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Maarten Janssen, 2014-

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1751. Carta de António de São José, padre, para António Álvares Guerra, comissário do Santo Ofício.

ResumoO padre António de São José escreve ao comissário António Álvares Guerra para transmitir uma denúncia de bigamia.
Autor(es) António de São José
Destinatário(s) António Álvares Guerra            
De América, Brasil, Olinda
Para S.l.
Contexto

Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.

Suporte meia folha não dobrada escrita em ambos os lados.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa, Cadernos do Promotor
Cota arquivística Livro 305 (Caderno 113)
Fólios 103r-104r
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Clara Pinto
Modernização Catarina Carvalheiro
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2008

Texto: -


[1]
Snr Rdo Dor Anto Alveres Guerra
[2]
A este nosso Convto do Carmo de Olinda, veyo buscar me Anto da Costa Gomes, conduzido de Paulla Rodrigues, crioula forra, cazada, moradora em Beberibe, e criada em caza de meus pais, a quem batizei hũa filha, por nome Ma da ConCeisam;
[3]
e este foi o motivo de Recorrerem a mim, a darem me parte, do imfelix estado em q estava a da sua filha, e afilhada minha;
[4]
pois Reputando a cazada com Mel de Andrade, Crioulo forro, e filho das Alagoas; agora pela individual imformasam, q da o do Anto da Costa, morador tambem nas Alagoas, vem no ConheCimento de q o estado em q esta a da sua filha, he de amancebia; porq o do seu genrro Mel de Andrade, he cazado, e tem a molher viva, como atesta o mesmo Costa como testemunha de vista;
[5]
e posto q sua filha se Recebese a facie da Igreja com o tal crioulo Andrade, na frega da S , desta sidade; ex vido primeiro matrimonio o segdo he nullo, e a da pobre queichoza, se acha danificada no estupro q lhe fes em sua filha o do Andrade ato de matrimonio:
[6]
porem como me não acharam neste convento, porq por hora estou asestindo por Missionario dos Indios Aldiados na missam de S Miguel do Sery, deicham me o papel, q Remeto encluzo, q he hũa certidam, q passou o Costa, expondo com endividuasam, tudo quanto sabia na materia; e he do Teor segte
[7]
Certefico eu Anto da Costa Gomes morador nas Alagoas na Povoasam do Norte frga de S Luzia, q conheso verdadeira e fielmente a Manoel de Andrade natural da da frega e fo legitimo de Anto de Andrade e de sua mer chamada Anna,
[8]
e o do Mel de Andrade tem dous irmãos hum por nome Anto e outro por nome Phelipe,
[9]
tem mais hũa irmãn por nome Anna, e todos sam naturais da mesma frega
[10]
este Mel de Andrade he cazado na sua frega com hũa crioula por nome Luzia q foi escrava de Joze de Mello Tavares e de sua mer Izabel Clara, a qual crioula foi vendida pa a sidade da Ba e a comprou o Pe Anto Lopes e este a tornou a vender no Reconcavo no Rio de Joannes a Joam A João GonCalves
[11]
e eu a vi e falei com ella propria em pessoa em sincoenta,
[12]
e como todo o Referido asim passa na verdade, asim o jurarei nos Livros dos Stos Evangos se asim me for perguntado-
[13]
e aqui esta asignado o do Anto da Costa Gomes.
[14]
Vindo pois eu a esta sidade pella somana santa a pregar no nosso convento o Descendimento, achei esta Certidam em Carta fichada pa se ma Remeter a qual vendo a mandei chamar a da minha comadre queixoza pa melhor me emformar da materia
[15]
veyo ella, e lavada em lagrimas me dise q tivera aquela noticia mto por acazo pois pasando pelas cazas em q vivem em Beberibe o do Anto da Costa, e vendo ao seu chamado genrro Mel de Andrade o salvara com demostrasõis de amor, e conhecimto antiguo,
[16]
e por cauza da chuva o do viandante se demorara na tal pouzada;
[17]
porem q o tal Andrade talves porq a sua conciencia o acuzava, fes se logo hido pa a Rossa, e se despedio apresado, sem temer o Rigor de agua, q emtam cahia:
[18]
depois de ter o do se hido de caza perguntara ella sogra, ao pasageiro sua merce de honde era, e ouvindoo dizer q era das alagoas (de donde seu Genrro era natural) perguntoulhe se o conhecia, mto bem e lhe foi dando a emformasam supra, com a qual ficou ella mais morta q viva, e pelas lagrimas q derramava precizouze o Costa o perguntarlhe o de q chorava?
[19]
ao q a da Respondera; pois não hei de chorar ouvindo dizer a Vmce q o Snr Mel de Andrade, he cazado, e tem a mulher viva se elle esta cazado com minha filha
[20]
della tem filhos
[21]
do q mto se admirou o home, e ficou escandalidado de tal aleivozia;
[22]
e asim Rogado este se determinou a vir com a quichoza a minha prezença, e por me não acharem no Convto me deicharam o papel q encluzo e tresladado Remeto a Vmce como o comissario q he do sto Tribunal pa q segdo as obrigasõis do seu offo melhor se emforme e exzecute o q deve segdo o menisterio q emcumbe q eu nesta materia não sei mais do q o q exponho
[23]
isto faso sem amor nem odio mais do q Por hum mero zello,
[24]
e asim não testefico ser verdade o deduzido na certidam porq não conheso de vista ao testificante mas ouso dizer q he home verdadeiro, e como o q sertifica he com tanta individusam pelas sircunstancias expostas podera Vmce emformarse da melhor serteza.
[25]
Tambem advirto a Vmce q o sujeito denunciado he de capa em collo e poderâ fugir se tiver alguã noticia pela qual Rezam boa era a seguransa,
[26]
Vmce obrara o q for servido como acerto q costuma em todas as materias.
[27]
Fico Rogando a deos pella vida e saude de Vmce e o mesmo Snr o gde como dezo
[28]
Carmo de Olinda 30 de Abril de 1751 De Vmce Humilde subdito e Reverente capellão Pe Anto de S Joze

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