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Maarten Janssen, 2014-

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1720. Carta de Tomás Francisco, padre da Congregação de Braga, para um padre não identificado.

ResumoO autor pede ao destinatário que tome providências em relação a um caso de um estudante suspeito de pacto com o demónio.
Autor(es) Tomás Francisco
Destinatário(s) Anónimo522            
De Portugal, Braga
Para S.l.
Contexto

Processo relativo a Giraldo Nobre Ferreira, estudante de Teologia, solteiro, filho de Domingos Francisco Ferreira, mercador. Giraldo Nobre Ferreira era natural de Caminha e aí residia, tendo sido preso no dia 02 de Junho de 1720 sob acusação de feitiçaria. Terá escrito um bilhete que foi parar às mãos de Manuel Lobo que o entregou a Tomás Francisco, padre da Congregação de Braga, o qual diligenciou para que o estudante viesse a ser acusado. O réu confessou que escrevera o bilhete, mas em mais nenhuma ocasião invocara o diabo. Referiu que na ocasião em que o escreveu, estava com «ânimo de fazer o que [o diabo] lhe pedisse, exeto o dar-lhe a alma». O réu confessou também que o «ânimo» de escrever surgiu porque queria chegar a uma mulher sem o conseguir. Foi condenado ao degredo por cinco anos para Castro Marim.

Suporte meia folha de papel escrita no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Coimbra
Cota arquivística Processo 8018
Fólios [21r]
Socio-Historical Keywords Rita Marquilhas
Transcrição Ana Guilherme
Revisão principal Rita Marquilhas
Modernização Rita Marquilhas
Data da transcrição2009

Texto: -


[1]
Illmo Sor
[2]
Aos vinte e hum de Outubro de 1719 me entregou Mel Lobo Viegas morador no Rocio da Rua Verde, debaixo de todo o segredo o escrito de que se trata; pa que eu lhe aconselhasse o que devia fazer, ou denunciasse se fosse justo.
[3]
Aceitey o di-zendolhe que tornariamos a fallar:
[4]
veyo despois a esta Congre-gaçam, e me affirmou que este escrito aparecera em sua ca-za em que morava de prezente (e de antes nella tinha mo-rado o que vay assinado no escrito) e o achara sua mer no meyo da sala estando a caza limpa e despois barrida mtas vezes
[5]
e o dera ao marido cuydando ser outro papel porventura lhe cahiria do bolso.
[6]
Mais me disse que conhecia de vista ao tal sogeito que era estudante de alta estatura, e morava na Crus da Pedra.
[7]
Eu porque lidei alguns annos com o dito Mel Lobo Viegas quando foy meu discipulo, nam deixei de recear ser isto alguã invençam. E assim me rezolvi a nam de-nunciar logo, sem fazer algũa diligencia em materia tam pe-zada.
[8]
Pello que aos vinte e dous de Outubro, que foy o dia seguinte, escrevi ao Pe Manoel de Mattos organista da , por cuydar que de prezente morava no mesmo bairro, como mo-rava quando me recolhi pa esta Congregaçam, e juntamte por-que era servo de Deos, esperava (nam porque o tinha servido) me fizesse o que na carta lhe pedia,
[9]
convem a saber: noticias do so-geito, sua letra se fosse possivel, vida, e costumes;
[10]
o que tudo me reme-tesse na minha carta debaixo de todo o segredo.
[11]
E porque a respos-ta se demorava, falleilhe declarandolhe debaixo do mesmo segredo, e juramto a relevancia da materia.
[12]
delle ouvi que o sogeito era de maos costumes.
[13]
Mas porque a resposta prometida athe gora se me nam deu (sendo que ja lhe mandei pedir a mesma carta que lhe tinha escrito com resposta ou sem ella) Recorro a V Illa Como Pastor vigilantissimo, pa que proveja nesta materia como for servido.
[14]
Braga Congregaçam do Oratorio 30 de Janro. de 1720
[15]
Aos pés de V Illa Thomas Francisco
[16]
Nam he cazo de Confissam

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