O autor, padre, aconselha a destinatária a não tirar a sobrinha de sua casa, assegurando-lhe que não há razões para escândalo.
[1] | cauza reparo ao mundo: viver em companhia de huã mulher velha, de boa vida,
|
---|
[2] | e de todos sabida, a qual a criou; isto he q escandaliza qtos homes, e mulhe-
|
---|
[3] | res Ds criou! porq? porq esa mulher velha está em caza de hũ Padre.
|
---|
[4] | Pois o P não he confesor de ambas velha, e moça? pois huã May ainda de cre-
|
---|
[5] | ação não pode viver com sua filha, esteja a May, onde estiver, comtanto q não
|
---|
[6] | seja caza ruim? Pois não se supoem guardada, defendida, segura, livre de peri-
|
---|
[7] | go huã filha diante de sua May; ainda q na caza onde vão, estejão homẽs perdidos?
|
---|
[8] | Podese imaginar, q huã May de creação, mulher velha, mulher sta, mulher mto, e mto
|
---|
[9] | amte de sua filha ha de ser consentidora de couzas ruins etca Não he isto, o q
|
---|
[10] | estámos vendo em tantas cazas de Padres, sem nota, sem reparo, sem escanda-
|
---|
[11] | lo de pesoa alguã? Pois como so este Padre, q escreve, chamãdolhe todos bom, he
|
---|
[12] | o desgraçado, q o mũdo ha de praticar com ele outros direitos, os quaes o mesmo
|
---|
[13] | mundo não uza com Padre dos quaes não tem bom conceito? Ora o certo he
|
---|
[14] | q neste negocio anda Demonio solicitador, Demonio envejozo do bem das al-
|
---|
[15] | mas.
|
---|
[16] |
Dirá Vmce: estivese Clara com ma sobrinha; ou vivese ela em compa de seu
|
---|
[17] | cunhado; ou viese pa onde estão seus parentes. Ao pro respõda Clara, q he mto boa
|
---|
[18] | testemunha, a qual diz q não quiz, nem quererá; porq não he tola, pa estar morrendo
|
---|
[19] | a fome, e dezamparo; tendo de comer, e vestir, Mir Caza boa onde morar, Misa, e confi-
|
---|
[20] | ção a tod a hora, confeçor de caza, e interro feito. Ofereceuse Clara pa vir tratar
|
---|
[21] | de mim por hũs dias emqto ensinava o meu preto a cozinhar. Nunca o quiz en-
|
---|
[22] | sinar, nem se quiz ir de ma caza por mais q lhe dei a entender. Não quiz correr
|
---|
[23] | eu com ela podendo: porq sabia as necesides q pasava em compa de sua sobrinha;
|
---|
[24] | e porq não sou ingrato; e tirano visto o bem, q me servio, e amor, com q cuidou
|
---|
[25] | de mim, depoes q veyo pa ma caza. Estar sua sobrinha com seu cunhado, he o mes-
|
---|
[26] | mo q querer perder o temor de Ds: porq era tão sem cautela, q ouvindo-se tinha
|
---|
[27] | acto matrimonial com sua Irmãa, e fazia a vista de todos outras couzas inde-
|
---|
[28] | centes com sua mulher, sem aproveitar avizos etc. Bastava a caza andar revol-
|
---|
[29] | ta sem comer, nem durmir a horas eta pa q sua sobrinha não podese servir a
|
---|
[30] | N Sr em compa de tal cunhado. Cazamto, apartamto[ diz o ditado] bastava esta
|
---|
[31] | razão so, qdo não houvese outras mtas e mtas Ir pa caza de seus parentes ao pa-
|
---|
[32] | recer era mto sto, mas ponderado tudo, eralhe mto mto e outra vez mto prejudicial.
|
---|
[33] | Segure-me Vmce mta solidão, mto recolhimto, mta abstração de creaturas em caza de-
|
---|
[34] | seus parentes [sem o qual tudo não pode pasar sua sobrinha por ser chamada de Ds]
|
---|
[35] | segureme o sustento, e vestido lá [palavras, e promesas não são obras, e hũ deve
|
---|
[36] | acreditar mais obras, q palavras] segureme frequencia de sacramtos duas ve
|
---|
[37] | zes e tres na semana no mato, segureme hũ Director existente sempre no mato per-
|
---|
[38] | to, e capazisimo[ pois sua sobrinha carece comunicar Director com toda frequencia]
|
---|
[39] | segureme, q mudanças não prejudicão ao spirito, e tãobem mudanças de confesor[
|
---|
[40] | o q todos reprovão] segureme outras mtas couzas bem necesarias a qm trata de perfei-
|
---|
[41] | ção: e eu então lhe seguraria a ida de sua sobrinha pa caza de seus Parentes.
|
---|
[42] |
|
---|