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Maarten Janssen, 2014-

PSCR0017

1593. Carta de Francisco Fernandes para o seu irmão, António Fernandes.

ResumoO autor conta ao irmão o que tem acontecido em Jaén, onde se encontra.
Autor(es) Francisco Fernandes
Destinatário(s) António Fernandes            
De Portugal, Miranda, Mogadouro
Para España, Jaén
Contexto

Quatro cartas foram apreendidas no espólio de Francisco Fernandes, preso pelos oficiais da alfândega de Bemposta, no rio Douro, quando este tentava atravessar para Castela na companhia da sua irmã, Ventura Fernandes, e da sua cunhada, Ana Pereira. Viajavam com uma mula e com grande quantidade de haveres pessoais, tal como indica um rol incluso no processo, o que despertou a curiosidade dos oficiais. Ao saberem que eram oriundos de Bragança, onde recentemente o Santo Ofício tinha realizado diversas detenções por judaísmo, tentaram deter Francisco Fernandes, que se pôs em fuga. Foi detido já perto do barco que fazia a travessia do Douro, enquanto ambas as mulheres, que já se encontravam na margem espanhola, retrocederam e se entregaram de livre vontade.

Das perguntas feitas pelo corregedor de Miranda, apurou-se que os pais de Francisco e Ventura Fernandes tinham sido levados de Bragança para a Inquisição de Coimbra, onde teriam falecido. O mesmo tinha sucedido ao seu irmão, Luís Cardoso, marido de Ana Pereira. Tanto as cartas como os depoimentos dos dois irmãos mostram que tinham a intenção de seguir para Coimbra, mas que, chegando a Mogadouro, para onde Ana Pereira havia sido degredada por um ano pelo juiz do fisco de Bragança, esta convenceu-os a rumar a Fermoselhe, em Castela, de onde era natural e tinha família.

O corregedor de Miranda, por considerar que o caso era do interesse do Santo Ofício, mandou-os presos para Coimbra. A parte processual lá composta inclui diversos traslados dos casos dos seus pais. Também se sabe que Francisco Fernandes foi posto a tormento. O acórdão deu-o como culpado de judaísmo, com dispensa de excomunhão por ter confessado, e confisco dos seus bens.

Suporte uma folha escrita no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Coimbra
Cota arquivística Processo 463
Fólios [17]r-v
Socio-Historical Keywords Tiago Machado de Castro
Transcrição Tiago Machado de de Castro
Modernização Sandra Antunes
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2013

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Pera anto frez em em casa de amRique Pe reira meu irmão do mogadro senhor Irmão

Esta não e mays senão pera dar conta a Vm do q aqui pasa e dos grandes desgostos q tenho Recebido e terom Vm sabera q pascoal frz e luis nunẽz forã tomar carta de seguro mas contudo partindonos nos ja eu e ventura com luis nunẽz e sua yrmã pera la pera essa cidade e com esperanca frz nossa irmã q vinha de la de baixo e de tudo nos desqurou a ida sabera Vm q eu tinha ja mercada a mula de graviel Roiz e ainda agora me fico com ella esperando pela misericordia de deus esse companha pera essa terra eu serei la e se eu nam for entenda q nam vou por falta de desejos q tenha mais de ver a V q de lhe escrever porq como digo ventura vai tambem agora e ana pereira jumtamente eu nunca deus queira q ella va Vm este estorvo sera ocasião de hũa grande doenca pera assi q como digo não ei de vender a mula nem fazer nada dela ate ouver novas ou Recado de Vm as coais queira nosso snor tenha sempre boas por ora nam alargo mais de mezquita e pasqual cerrão se abanda e disem q se va quem se quiser yr e q se esta quem se quiser estar se podera ser chegar Vm ao mogadro pecame eu yr como elle ia q todos assi me desemparão de todo folgara irme pera Vm q nosso snor nos dara Remedio porq eu não dezejo o q numca vi nem condenar minha alma e mais deixando o nosso pai q deus tenha emcomendado com o omem do porto q nos dissese q não morassemos em bragca por ora nam mais fico Rogando a deus por Vm

deste mogadouro onde fico oje oyto d agosto de novemta e tres de seu irmão frco frez q bem lhe deseja

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