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Maarten Janssen, 2014-

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1796. Carta não autógrafa de Francesco Saverio Todi, compositor e violinista, para Dom João de Almeida de Melo e Castro, diplomata.

ResumoO autor dá notícia dos recados que fez ao destinatário.
Autor(es) Francisco Saverio Todi
Destinatário(s) João de Almeida de Melo e Castro            
De Portugal, Lisboa
Para Inglaterra, Londres
Contexto

O autor era marido da cantora Luísa Todi. Numa das suas cartas (CARDS2200), acusou Jean-Joseph de Laborde, Marquês de Laborde, o banqueiro da corte de Luís XV (França), de não ter pago os juros devidos a Todi quando lhe entregou o seu dinheiro para um depósito a cinco por cento. A sua preocupação decorria também de esse banqueiro ter sido condenado à guilhotina por Louis Antoine Léon de Saint-Just, a 18 de abril de 1794, sentença executada no próprio dia na praça da Concórdia de Paris. Saverio Todi recorreu à ajuda do Conde das Galveias, que vivia em Londres nessa altura; na mesma cidade, encontrava-se o filho de Laborde, igualmente banqueiro e apoiante das casas de jogo do Palais Royal, Laborde de Méréville. Pai e filho apoiavam os projetos conhecidos em França como "Banda Negra", através dos quais um conjunto de especuladores se uniu para adquirir os bens vendidos a baixo preço na altura da Revolução Francesa. Não querendo deslocar-se a Londres por receio dos corsários franceses, Todi pediu ajuda a Melo e Castro para tentar reaver o seu dinheiro.

Suporte uma folha de papel dobrada, escrita em todas as faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Arquivos de Família
Fundo Casa dos Condes das Galveias
Cota arquivística Maço 9, 3, Correspondência Geral, T-W, Todi
Fólios [1]r-[2]v
Socio-Historical Keywords Rita Marquilhas
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Rita Marquilhas
Contextualização Mariana Gomes
Modernização Rita Marquilhas
Data da transcrição2010

Texto: -


[1]
Illmo e Exmo Snr D João de Almeida Mello e Castro Lisboa 20 de Fevereiro de 1796
[2]
Muito meo Snr despois de tantos trabalhos e de huma estada de sette semanas em Falmut que me custou mt dinheiro pare-cendome ao mesmo tempo de estar prezo em huma emxovia parti pela graça de Deus pa Lisboa,
[3]
e trazendo nove dias de Viagem cheguamos a esta Barra de Lisboa, em compa de outro Paquete q tambem vinha pa esta,
[4]
este era o segundo paquete
[5]
mas o meo que deveria ser o primeiro pa entrar por imfelicidade ficou fora da Barra tres legoas sem poder entrar por cauza da corrente
[6]
e o outro foi mais bem sucedido q entrou logo
[7]
nestas circunstancias vendome eu afflito q não podia entrar e o outro entrar primeiro fui obrigado (pa querer dar cumprimento a sua comissão antes q se desem as cartas do outro Paquete) a chamar huma moleta do alto a qual com despeza não piquena me quizesse levar a Lisboa a qual me tumou e me levou a Lisboa
[8]
e dezembarcando em Belem fui logo em direitura a caza de Manoel de Figueredo, o qual não estava em caza
[9]
e esperei q viesse emthe as onze oras da noute,
[10]
o qual quando entrou q me vio ficou perplexo
[11]
e entregandolhe as cartas de V Exa elle ficou mto contente
[12]
e logo de madrogada hia a Quelus entregalas a sua Alteza visto q não era ja oras de poder partir pois q o Principe havia de estimar muito assim como elle estimou mto de ter recebido estas cartas antes de se terem recebido as cartas do segundo Paquete:
[13]
O dito Manoel de Figueredo me fes ver huma carta de V Exa em a qual lhe escrevia de me fazer ter do Principe algum reconhecimto por este trabalho o q eu fico a V Exa mto obrigado
[14]
mas eu lhe respondi q não era correio, e q tudo quanto tinha obrado nesta ocazião era tudo em obzequio a V Exa a qm por todos os modos deveria de servir e ter tambem a honrra de servir a este nosso Principe.
[15]
Passei a vizitar ao Snr Luis Pinto e juntamte agradecerlhe as recomendaçoens q me tinha feito pa com V Exa
[16]
elle se alegrou mto e mandou logo huma ordem por hum correio pa vir todo o meo fato pa terra o q não tinha feito por cauza da preca com q vim,
[17]
emfim toda a commissão de V Exa executei como desejava e com a maior brevidade posivel
[18]
tudo está entregue.
[19]
Entreguei a caixinha em Santos a Irma de V Exa a qual me entreteu mais de huma ora querendo saber como V Exa passava de saude
[20]
e teve ao mesmo tempo contentamto de falar comigo por lhe dar noticias de V Exa com qm tinha estado
[21]
sua mana se queixou de V Exa q não lhe escrevia senão raras vezes
[22]
eu o desculpei dizendo q V Exa se achava sempre ocupado e sempre trabalhando e por iste motivo não tinha tempo de escrever como dezejava,
[23]
me parece q cumpri com o recomendação q V Exa me fes a respeito deste assumpto etc
[24]
Entreguei tambem as Emcomendas ao Illmo e Exmo Snr Marques de Niza
[25]
Não encontrei o Irmão de V Exa o qual está em Villa Vicoza e não lhe pude fazer o recado q V Exa me diçe se acazo elle pergúntase por V Exa
[26]
agora lhe dou huma noticia q elle està pa receber quazi hum milhão do Tio q tinha governador em o rio de sena q morreo e lhe deixou tudo
[27]
e esta riqueza vem na Nau das Quintas
[28]
e foi testamentairo o governador de Goa q vem da Bahia junto com a da nau das Quintas
[29]
Remeto essa carta da Ermã snra sua mana q me a remeteo para a fazer emviar a V Exa
[30]
Pelo segundo Paquete remeterei a Falmut ao Consul de Portugal hum Barrilinho de Azeitonas pretas bem acondicionadas com a caixinha dos palitos q tenho a honrra de remeter a V Exa
[31]
Fui a jantar com a snra condeça de Caparica aonde todos me perguntarão por V Exa e pelo Snr Lupo e se se portava bem com V Exa e se tambem o protegia e se elle fazia conta da proteção de V Exa
[32]
V Exa pode imaginar o q eu poderia dizer sobre este particular etc etc etc
[33]
me perguntarao se o Snr Lupo se aproveitava com este viajar com o grande estudo q deve de fazer e eu lhe diçe q verdadeiramte estudava e se matava com o estudo e q havia comprado huma grande Livraria, e q despois de jantar andava a passear e hia fazer os seos Estudos as cazas dos B o q elles snres condes de caparica ficarão bem contentes de verem o quanto aproveitava esse Snr D Lupo.
[34]
Estimarei q V Exa passe com saude mto perfeita e que disponha da minha vontade q em tudo esta pronta pa lhe obedecer como dever
[35]
este q confessa ser
[36]
De V Exa o mais atto Vor e Cdo Franco Saverio Todi
[37]
PS me escreve minha mulher q lhe escreverão pa hir a Napoles
[38]
cazo q suceda farei participante a V Exa

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