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Maarten Janssen, 2014-

CARDS3160

1722. Carta de Tomé da Mota Barreto, padre, para a Inquisição de Coimbra.

Autor(es)

Tomé da Mota Barreto      

Destinatario(s)

Inquisição de Coimbra                        

Resumen

O autor descreve o seu último ano de prisão e as pobres condições em que aí tem vivido injustamente, pois diz ser inocente dos crimes de que é acusado. Diz que se não obtiver ajuda, não se importará de tirar a vida pelas próprias mãos.

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Illustrissimos, e Reverendissimos Senhores

As minhas Lagrimas, que de Sangue Choro, são a Cauza de segunda vêz por aos pês de Vossas Illustrissimas â mimha queixa, e aflicão, que me assiste; não por me Considerar ha témpo de hum anno prezo sem culpa (que esta serve de alivio â pena) mas de me ver desfavorecido, e desemparado e não ter, que gastar, em hũa prizão tão dilatada; onde estou morrendo de fome e padeçendo infinitas miserias, e necessidades sem hum Princepe e Pastor da Santa Madre Igreja; se doér da sua Consçiençia, nem haver Charidade e Commiseração de hũa sua pobre ovelha de seu Rebanho, que tanto Cústô a JESUS' christo: antes do grande odio, que metem, em me Reter em hũa prizão, pareçe dezejar tragarme, sem haver outro motivo, mais que o que ja a Vossas Illustrissimas Com as mesmas Lagrimas, Representey; expondome este Princepe â Cénsura de delinquente com notaveis dimminuicôes no meu credito, fama, e honra; sendo tudo gravissimos Cazos de Restituição, de que este Princepe, fâz pouca Conta, dandome occasião â perderme, e desesperar em ver me não defere, e em ver me não quer dar audiençia â minha justica, e quererme imputar hum caso, que sabe muito bem, estou nelle innocente, Como tambem testemunha toda esta terra; e he querer incobrir Com a minha pobre capa os delitos de hum frade filho de hum seu criado, que andava amancebado Com duas Irmâns suas: e por saber que eu tenho em meu poder desta verdade; a clareza, me não quiz nunca admmittir a Livramento: Razão por que aggravey para a Coroa de Sua Magestade do Acordâo incluso, virão Vossas Illustrissimas no Conhecimento da sem Razão Com que padeço innoçente: não obstante, para fazer o cazó feo, dizer o vigario geral, que eu tinha Cúlpas de Rapto stupro, e incesto; o que tudo he falço e supposto: Como hey de mostrar mais claro que a lux do mesmo sol: pois o mesmo Prelado lhe deu Licença, e as mandou por hum Primo para Lisboa, e lhe deo todo o dinheiro para os gastos, e o mais necessario, sendo tudo nomes de fevereiro do anno passado: E eu estava nesta terra e no mes de Mayo, que fui para essa Unidade; e me despedi do seu servico, por me não deixar ir formar, Logo me teve odio, e Raiva, que em hum Princepe Catholico se tem muito estranhado nesta terra: Como tambem injustamente de me privar do exerçiçio e esmola da minha missa por eu seguir este caminho do aggro para conseguir a minha Liberdade: que tenho Captiva; dipois de ter feito Com a paçiençia actos meritorios no dicurso de hum anno de prizâo: que he bastante teyma ou Omnipotençia de hum Princepe da Igreja nossa may, que he pia: Inda no caso, que Como grande e mizeravel pecador, que sou; Commettesse, não esses crimes affectados, e suppostos: mas ainda outros mayores!

Mas he digno de se notar que sabendo o Senhor Prelado evidentemente, a minha innocençia, e toda a mera verdade; não desista da sua teyma, e paixão, para dar a entender, que obrou bem em me mandar prender; o que todos conhecem o contrario. Dou a Vossas Illustrissimas; esta Conta; não para me justificar: porque me confesso, por indigno Mynistro de JESUS christo: mas sim para mayor clareza da verdade; que a Vossas Illustrissimas Representey: E como este Prelado estâ duro, e não quiz obedeçer a primeira Carta Rogatória; estou esperando segunda, para se dar Conta a El Rey, e se tomar neste negocio assento; a quem em mão propria se hão de entregar os melhores documentos, manifestaivos de todas estas tractadas, e de toda a pura verdade Como bem de me mandar prender de poder, e da parte do mesmo Rey enganadamente; pellos Criados do Conde de Santiago, Com desprezo do habito Saçerdotal. A vista do que, Como me acho pobre e sem a esmola da minha missa unico Remedio da minha vida, e alma; não tendo outro; senão Recorrer â Caridade de Vossas Illustrissimas para que me favoreção; pois me vejo tam dezemparado, que tenho vendido ate os proprios Livros, e factos, e hey de vender a camisa para aclarar a minha verdade porque sou hum clerigo honrado, e de vergonha; que nunca imaginey, chegasse a semelhante estado: e assim se me não fizerem justiça, estou em termos de dezesperar, e matarme por minhas proprias mãos; porque me he melhor morrer mil vezes, do que viver sem honra; e se Deos me não dezempárara com a sua graça e seus não sey que fezerã; mas hey de ter paciençia emquanto elle for servido, e hey de fazer da necessidade virtude, sem ser descredito da minha pessoa pedir publicamente porque o mesmo Senhor nos insinou isto mesmo: A elle pedirey Continuamente pella vida e saude de Vossas Illustrissimas; e augmento, e conservação de tão pio, tam Recto, e tão Santo Tribunal da nossa santa fe Catholica; e que guarde por infinitos seculos. Aljube de Braga 25 de Julho de 1722

Aos pês de Vossas Illustrissimas, e Reverdissimas Humilde subdito, e mais obediente Servo Thome da Motta Barretto

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