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1619. Carta de Álvaro Correia, criado, para o licenciado Clemente Félix.
Autor(es)
Álvaro Correia
Destinatário(s)
Clemente Félix
Resumo
O autor explica a sua conduta protestando junto do destinatário pelas perseguições que tem sofrido.
Texto: -
[2]
Muito estimey de me diser Luis saravia hũ recado de VM
e muito mais saber da saude de VM a qual seja sempre
muito prefeito
[3]
havera dous mezes que ando em Lisboa plas
ruas
[4]
não me faltou quẽ me diçe que eses senhores querelarão
de mim ou avião de querelar
[5]
tirey hũa carta de seguro
e não vi ate guora que fizeçem diligensia pa me prender e a
mor cautella tirey segda carta de seguro por se me acabar en 38 dias a qual he bem feita
[6]
e se me prẽderem cõ ella soltarmeão q os homens pren
dem pera o limueiro mtos mais graves q eu
[7]
se eu aguora
ando nesta sidade não pera atentar em couza q toque
a jerasão deses sres q ainda q eu tire seguro real não por cou
za algũa senão q dio frz e anto ribro emcontrandome a santo
antão me querião matar
[8]
e como eu não sou tão valente co
mo cada hũ delles saime cõ boas plavras e não me matarão
[9]
e dizerem mtas pas que juravão q me avião de matar por iso me
quis segurar que o diabo me levese e por outra couza nẽ he
eu pretendo o que elles cuidão
[10]
e se eu de minha parte posso fazer
couza cõ q elles fiquẽ seguros dela po parte eu farey tudo e se
tiver algũ papel o dorey
[11]
eu fis algũ dia algũa diligensia
ou algũa couza
[12]
e se elles me não falarão nestas couzas eu ouvera
algũ dia de falar niso mas como vi q elles me falarão de m
antão andei cõ fosquas como Vs Ms aguora andão
[13]
mas qto di
zerem q não ande em lisboa iso he couza que não pode ser
q quoando meu tio o não pode acaber comiguo vindome de pre
possito a buscar não ho ei de fazer cõ temores destes senhores que
elles não me podem empedir a sidade
[14]
e se elles não querem que
Eu ande aqui tão bom partido me podem fazer q ou pera anguola
ou outra qualquer parte va que muita vontade tenho de andar
em lisboa con fazer
[15]
e se me prẽderem juro a esta que
me não ha de pezar e mais que não hao de soltar outra ves
[16]
e folgara
de saber que niso lhe faso em andar aqui pois lhe não paso pella porta
q ha dous mezes que aqui estou so hũa ves fui a ribeira sem oulla
pera as paredes
[17]
e pezame muito de ter cõdisão pa sofrer q me tirẽ hum
olho por fazer tirar dous
[18]
e asim não tem que cansar pa comiguo
[19]
pren
dãome emforquẽme q hanimo tenho pa tudo que quoanto sairme
de lisboa não ho ei de fazer se não fizerẽ o que diguo
[20]
mas lembro
a VM q ha de pezar muito a eses senhores atentarẽ a me empedir
lisboa se não se for por esta via
[21]
e se qualquer deles qzer falar
comiguo digua aonde i eu lhe darey o que dantes me pedião Vs Ms
que eu não quero nada de pesoa algũa desas cazas
[22]
e se me quizerẽ
buscar pa me matarẽ ou prenderme eu ando pla sidade e ei de tirar
o meu seguro antão mas que me matem
[23]
e torno a dizer a VM
q ei de andar em lisboa ate q lhe acõtesa hũ dezastre acontesẽ
do outro a mim que como eu estou desfavorescido de meus pa
rẽtes pera mor destes sres avinturado estou a tudo e o tempo lhe dou
[26]
Servidor de VM
Alvaro Correa
[27]
e querendome prẽder o sor mel frz tinoco eu o ei de mandar sitar pa di
zer se quer algũa couza de mim e ahi me tem seguro e ficarei loguo
la no limueiro
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