivera sempre fama de feiticeira, e q seo pai tivera em hũa ocazião com ella hũa pelleia sobre tributo q lhe lancara e ella logo o ameaçara
[43]
e com efeito lhe fizerão logo feiticos q lhos curou clerigo das chãns com exorcismos,
[44]
e faltandolhe nessa ocazião huns pedacos de pano sua mai os fora achar dentro de hũa feronha cheios de penas e cozidos com fiado cru.
[45]
Joanna valenta mossa soltra moradora nesta villa dice q andando mto doente suspeitando serem feiticos, a sobredta sobre dta maricota sem ella a consultar, mas de crioza perguntandolhe como estava lhe aconcelhava foce o rio onde se ajuntavão as agoas em crus, e do sirco q a agoa tivesse junto enchesse saco, e q botasse pouco no lume com grão de e se defumasse nelle
[46]
q fizesse isto sinco vezes ou sete de noute q fosse por e q logo havia de saber q mal hera o seo pa se lhe procurar a cura,
[47]
mas ella como vio aquellas circunstancias, e q não havia de ser qualquer sisco senão daquella pte; q desconfiara e não fizera tal, mas veio ter comigo q lhe lesce os exorcismos, e sarou.
[48]
Das da Trinde de Aldea dice q hũa sua vezinha Ma Barradas mer de Miguel Dias tinha fama de feiticeira e q adoessendolhe hũa criança fa de sua sobra Ma lhe dissera hũa mer do Passo q hera pa se porem mal com a dta Ma Barradas q admitir a caza q logo havia de sarar a criança
[49]
asim o fizerão, e sarou mas mandarão lhe ler os exorcismos.
[50]
Ma fa de Mel gomes de Passo tambem dice ouvira este cazo e q sabe q o sobredo Jozeph Rz benzedor curara com panos bentos a seo tio Anto Martins, e a Dos gomes viuvo de de guidieiros.
[51]
Todas estas pessoas me pedirão fizesse estas denunciacois em seos nomes,
[52]
outras mtas pessoas me tem pedido o mesmo, mas não tive inda lugar de lhe tomar os ditos, porq alguns são de contos largos.
[53]
nesta minha frga e suas vezinhanças não pode deixar de haver mta couza de feiticeiros porq eu os tenho achados em mais de doze cazos.
[54]
Os benzedores qdo la pertença he sabido de todos.
[55]
Izabel de Lazaro mossa soltra do lugar de Aldea me disse hoje não delatava hũa cura de feitiços q lhe fizera hũa Ma de S Jozeph por medos bem superteciozos pa lhe ser feito por missionario Fr Simão
[56]
como eu tambem ja tenho amizade, e agora de novo ouvira dizer a Cna Rz mer de Jozeph Rz desta villa q Franco Alveres Irmão da dta Izabel de Lazaro lhe dicera q rezão q teve pa cazar com Izabel Pra sendo mer publica, foi darlhe esta pucaro de agoa a beber, e q logo lhe não podera fugir, não tendo athe li com ella nada.
[57]
esta tambem he infamada, e mais Irmãs e dellas tenho algũa denunciação q são as do q dis asima
[58]
não tenho inda os ditos.
[59]
e tenha pasiencia q mtas couzas bem vejo herão escuzadas, mas tenho feito concerto desta minha gente q tudo isto he nesro pa ver se descobre algũa couza,
[60]
e como eu estiver mais dezocupado escreverei e darei conta a vm a qm Ds gde mts annos como dezo
[61]
Sendim 2 de Fevro. de 1720
[62]
Eu cujo escrevi duas vezes a meza, e hũa foi por estudante, q tenho minhas desconfianças se a entregou a suposto me dice q sim eta.
[63]
A e Criado de VM; e todas as rezois subdito mais humilde Mel da Annunçiação

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