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Maarten Janssen, 2014-

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1762. Carta de frei Amaro de Jesus Maria Rangel, religioso, para um seu cunhado.

ResumoO autor dá notícias da sua viagem e recomenda ao destinatário o portador da carta, um amigo de toda a confiança.
Autor(es) Amaro de Jesus Maria Rangel
Destinatário(s) Anónimo400            
De S.l.
Para América, Brasil, Rio de Janeiro
Contexto

O cirurgião António de Sá Tinoco, residente na comarca do Rio das Mortes (Minas Gerais, Brasil), foi alvo de perseguição por parte do vigário de Santo António de Itaverava, Manuel RibeiroTaborda, que o privou dos sacramentos por ser "pecador público e notório". O vigário acusou-o de atentar contra o 6.º mandamento ao defender publicamente que quem cometesse adultério não tinha a alma condenada ao inferno. Causas de escândalo, também, foram as acusações de que vivia em concubinato com uma escrava crioula, que desobedecia aos ministros da Igreja e que injuriara o Estado Eclesiástico ao ameaçar o vigário com a sua espada caso ele recusasse confessar a escrava crioula e admiti-la pelo preceito da quaresma.

As cartas particulares anexadas ao processo, algumas remetidas a partir de Minas Gerais, datam do período compreendido entre a emissão do mandado de prisão (novembro de 1761) e meses antes de o réu ser encaminhado para a Inquisição de Lisboa (agosto de 1763), altura em que foi depositado à guarda do mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, por ordem do Tribunal do Santo Ofício. A incorporação das cartas no processo teve uma função claramente abonatória e corroborou o sentido do depoimento de várias testemunhas. Com efeito, vários religiosos beneditinos acabariam por ser partidários do réu, acreditando ser falsa a culpa movida contra ele. O motivo estaria antes no "entranhável ódio que o reverendo vigário Manuel Ribeiro Taborda e seu irmão João Ribeiro Taborda lhe tinham como capitais inimigos". Supunha-se inclusivamente que o fim último de todas aquelas acusações consistia em expulsar António de Sá Tinoco da sua freguesia para que ficasse o irmão do vigário com o monopólio do ofício, ainda que "a curar ignorantemente". O beneditino frei Amaro de Jesus Maria Rangel atestou a "bondade de génio" do cirurgião e a falta sentida pela sua ausência junto dos pobres de Minas Gerais, a quem dava "os remédios de graça e dinheiro para o sustento". Mesmo confinado ao mosteiro fluminense, muitos procuraram o cirurgião pela fama da sua caridade e poder de cura.

Suporte meia folha de papel escrita no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 2490
Fólios 121r
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=2302413
Socio-Historical Keywords Ana leitão
Transcrição Ana Leitão
Revisão principal Raïssa Gillier
Contextualização Ana Leitão
Modernização Raïssa Gillier
Data da transcrição2015

Texto: -


[1]
Meu Cunhado mto da ma veneração
[2]
Hoje parto pa a cide de S Paulo pa tornar em Março querendo Ds e como esta frota está encantando não qro deixar de lhe escrever:
[3]
e so agora lhe verefico q estimei tanto a sua Carta, q ainda hoje a leio com alegria grde,
[4]
Ds qra traselo a sua Casa ja, pois tanto o apeteço , e sua Mulher, ma estimada Irmãa, tanto Suspira.
[5]
o portador desta he amo especialissimo meu,
[6]
veja Snor, q eu espero de vmce o procure, o trate, e lhe ofereça qto lhe for necessro, porq a amiste, q lhe devo he tão grde, q lhe certefico hir eu nelle a essa Corte, elle por doutissimo, e perito na cirurgia lhe maquinarão taes tramoias, q por aleives la vai dar Comsigo, eu com veras lhe rogo o receba assi, Caso, q seja necessro, elle não necessita, porq alẽ de ser homen de ben, de verde, e rico nas Minas, leva letras etc, mas ninguẽ deixa neste mundo de necessitar de favores,
[7]
enfin a preça me não permitte mais, e elle lhe dará cabal noticia de Como fis esta viage, e de mas molestias, pois foi meu medico em algũas:
[8]
o q lhe emcomendo he, q veja q qm vai he Fr Amaro, e não Anto de Sáa Tinoco,
[9]
e juntamte athe onde eu puder ganhar em anno se elle necessitar, eu estou prompto pa o satisfaser, porq eu sei qm tenho nelle.
[10]
Não mais;
[11]
ANosso Snor me qra ouvir pa ajudalo como dezo, e lhe qra dar saude etc
[12]
23 de 8bro de 1762
[13]
De vmce Ir amte, e mto saudozo Fr Amaro de JESUS etca

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