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Maarten Janssen, 2014-

CARDS0318

1823. Carta de Joaquim Maria Torres, impressor, para um destinatário não identificado, membro do círculo de relações do Infante Dom Miguel.

Autor(es) Joaquim Maria Torres      
Destinatário(s) Anónimo538      
In English

Information letter from Joaquim Maria Torres, a printer, to a non identified individual who served as liaison officer to Prince Dom Miguel.

The author repeats all he has heard from a political conspirator, Cândido de Almeida Sandoval, and promises to continue his cooperation in stopping the planned treason.

These proceedings were opened in 1823 to punish a political conspiracy against the absolutist regime. Among the accused was Cândido de Almeida Sandoval, who had already been arrested by the former liberal regime for violating the Law of the Freedom of Press. Many of the accused were acquitted, but not Sandoval, who was exiled to Africa (first Mozambique and then Angola), where he kept ending up in jail and escaping from it. Even Jean Baptiste-Douiville (a French traveller who was in Central Africa between 1828 and 1830) met him and refers his activism in his diaries.

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Vm participará a sua Alteza Real, q hontem ás oito horas da noite estive com Sandoval; tratei de indagar delle se estava firme no projecto de fazer a contrarrevolução contra o atual Governo, e systema q hoje nos rége; ao q sandoval me respondeo estas formaes palavras: «Tudo está feito; falta pa rebentar a contra-revolução q appareção doze ou quinze homens armados, q sejão verdadeiramente constitucionaes.» Ao q lhe repliquei: «E a quem hão de seguir esses homens?» « A hum Coronel, me tornou sandoval, o cujo me deo o seguinte plano: Devem-se armar todos os individuos q entrarem na Conspiração, e embarcando-se de noite, passarão a Escaropim: de atravessarão hum Deserto de cinco leguas, e entrando depois da meianoite em huma terra vizinha, onde não ha tropa nenhuma; hirão immediatamente a casa do Juiz, e o obrigarão a passar as ordens necessarias para logo se organizar a Camara Constitucional: espalhar-se-hão algumas das Proclamações impressas q de Lisboa se levarem: far-se-ha tudo em Nome de Sua Magestade; e dir-sehá q Sua Magestade os authorizou, e lhes deo Ordens muito positivas para estabelecerem de novo o Systema Constitucional: far-se-hão juntar as Milicias, e persuadir-se-hão a obrarem de accôrdo: Mandar-se-ha rapidamente participar este succésso a Cabreira, q se acha em Badajoz, o cujo logo se unirá: q para este fim o Capitão Ajudante de Milicias, Amóra, conta com huma Companhia de Soldados; mas esta medida não convêm: Depois se Officiará para Sua Magestade, mandando-se-lhe dizer q naquella Provincia acaba de se proclamar a Constituição, e q as outras o passão a fazer immediatamente; portanto q Sua Magestade annua novamente ao Systema Constitucional, aliás correrão rios de sangue em todo o Reino de Portugal, e q Sua Magestade ficará responsavel pelas funestissimas consequencias q se seguirão a tão grande desordem.

Eis exactamente o q hontem pude saber de Sandoval, e o q immediatamente deve fazer saber a Sua Alteza Real. Continuarei com toda a prudencia q o caso exige, as minhas observações sobre tão importante objecto, e fielmente participarei o succedido.

Lisboa 2 de Setembro de 1823.

NB Sandoval não me declarou o nome do Coronel de qm fallou, nem da terra onde devia rebentar a Conspiração.


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