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Maarten Janssen, 2014-

CARDS2194

1744. Carta de Amaro da Costa para Francisca da Encarnação, sua mãe.

ResumoAmaro da Costa tranquiliza a mãe, Francisca da Encarnação, desmentindo as facadas que supostamente teria levado. Fala do negócio em Angola, de ter estado cativo de negros e manda lembranças a família e amigos.
Autor(es) Amaro da Costa
Destinatário(s) Francisca da Encarnação            
De América, Brasil, Rio de Janeiro
Para S.l.
Contexto

A ré deste processo é Susana Maria, casada pela primeira vez com Gaspar Ferreira, pela segunda com Amaro da Costa (homem do mar ou pescador) e pela terceira vez com João Galego Sermenho (sapateiro). Era natural e inicialmente moradora em Armação de Pera, termo da cidade de Silves, e depois, à data do segundo casamento, em Alcantarilha, troço da mesma cidade. A ré foi presa a 1 de Junho de 1745. António Pires, morador no lugar de Porches, foi quem deu a denúncia ao Tribunal do Santo Ofício, dizendo que tinha recebido cartas do seu irmão, Amaro da Costa, que provavam que este estava vivo e que assim incriminavam a sua cunhada, Susana Maria, no crime de bigamia, uma vez que esta já se encontrava a fazer vida marital com João Galego. As cartas que Amaro da Costa enviou a António Pires, do Rio de Janeiro, Brasil, e que aqui se encontram transcritas, foram depois enviadas pelo dito António Pires ao Prior Afonso Correia e Almeida, que se encarregou de as dirigir a um superior da Inquisição. Juntamente com as cartas, o Prior enviou uma denúncia em que reportava o caso. Dizia ainda que, segundo António Pires, as cartas lhe teriam sido entregues por dois soldados que diziam ter ido ao Rio de Janeiro, onde comeram e beberam com o dito Amaro da Costa. A 4 de Fevereiro de 1745 saiu uma ordem de Faro a dizer que o Reverendo Prior Vigário Franco, de Estombar, devia pedir ao seu escrivão que enviasse a João Galego e a Susana Maria uma notificação que, com pena de excomunhão maior, designasse que se separassem e apartassem um do outro e não se comunicassem mais, nem se juntassem para o uso do matrimónio enquanto não fosse determinado o contrário, mandando também passar certidão da dita ocorrência e pedindo confirmação da separação dos dois. Depois de presa, Susana Maria foi responder a um interrogatório a 11 de Junho de 1745, em Évora, na casa do Despacho. Aí disse ser cristã velha, filha de Sebastião Coelho e Iria da Neves, natural e moradora em Armação de Pera. Disse também que dezasseis anos antes, tendo ela enviuvado do seu primeiro marido, Gaspar Ferreira, se contratou para casar segunda vez com Amaro da Costa, filho de Baltasar da Costa e de Francisca da Encarnação, e autor das cartas transcritas. Disse que o seu marido se ausentou do país para fazer negócio porque ficou devedor de várias pessoas em Lisboa, e que não tornou mais ao Algarve, tendo tido notícias de que ele embarcara. Disse ainda que, passado um ano, teve uma carta do dito seu marido, a qual não dizia de onde era enviada mas em que ele contava os trabalhos e os portos onde tinha estado. Disse depois que ela mesma lhe escreveu por três vezes sem ter resposta, nem mais notícia alguma, e que só há quatro anos tinha ouvido a Simão Correia da Silva e a António Nunes, chegados da cidade de Lisboa, que o seu marido tinha falecido (versão esta que se sabe ser falsa, pelo depoimento dado pelo próprio Simão Correia da Silva). Disse então que, como vivia ilicitamente com João Galego e já tinha sido acusada ao bispo, resolveu confessar-se ao mesmo, temerosa de que lhe acontecesse algum mal, e deu conta do seu estado e da morte do marido. Segundo ela, o dito bispo procurou saber se ela tinha alguma certidão da morte e ela disse que não, mas que tinha testemunhas. Embora a ré negasse ter pedido às testemunhas para jurarem a morte do marido, a verdade é que estas tinham reputação de serem homens de pouco porte e muito amigos de vinho. A ré foi sentenciada a ir a auto da fé na forma costumada: fazer abjuração de leve de suspeita na fé, ser açoitada pelas ruas públicas da cidade e degredada por sete anos para Angola, com penitências espirituais, instrução nas coisas da fé e pagamento das custas do processo.

Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Évora
Cota arquivística Processo 751
Fólios [13r]
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Rita Marquilhas
Modernização Raïssa Gillier
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2009

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A minha May e Snra franca da encarnassaã gde Ds ms ans Nas porjes Regno do algarve Ro de janro 28 de agosto de 744 as

Minha May e Snra mto enfenita estimarei q esta achem a vmce logrando aquella saude q o meu afecto lhe deza pa dispor da ma as ocaziois do seu servso Minha May qua fico nesta cide do Rio de janro e ando com meu nego na carreyra de angolla mas não tenho sido mto afortunado q se o tivera sido ja nessa Terra havia de estar mai qr a fortuna pirmitir o tal mas espero em Ds q sedo lla hey de hir Ber qm me Bẽ qr. q eu qua louvado Ds ahinda q ando por terras alheas semper to dado Boma conta de min e to amos que me fazem favores sem eu nunca os Ber senão o conhessimto da ma saptisfasão q tenho dado , asim q semper teve q comer e BeBer e q Bestir e calssar mor do q se estivera na ma terra. e teve por nota q lhe forão dizer q me tinhão dado humas facadas qm qr q o disse mentio q se lhe dissesem estocadas fallavão verde mas nenhumas forão de perigo q ahinda sou vivo emthe o prezte ldo Ds N S to tido mto doenssa o despois des q por qua ando q isso he a cauza de eu não estar mais aumentado e Me dar mtas saudes a todos os meus irmaõs a todos os q por mim perguntarẽ huma desfurtuna teve q esteve cativo de negros ja com pouca esperanssa de me ver liver delles foy Ds devo aquelle ahinda a Terra de cristandade e com isto não enfado mais porq me paresse q estas Regras lhe darã mto grde detrimto mas eu de lhe vir dar alvicera me paresse de alegria e asim desta carta me dara a saver a todos os meus amos e prenssipal a meu irmão mais Bo podera vmce ter aRecolhido aquella menina o menos pa sua alegria aDs emthe a pra vista

deste seu fo q mto lhe qr e deza enthe a morte Amaro da Costa

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