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Maarten Janssen, 2014-

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1750. Carta de Miguel de Ataíde Corte Real, religioso, para António Ribeiro de Abreu, mestre e inquisidor.

ResumoO autor comenta com o destinatário várias notícias recentes, bem como o papel da Inquisição na proibição de livros. Refere um "primeiro-ministro" acabado de eleger.
Autor(es) Miguel de Ataíde Corte Real
Destinatário(s) António Ribeiro de Abreu            
De Portugal, Faro
Para S.l.
Contexto

Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.

O conjunto das quatro cartas com os códigos CARDS2058, CARDS2059, CARDS2060, CARDS2061 tem sempre referência a livros proibidos e a suspeitas sobre o bispo do Algarve.

Suporte duas meias folhas de papel não dobradas, a primeira escrita nas duas faces e a segunda apenas no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa, Cadernos do Promotor
Cota arquivística Livro 302 (Caderno 110)
Fólios 188r-v e 189r
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Ana Rita Guilherme
Modernização Sandra Antunes
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2008

Texto: -


[1]
Snr Inquizor Antonio Ribro de Abreu
[2]
Meu amo, e meu Snr de toda a minha vene-raçam, e affecto:
[3]
a carta de VS me chega assistida de tantas consolaçoens, q me faz esquecer do mesmos trabalhos, q nam posso deixar de sentir.
[4]
qra Ds con-tinue a esperada felicide, em q eu me seguro, se for certa a nota da eleiçam de pro Ministro, q aqui se rompeu este corro
[5]
Ja avizey a VS do recado, q o meu Bispo me mandara sobre os livros, q se lhe dedicáram, e materias, q continham:
[6]
e hontem á noyte com o sugeito, q me troxe aquelle rando me torney a certificar,
[7]
e ratificou o mesmo dito, o qual nam so mo disse a mim; mas tambem o publicou na Sacristia da Igra de S Pedro diante do seu Prior, e outros clerigos, q aqui me vieram dar o parabem da nova correspondencia, q o meu Bispo comigo travava; pois me mandava participar aquellas materias pa a minha consolaçam.
[8]
Tambem hontem me vizitou meu vizinho o Sr Thezouro mor coadjutor, q he comissario do Sto Offo, e par amo dos sobros do Bo, e me affirmou, q estes lhe disseram qual era a matra dos livros dedica-dos a seu Tio, e q tambem ja se sabia, q o seu autor era o celebrado gusmam.
[9]
Tambem ja me parece, parti-cipey a VS o q comigo passou o Rdo Pe Dr Fr Manoel de Sta Ignez Religiozo Agosto descalço, e qualificador do S offo
[10]
e este me disse, q o meu Bispo mto antes de haver este rompimto no Reyno da chegada dos livros fallava nelles.
[11]
As mais notas nesta matra todas ao meu parecer erradas nos accidentes chegam dessa corte; mas no essencial das matras comprehendidas na impressam uniformes com as vozes sahidas do Bo, e dos seus domesticos
[12]
e dezejára eu poder dar no trapo deste novelo, e q se dezempeçára es-ta meada, q nam serve mais q de chaguear as conci-encias, e de fazer odiozo o Sacramto da Penita, e faltar-se totalmte ao respto da jurisdicçam Pontificia
[13]
Porem Deus, q consente e nam pa sempre, poderá com o proporcionado instromto do novo, e ditozo Rey cortar tantos nós cegos, pa q se fique vendo clara a luz da colocada no can-delabro aureo do S offo;
[14]
q eu todas as minhas per- perseguiçoens dou por bem empregadas;
[15]
e nem temo as mayores na segura da minha innocencia e no mo-tivo detestavel, q a tyrania tomou pa nos vexar sem mais cauza pa o seu odio
[16]
q o amor, q conhece arde em nossos coraçoens ao respto do S Offo;
[17]
e emqto me durar a vida, e Ds me nam tirar este pouco talento, q me deu, o hei de sempre empregar na defensa do devido acatamto, q se lhe deve.
[18]
Dezo a honra de servir a VS pa o q offereço rezignada a minha vonte
[19]
A pessoa de VS ge Ds ms ans
[20]
Faro 11 de Agto de 1750.
[21]
De VSa Fiel Ao e o mais obrigado Criado Miguel de Attayde Corte Real

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