A autora recorre à ajuda do sobrinho para descobrir se o genro é bígamo, já que o destinatário viajava muito para Lisboa, e também para que, caso a suspeita se confirme, os seus outros filhos não deem um fim trágico a um possível encontro com o cunhado.
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Achegado tempo e ocasião sobrinho meo que me he
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[2] | força vallerme de vos, e de vosso amparo, para ô suçesso
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[3] | desgraçiado, que me estâ suçedendo, pois quer Deos que
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[4] | despois de tantas aflições quantas no decurso de minha
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[5] | vida hey tido, trabalhos, penas, mortes de meu ma-
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[6] | rido, e filhos, dous que morrerão ausentes nas Indias,
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[7] | que cauza mayor dor, tenha eu agora esta mais
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[8] | no coração, quando me acho ja com muittos annos,
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[9] | e sobrada de achaques, para que assy me falte mais
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[10] | depressa a Vida, pero emquantto Deos ma der, a porey
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[11] | em procurar o bem estar de meos filhos, e no que de
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[12] | prezente estâ suçedendo a vossa parenta minha
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[13] | filha Maria de a Cunha, de que vos dou contta, e
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[14] | assy digo que por Rasão do sitio de ceitta, e pelas mui-
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[15] | tas Bombas que aqueles infieis deitavão, e deitão em
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[16] | aquela cidade, obrigada distto, e de averme chamado
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[17] | meos filhos para esta cidade passey a ela, com a ditta
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[18] | minha filha, e netto seu filho, que se chama Bartho-
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[19] | lomeo que serâ de idade de sette annos, e com otra
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[20] | neta de otro filho que tenho em Malaga e estou aqui
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[21] | â catorze mesez com esta familia em companhia
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[22] | de meos dous filhos, Andre, e Miguel; Manuel
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[23] | diaz (aqui he toda minha penna) marido de
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[24] | minha filha (si acaso o he pelo que direy adeante)
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[25] | averâ hum anno que se apartô de nosotros,
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