PSCR0381 1674. Carta de Luzia Carvalha Feio, criada, para a sua irmã, Isabel Carvalha. Autor(es)
Luzia Carvalha Feio
Destinatário(s)
Isabel Carvalha
Resumo
A autora dá à irmã a notícia de que está viva e de que estivera muito doente, a ponto de receber a extrema-unção. Pede também o envio de tecidos através do portador da carta.
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Minha Irmã e minha snra
Loanda 22 de feverei de 1674 Annos
Bem sei q por novidade tera Vm que no diverço de sete annos . são es
tas as pras novas q Vm tem desta triste pelengrina q coanto talves
teria pa sy , que eu seria já morta tem novas de ouvida hũa vida de
milagre que a Virgem de nazaret e a seu sagrado filho devo a vida
porq me deu hũa doenca adonde todos Julgavão q eu não ouvera de
Viver derão me a sancta osam a hũa sesta fra a tarde e com chũ capuc
ho de santo Anto pa me alembrar o neome de Jesus com hũ froxo de
sange pela boqua em tanta cantidade que todas as criaturas que me
estavão asistindo adonde fui aconpanhada de muitas amegas e esas
todas filhas de purtugal e todos os fizicos q avião na terra fui Vi
zitada de todos adonde me não faltava mais que ter parente diente de
mim que era a maior desconsolação q me aconpanhava Vai num anno
que me deo esta doenca e ainda me dura peso a Ds q se me der Vy
da que seja pa o servir e Vm em suas orasonis me emcomende a Ds lem
brelhe que me criou e que não conhesy outra mai mais q a Vm de coantas
desobidiencias e palavras em q a agravei mil Vezes lhe peço perdão e
me deite a sua menção como q se foro ja morta hũa porque não tenho
confianca da Vida e ainda q a tivera o hir outra ves a purtugal a pasar
o mar tam furiozo fiquo com hũa fonte em hũa perna q me manda
rão os fizicos abrir , Agora lhe quero dar parte a Vm de como parea
a Vida nos pros tenpos q chegei a angola q me espolsei da caza de dona
loiza alugei hũas cazas por preso de Vinte mil rs cada anno e eu não ty
nha de meu hũ Vintem adonde metida nestas cazas como preza sem ter
conhesimto de nimgem nem ningem o tinha de mim adonde padesi sete
mezes mtas fomes e mta sede e estreles nesesidades no cabo dos sete me
zes que parese foi couza de emcanto adonde Ds me conpesou logo a fa
voreser não lhe digo a vm que estou Riqua mas pode viver descansada
que tenho q comer e tenho minhas cazas em q vivo tenho a minha linpe
za toda nesesaria tenho tres negras e tres q me morrerão pode vm
dar mtas grasas a Ds q vivendo eu con bom credito tenho por honde poder
pasar a Vida o portador desta lhe podera a Vm Dar larga , Conta da minha
Vida e por ser pesoa tam serta me deletarei a escrever e lhe pedi
muito q a buscase a Vm e lhe peso lhe fale foi surgião mor neste
Reino e tanbem curava de fizico e me asistio nas minhas doencas
e me ajudou a pasar a Vida de holho grandes obrigasonis e vm de sua
parte lhe Renda as gracas e por elle me pode Vm escrever porq a de Voltar a
este Reino logo e mandeme Vm dar conta de sua Via que primitira Ds q seja como
eu dezejo , qua tive po notisia q meu Irmão Mel carvalho feio q era morto
e que tanbem era morto meu Irmão o alferes Joze Carvalho e se asim he Ds
lhe tenha as suas almas em gloria q em ben pouqua obrigasão lhe estou
nem por iço Ds me faltou numa terra tam agreste como he amgolla que
não ai nella mais q peste tudo o mais he hũa esterlidade Vai hũa bo
tiga de azeite dous mil rs hũ covado de baeta 2 U 500 rs hũa Vara de pan
o de lo que chamos nos pano camizeiro 600 rs isto coando ai muito Jul
ge Vm por isto o q podera ser as mais Couzas q quem nesta terra se sos
