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Maarten Janssen, 2014-

CARDS5223

1823. Carta Luís Caetano Leirós de Andrade e Castro, sob o pseudónimo de António Chuço, para Fernando António de Almeida, fazendeiro.

ResumoO autor tenta extorquir dinheiro ao destinatário mediante ameaças de violência.
Autor(es) Luís Caetano Leirós de Andrade e Castro
Destinatário(s) Fernando António de Almeida            
De Portugal, Lisboa
Para Portugal, Setúbal, Quinta da Palma de Cima
Contexto

Luís Caetano Leirós de Andrade e Castro, que vivia das suas rendas, foi acusado de roubar a Filipa Inácia um Título de Dívida Pública. Filipa Inácia mandou-o rebater a dívida e ele rebateu-a para si mesmo, através de um rebatedor, João Francisco Borges, com uma casa de câmbio na Ribeira Velha. Do Limoeiro, onde aguardava julgamento, o acusado escreveu inúmeras cartas de extorsão usando nomes falsos ‒ fez-se passar por deputado e escreveu sob vários pseudónimos, nomeadamente o de «António Chuço». Esta forma de extorsão representa uma prática que se tornou característica da cadeia do Limoeiro no primeiro quartel de Oitocentos e cuja amplitude em muito beneficiou da instabilidade política e social associada aos primeiros anos do Liberalismo e da ambiência generalizada de vulnerabilidade e suspeição. Luís Caetano Leirós recorria a pessoas no exterior, que contactava da enxovia daquela prisão, para serem portadores da correspondência. Vendo-se em vias de ser condenado, nas suas cartas anónimas a personalidades com peso político dizia-se partidário dos que estavam no governo e acusava os juízes e escrivães que participavam no seu julgamento de atentarem contra o poder ‒ estando inclusivamente a preparar uma revolta ‒ e de serem corruptos, pedindo a sua prisão ou afastamento dos cargos que exerciam. Foi degredado por cinco anos para Angola, sendo contudo libertado antes disso, em 1827 ou 1828, em virtude de um indulto real. Por essa altura foi de novo preso por um crime do mesmo tipo: escrevera cartas de ameaça a pessoas abastadas com o pretenso intuito de libertar um companheiro preso no Limoeiro e prometendo a devolução do dinheiro poucos dias depois do envio. Uma das formas de pressão utilizadas era a de prometer em troca o silêncio do remetente, que estaria na posse de provas incriminatórias que levariam o destinatário à prisão por traição ao rei, então D. Miguel I. Para chegar ao autor destas cartas, as autoridades recorreram à estratégia de enviar a um dos destinatários uma encomenda que teria de ser levantada nos correios, procedendo assim à detenção de quem ali comparecesse com esse fim. Foi desta forma que, após diversas peripécias, se conseguiu deter pela segunda vez Luís Caetano Leirós. Entretanto, um seu tio, Teotónio de Andrade e Castro, chegou a Lisboa vindo de propósito de Tavira, onde era Guarda Mor da Saúde, e auxiliou as autoridades a deslindarem o caso. Foi Teotónio de Andrade quem informou o juiz da existência de processos anteriores, relativos a várias falsificações de documentação, entre elas a do próprio decreto de amnistia por que o réu conseguira libertar-se do degredo em Angola. Para além disso, o tio mostrou-se conhecedor dos processos anteriores com um grande pormenor, conseguindo relacionar factos entre si e provando que pelo menos uma carta, escrita sob o nome de José Maria de Lemos, fora escrita pelo seu sobrinho. Contudo, as restantes cartas de extorsão, embora apresentem algumas fórmulas que Luís Caetano de Leirós usara anteriormente em missivas que assinava como «Capitão Chuço», não aparentavam ser da sua autoria, ou pelo menos da sua mão: a caligrafia e a tipologia de desvios era completamente diferente. Leirós disse-se acusado injustamente pelo seu tio e o réu acabou absolvido por falta de provas, sendo condenado apenas a custear o processo.

Suporte meia folha de papel dobrada, escrita nas três primeiras faces e com sobrescrito na última.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Casa da Suplicação
Fundo Feitos Findos, Processos-Crime
Cota arquivística Letra L, Maço 5, Número 8, Caixa 12, Caderno 15
Fólios 20r-v
Socio-Historical Keywords Rita Marquilhas
Transcrição José Pedro Ferreira
Revisão principal Rita Marquilhas
Contextualização José Pedro Ferreira
Modernização Rita Marquilhas
Data da transcrição2007

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Ao Exmo Snr D Fernando de Almeida G D na sua quinta de palma de sima No 38 Palma d sima Lxa

V Exa me fara o fabor de me prestar 60 mil rs, q he pa o librmto de 1 camarada meu q esta em lisboa prezo na xobia da corte, Abreu. eu sou o xuço, capitão d 2 Codrilhas. beja V Exa no que se mete se me falta o descobre segredo! beja que arazo muros e a sua quinta e o mas q pocoir e lanço fogo as suas cazas e a tudo, e V Exa pasara sem grandes rigores antes q perca a bida nas mas maos. beja no q se mete se me falta! não quera fazerçe infelis por poço, q não o perde, q an de Ce pagar the 15 do mes que ben. meta o dinhero em papel na Carta fexada. mande deitar no Corro, q se não for, se o faça abizo pelo Corro o prezo em q Dia a qui oras la a de mandar e aonde a de mandar receber. ponha no sobreesCrito aCin: «ao Snr Costodeo Baladas Pimta Abreu, tro Lisboa», q la manda buscar a Carta o Corro, isto sen falta the quarta fra. o depois, não se quexe, q lhe dou huma asaltada q nem deos lhe balera e Lanço fogo a tudo, Cazo q quera q la ba algun buscar o dinheiro, a de mandalo em Carta fexada pois o portador q meu Camarada la mandar não sabe deste negco, não he qm la mandarmos. logo q lebe Bilhete dele em q diga, «ahi bai o home das Cabeçadas pa os maxos», entregue V Exa a Carta. e cuido con o segredo e Com alguma entrega. beja se me falta, q perde mas do que ganha. ponha na Carta de aCim per baxo: «Palma de sima, tantos».

sou Vor C, Je Anto Xuço, Capitão das Cadrilhas, Sitio dos pegois, 11 de julho, 1823

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