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[1824]. Carta de Cândido de Almeida Sandoval, publicista, para Manuel Isidro da Paz, major de milícias de Setúbal.
Autor(es)
Cândido de Almeida Sandoval
Destinatario(s)
Manuel Isidro da Paz
Resumen
Cândido de Almeida Sandoval agradece o apoio do amigo Paz e informa-o de que conheceu pessoalmente o Conde de Sabugal.
Texto: -
[2]
Não obstante hachar-me conformado com a
sorte q me estava
destinada e tão conforme q
tinha até certo dó, de
todo o homem
q não estivesse como eu
e pelos mesmos motivos degradado
pa os presidios
d' Anconche: Não obstante, digo, certo natural, onde,
em mim mesmo, encontrava ideias fortes e
consoladoras, tão necessarias pa supportar
com
serenidade d' espirito infortunios de tão grande
monta:
[3]
Não obstante emfim, a
grande
provisão de raciocinios filosoficos de q esta
va monido pa resistir
a quantos males me
accomettessem, inclusivo a mesma morte;
[4]
Que differença tão sensivel,
é a q experimento,
entre beins de opinão, q artificialmte eu
me
formava, e beins reaes q mui positiva
mte me preparas Amo
meu?
[5]
Mui bem principiado acho o nosso negocio;
pois se a Providencia não me abandonna
inda por
esta vez, penso q a Justiça não será tão lezáda
em minha pessoa como
se receava: nem a hu
manidade terá q gemer dos barbaros e injustos cas
tigos
q tão iniquamte me estavão destinados.
[6]
Eu conheço o
teu Illtmo Amo Sabugal; é Fidalgo
de Juizo e instrucção:
[7]
em
tempos mais felises con
corri com esse Fidalgo, na Caza d' Alorna,
na
de Fronteira, e mesmo em sua propria
caza:
[8]
porem o conde ja éra literato qdo
ape
nas eu, sabia montar á ginête e andar
ao léme dos botes:
[9]
a ultima vez q me
encon
trei com esse Fidalgo foi em Madrid, em 1808.
[10]
ao momento de minha fatal queda,
occasio
nada pela revolução d' Aranjuez;
[11]
o Conde o sa
be, a não ser esse desastre,
hoje estaria eu
mui felis, pois então ja o éra.
[12]
Comtudo,
eu conheço, e conheço mto
quazi todos os gran
des de Portugal nossos contemporaneos: mas
tão convencido
estava eu de minha innocencia q
nem
um só encommodei a respeito
da cauza q se me formou
persuadido, q o exemplo de Cambise, faria
tremer a meus Juizes; pois inda q elles não
receassem ser
pellados n'este mundo, no
outro, se a fé não nos engana, poderião
mto bem ser postos ássar por
uma eter
nidade; no cazo q
me condamnassem
injustamte como o fizerão!
[13]
Depois de sentencia
do á morte cívil, suppos ja
não teria lugar
pe
dir misericordia;
1o pela
repugnancia q tenho a affectar o medo,
2o por calcular q pessoa
alguma se enteressaria por mim depois
de morto, não o havendo feito emqto
eu vivo
estava:
[14]
eis o motivo
q me desviou
da vereda trilhada pelos prettendentes
supplicantes
e requerentes; e me
traria inda extraviado,
se por accazo não houvesse tão felismte
barrado com
o méu Amo q no Mundo
tive e tenho, o
ql (por sua encomparavel
generosidade) se própôs a mudar
mi
nha sorte, a mais terrivel sorte, q neste
seculo haja tocado a
Portugues algum.
[15]
Não posso saçiar-me de agradecer-te todos
os
benificios q me fazes;
[16]
um abraço méu
appertado, de
minha parte pode bem ser, fosse a
este
respeito, mais eloquente pa ti, q o mesmo
Cicero.
[17]
Se ha alguma boa noticia cá a
espero?
[18]
Que
me dizes desses mariolas q
me roubarão
[19]
To pa soccorro
q me destes estas!
[20]
O Tal Joze Pedro, é tão grosseiro q vindo á Cadea ver
o
Fonceca, inda não se servio darme a menor sa
tisfacção:
[21]
e Fonceca mesmo, não appareceo aqui mais
[23]
PS O laconismo
de teus bilhetes, nem por isso
me impõe silencio: nem me serve d' exemplo.
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