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1602. Cópia de carta de João Nunes Baião para Isabel Mendes, sua mãe.
Autor(es)
João Nunes Baião
Destinatario(s)
Isabel Mendes
Resumen
O autor, preso, pede à mãe que lhe faça chegar livros, comida e remédios. Manifesta-se apreensivo em relação ao seu destino.
Texto: -
[1]
Bem sei q me he vm melhor mãy do q eu lhe sou fo, pois ate
esta Idade não prestei pa mais q pa a enfadar solto, e des-
honrar prezo,
[2]
e pareçe q querem meus peccados q eu ande
desfazendo em nossa honrra, o q os outros fazem, pois aqui
renovo chagas velhas,
[3]
e cuidar nisto me dá aqui mta pena,
[4]
o q Ds remedee, pa q fora daqui com sua aJuda restaure
tudo.
[5]
E a VM seja o q te gora não fui,
[6]
bem sei o q per mỹ
terá feito, e o q deseja fazer, e alembrei quem poderia fa-
voreçerme
[7]
Não dei nẽ de falar ao Crasto.
[8]
A cozinhra recea
mais do q deve, perq eu sei q tudo o q puzerã na bandeja me
darão, sem preguntar nada, ainda ainda q sospeite o velho
q vemde llá, perq assi mo dão a entender.
[9]
Mas saiba eu da
Saude
Saude de VM, e o mais não tenho
[10]
de que está doente me diga
Minha snora
[11]
Do Natal pa qua vi algũas vezes hũa conser-
va ralada q conheçe, mas veome em migalhas, e a conta da
minha Ração,
[12]
E assi foi hũs bocados, perq a conta de hũa
Ração pedi algũ doçe per o desejar, e mais folguei com
a ralada,
[13]
Hũa Lima q nẽ era pouco fermoza me derão
per hum pão q pedi antes da quaresma
[14]
melhor o faz a moça
q hé de mto recado, e per tal a namorara se pudera,
[15]
e per isso
lhe chamarei dama que lhe estou mto obrigado,
[16]
pessalhe q me
dee mais papeL mtas vezes, perq assy como este veo vem
bem,
[17]
e delho VM E tudo o q lhe fizer hé bem empregado,
[18]
E q
tanto q achar o meu esCrito me faça sinaL com algũa folha verde
Inda q seja de figueira no pão per me tirar de cuidados,
[19]
e
folgara de saber per onde sabe ella de minha saida daqui,
perq eu assi o cuido perq corrẽ comigo despois q veo a nao,
mas fazẽme espantar cõ medos, pello q he tempo de me enco-
mendarẽ a Ds, e a virgem principalmte, a q está en sancto
Amaro com algũa missa.
[20]
Minha Irmã hé sua vizinha,
[21]
E ao
Spirito Sancto q me dé consoLação, paçiencia, esperança
E constancia, e me livre das tentaçõis do Demonio q me
quer deitar a perder de todo,
[22]
e agora mais ao cabo me tras
cuidados pa desesperar, perq me acha Imaginativo, e fraco,
E ociozo,
[23]
e per isso Roguei a meza q mandasse Ler per
hum Livro
[25]
se forẽ delhe hũ Livro maior de todos
Latino de couro q tem no principio esta palavra, catalogus,
em Letra grande, perq emquanto Ler não imaginarei.
[26]
mas
não sei se mandarão per elle.
[27]
portanto se esta minha dama poder
darme esta consoLação de hũ Livrinho Latino preto comprido
E estreito
E estreito Ja velho q tem hũas pastas, E hé largo de quatro
dedos, q hé de oracõis, e tem no principio esta palavra, me
parece, orationes, agradecerlheei mto.
[28]
Imaginei q podia vir
no prato cuberto de arros: ou d outra manra antre dous pãis des-
miolados,
[29]
se digo mal perdoeme perq o desejo me faz isso,
[30]
E se
per erro vier outro per elle não me pezaria.
[31]
pera isto era bem
o Bicho, e mais perto, E quasi de mão a mão, e pera tudo era
proprio,
[32]
mande saber delle per amor de Ds.
[33]
Mais Livros espera-
va eu de portugaL, e hũs versos q mais estimara
[34]
espero em Ds,
e na virgem dos Remedios de ver, e gozar de tudo mto çedo;
[35]
Bem
podera ser mais Largo o seu pois sobejou campo, e dizerme das
minhas fazendas, e amigos e o mais.
[36]
Bem sei q não tive maior
Amigo q o pe per sua virtude sem meus mereçimtos, mas folgara
de saber dos outros, e ainda dos inimigos se puder ser,
[37]
E como
passou o fradinho com o q lhe fiz pa as indoenças, o pe o sabera.
[38]
Pezame da sua doença, mas sera acustumado dos companhõis
[39]
Mandeo vizitar, e q me ajude com suas oracõis.
[40]
Não deixei
de espantar de tardar tanto o meu antes de ir Lá q farão mais
de quinze dias,
[41]
per isso ao menos saiba eu q passou bem
[42]
da-
quella snora q está en sancto Amaro sou mto devoto, e servo,
[45]
Da cabeça q me doe mtas vezes me
acho maltratado, e achome bem com o bom cheiro.
[46]
Minha
Irmã me mande algũa pastilha, ou outra couza se puder ser,
nũ pão, e hũ pão de tinta de china, q inda se achara algũ en
Caza meu.
[47]
per agora não digo mais senão q fiquo esperando
A mãy de Ds, E as consoLaçõis, e bons conselhos de VM a quẽ
Nosso sor dee a saude, e vida q lhe eu desejo, e peço, e me
encomendo en sua benção
[49]
Mandeme
hũa Roza en sinal de ver esta
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