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Maarten Janssen, 2014-

Visualização das frases

1721. Carta de Francisco Alves Correia para Manuel Nunes Brito, seu cunhado.

ResumoO autor fala ao cunhado de negócios e de uma situação passada com uma irmã.
Autor(es) Francisco Alves Correia
Destinatário(s) Manuel Nunes de Brito            
De América, Brasil, Bahia, Rio de Contas
Para S.l.
Contexto

Este processo diz respeito a Domingos Luís Leme, de 35 anos, cristão-velho, lavrador, natural do Rio de Janeiro, filho de Francisco Luís Leme, também lavrador, e de Ana Gerdenha. Casado com Isabel Bicuda, voltou a casar com Maria Morais de Madureira. Em junho de 1731, foi sentenciado a sair em auto da fé, a abjuração de levi suspeito na fé, a ser açoutado pelas ruas públicas de Lisboa, degredado por cinco anos para as galés, instruído na fé católica e a mais penas e penitências espirituais.

A sua mulher Isabel Bicuda era filha de João Bicudo Correia, irmã de Manuel Bicudo Correia e sobrinha de Francisco Alves Correia, Manuel Nunes Brito e Maria Moreira. Todas estas pessoas escreveram cartas porque pensaram que o réu, para poder casar-se uma segunda vez, fora a Minas Gerais com a intenção de matar a sua primeira mulher. Estas cartas foram apresentadas à mesa da Inquisição de Lisboa por João Bicudo Correia, pai da vítima.

Segundo consta do processo, o réu teria a intenção de matar a mulher, mas, demovido pelo mestre de campo Manuel Nunes Viano, que o avisou de que se o fizesse iria correr mais perigos, voltou à sua terra e começou a dizer por lá que a primeira mulher estava morta. Isabel Bicuda, que soube da intenção do marido, fugiu, tendo sido vista por João de Sousa Cabral a vender produtos sob a proteção do capitão-mor José Elias, na Bahia.

Por outro lado, outras pessoas alegavam que Isabel Bicuda tinha fugido com outro homem e, indo o marido atrás dela para a trazer de volta, a tinha encontrado morta, tendo sido assassinada por um dos tios da mesma. Esta seria, provavelmente, a versão difundida pelo réu. De facto, em depoimento em Lisboa, a 16 de junho de 1725, este contou o que, segundo ele, se passara. Dezasseis ou dezassete anos antes, estando ele solteiro e morando em São Paulo, havia casado com Isabel Bicuda, viúva de Francisco Nunes. Estiveram casados dois anos e não tiveram filhos. Depois, ele teve de ir a Minas Gerais e levou-a consigo, mas deixou-a entretanto em casa de um cunhado dela, já que precisou de voltar à Vila de Bom Sucesso para pedir a bênção de seu pai, que estava a morrer. Quando regressou a Minas Gerais para a ir buscar, ela havia fugido com outro homem. Depois de a procurar durante dois anos pelos Currais da Bahia e de Pernambuco, sempre sem ter notícias, resolveu refazer a sua vida e tratar das suas terras. Passados doze anos, começou a viver com Maria Morais de Madureira, viúva de Miguel Rodrigues, mas os parentes desta obrigaram-nos a casar. Segundo ele, ameaçaram ambos de morte, caso não o fizessem. O réu alegou também terem sido os pais de Maria Morais de Madureira a arranjar as testemunhas para provar que a sua primeira mulher estava morta, bem como a pagar ao visitador para dar licença para o casamento. Assim, em 1720, casou com a segunda mulher, com a qual viria a ter dois filhos e uma filha. Confessou ainda que tentou encontrar a primeira mulher para a matar e repor a sua honra, levando consigo apenas dois negros. Considerava isso justo, por ela o ter trocado por outro homem.

Suporte meia folha de papel de carta escrita apenas no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Inquisição de Lisboa
Fundo Processos
Cota arquivística Processo 2645, Caderno 1
Fólios [24a]r
Socio-Historical Keywords Maria Teresa Oliveira
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Catarina Carvalheiro
Contextualização Leonor Tavares
Modernização Raïssa Gillier
Data da transcrição2015

Texto: -


[1]
Sor
[2]
Por mão de Dos Luis fui Em Emtregue de huã carta de VMce junto com outra de noso irmão Thome e João Bicudo Em que me ocupava sobre o negosio do mesmo portador
[3]
foi ele tão Bizarro sendo couza que tanto lhe Emportava publicando a todos ao neguosio a que ya E como asimantes antes de me Entreguar as cartas E inda antes de eu saver nada do particular se pos Ela Em salvaterra
[4]
deixalo correr seu fadario pois que o marido asim o quis
[5]
estou Emteirado que Ele teve toda a culpa quando lhe falou segredo por couza de tata Emportansia
[6]
Mto melhor he
[7]
faltaria ho juizo e descrisão pa a comservasão do seu estado
[8]
antes Vossas Mces me Enviavão as cartas Em abertos
[9]
eu não escrevo mais largo VMce e noso irmão Thome Correa a quẽ metem neste Rio das contas pa o que for de prestimo ou ainda vai prosiguindo e senpre avera
[10]
nos vivemos com sosego e eu ja dezacorsoado
[11]
soponho VMce destas bandas não Emteresa nada
[12]
he desgrasa minha ao que me parese ser oje o Rio das contas e com os joves da sidade e senhores das terras tratarmos amistades pa todo nosos dezenpenhos
[13]
Em outras cartas tenho lhe a VMce manifestado de tudo sobre afirmo que junto estarmos não nos faltara labras de ouro
[14]
e pa o neguosio tanto pa a soda como de estrada não digo sem fundamto que quantos descobrimtos de ouro e sitios de gados ouverão neste Rio das contas farão meus e seu sobrinho Damaso Colho que he oje Guarda Mor desta.
[15]
Recomendando com nosos Lenbras a sra minha irman he as mais meninas de caza e a VMce fazendo o mesmo
[16]
Deus o gde
[17]
Oje pro de agosto de 1721 a
[18]
De VMce Cunhado E irmão no amor Meu Cunhado O sor Mel nunes de brito Franco Alves Correa

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