tenta limpamte tem q dar a Ds mtas grasas mande me Vm coando me es
crever largas novas de minha sobrinha monica maria e de meu
sobrinho dioginho se esta ja molher e o menino se he ja homem e lhe man
do a minha benca e peso a Ds os cubra de boas fadas q não sejão
como a perigrina de sua tia que vim viver em gine entre gentio
que não conhesem q couza he Ds inmigos dos filhos e das filhas de
portugal q he clime dos filhos desta terra serem nos todos treido
res e quem emtre elles se sabe conservar ainda asim não pode viver
con elles eu ja não sou o lião que era ja a minha natureza se mudou
vivo com todas e todos agrado e com todos me viu tenporizando a snra
anna mendes se for viva q premita Ds q o seja pa emparo de seus
afilhados lhe mando mil lenbrancas e q esta ceja per sua e que
Veja se nestas partes ha Couza em que a posa servir que a minha
pobreza esta muito Remdida a seus pes que me alembra muito
bem o grande emparo q tive nella cobrindome senpre debaicho
do seu honrrado capello pagelho Ds em lhe dar Vida e bom mandado
Da snra Dona Vilante não na quero emfadar mais a Vm porq se
contara tudo não ouvera papel que coubera o manifestar sau
dades e sentimento q tenho de me ver tantas mil legoas auzente
de quem me criou a snra ana mendes lhe peso me deite a sua
bensão e Vm me não falte com a sua eu minha a meus sobrinhos
aDs minha Irmã aDs minha mai q em vida de Ds despido de
Vm quem podera aconpanhar este papel pa hir ver quem me
Criou e quem me deu tão boa doutrina q a não tomar foi
maldade minha não falta da bondade de Vm aDs minha
Irmã que as lagrimas me não dão lugar a dizer mas
a quem Ds gde muitos annos pa o meu emparo e de meus sobrinhos
Irmã de Vm
Lozia Carvalho feio
Coando vou a igreja me visto como Veuva com capelo ate o biquo do
pe e vestida de sarga negra foi este senpre o trajo q despois que estou em
angola truse no mais que tenho variado foi vestirme de chamalote negro pondo com elle capelo do mais que
nesesito he de hũ manto de burato de seda leva por hordem o porta
dor desta a conprarmo pesolhe a vm mo mande fazer e o mande cortar
pello seu manto que o portador a de dar todo o aviamento de
vm lho emtregara feito pesolhe que coando elle o for conprar
que queira vm hir com elle pa escolher hũ q for muito Ralinho
e muito fino mando tanbem buscar chamalote ou tafeta dobre cor
d ouro pa hũ vestido pesolhe a vm asista com elle na conpra pa q
a cor seja boa porq pa as vezitas vistome de cor e vinte varas de
de Renda negra e seu Retros o manto que truso de purtugal de Carrião a
inda esta novo porcoanto me visto de veuva ficame hũ tanto peque
no por ico mando conprar este outro as amigas do esperito santo lhe
mando mtos Recados q lhe não escrevo por me não alembrar o nome dellas
porque fiquei esquesida em mtas couzas desta doenca qua tive por no
tisia que ellas prenderão o matador q matou o seu marido e que ao pe
da forqua lhe dera o Regedor perdão não sei se he verdade se men
tira esto me contou hũa degredada que veio dese Reino do limo
eiro aquela snra que tinha aquele menino que meteu frade e foi
pa o maranhão lhe mando mtos Recados a snra q tem seu filho q he
ra ourives do ouro lhe mando mtos Recados a nenhũa sey o nome q
estou tal que me não alembra mais q e q tenho deante dos holhos
e iso dahi a pouquo tenpo ja me não alenbra peso a vm me mande
hũa medida do sõo do Carmo pa me chingir em mim anta Veloza
me diserão q era veuva que pa me alenbrar o seu nome estive es
tudando
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