Contexto | Vivia-se o reinado de D. Miguel, rei que desenvolveu um vasto aparelho de espionagem (visível aliás na correspondência para o ministro da Justiça) e cujos métodos repressivos ficaram célebres. O ambiente de perseguição encheu de presos as cadeias de Lisboa e muitos aí pereceram, como os liberais Pedro Melo Breyner e Manuel Borges Carneiro. Mais modesto era o réu deste processo: a Guarda Real da Polícia, depois de recebida a denúncia anónima aqui publicada, prendeu prontamente o denunciado, Manuel Luís Pereira, caixeiro de armazém de vinhos (taberneiro) e deu parte dele à justiça. No processo está incluído, como prova sobre a qual o réu foi interrogado, um exemplar da Carta Constitucional (Lisboa. Na Impressão Regia, 1826). O processo inclui um documento ("Parte da Guarda Real" de 8/1/1832) em que se relata a atuação dos guardas: “Em consiquencia de huma annonima que hontem foi emtregue ao Commande. da Guarda da Praça da Figra. pr. hum indeviduo q. logo se retirou, na qual o delinqte. é acuzado de dezafecto a sagrada cauza da rialeza, o fiz prender hoje pelas 6 horas da mmanhaã no mencionado armazem, pelo sobredº. sargento, cabo, e soldºs., sendo-lhe emcontrada em hum armario q. tem no indicado armazem a carta constitucional impreça, a qual como a mmª. annonima, e delinquente, faço apprezentar a Va. Sa. q. determinará o que for servido.” O réu reclamou sempre a inocência, mas teve por pena sair de Lisboa e recolher-se à sua terra de origem, Valadares. |