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1673. Carta de Maria de Sá para um membro da Inquisição de Lisboa.
Author(s)
Maria de Sá
Addressee(s)
Anónimo118
Summary
A autora acusa Frei Matias Pereira de ter aproveitado a sua confissão para uma agressão sexual.
Text: -
Snors inquizidores
Apostolicos
Obriguada da minha consiensia q trazia
carreguada comoniquei com o meu confesor
pesoa grave e douta o cazo de q dou conta a
Vmes e he o seguinte pedindolhe me dese o reme
dio conveniente asi a minha consiensia como a
minha opinião por ser como sou hũa mosa don
zela nobre que vivo maiores cõ os meos maiores
e me não foi nem será posivel Remediarme nou
tra forma neste cazo
que avera seis ou sete annos pouco mais ou menos confesandome em huma
irmida qde huma quinta q tem os frades grasia
nos de s aguostinho em algdeia gualegua donde sou
natural a hum frade desta mesma ordem o qual mora
va neste tempo nesta mesma quinta o qual religuio
zo se chama fr matias pereira natural da vi
la de alcouchete sendo eu de de idade de vimte annos
e confesandome a este confesor q aqui declaro em
confisionario sem devizam por não se ofereser ou
tro comodo o dito meu confesor deixandose esqueser
de sua obriguasão do estado e do lugar santo e sagra
do no mesmo auto sacramental e munto contra minha
vontade e cõ repunansia que fis quanto dava hũm lu
gar publico ele afagandome tentado do seu torpe
apetite me tomou as minhas mãos entre as suas e
forsejandomas mas pos em as suas partes humanas
e lasivas e satisfes seu danado apetite sem eu me po
der livrar de sua torpe violensia por aver na dita
irmida gente q poderia entender alguma couza
contra minha opinião estado e calidade
e como mini
na me foi forsado consentir em tal e tão torpe delito cõ
mto pezar do meu corasão
e dando conta dele ao meu confesor ele me aconselhou devia
de dar conta a Vmes por ser materia tocante ao s ofisio
so pena de escumunham
e me dise q dese conta em confisão
ao meu parocho escrevendo esta carta a Vmes
asĩ o fis
e lhe dei esta carta pedindolhe mto que como meu pastor ma
encaminhase a esse tribunal cõ todo o segredo q comvem
porq eu não poso nem por rezão de meu estado e qualida
de e de meos maiores poderei Remediarme doutra manra
pelo risco a q me pexem
e tudo o q aqui diguo de mi-
nha letra e sinal afirmo e juro pelo juramento dos
santos evangelhos como se nese tribunal me fose dado
Vmes serão servidos aver respeito a estas rezois e se hei em
corrido em algũa excumunhão por esta mesma via
espero o Remedio de minha alma pois esse tribunal
he de justisa e de justisa de miziricordia
escrita em
aldeia gualegua de ribatejo em vinte e sete de marso de seis
sentos e setenta e tres annos
e este delite não foi come
tido mais q hũa ves
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