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Maarten Janssen, 2014-

Representação em facsímile

[1646]. Carta de José de Morais Calado para um destinatário não identificado, possivelmente Maria Gorjoa.

ResumoJosé de Morais Calado ameaça o seu destinatário, possivelmente Maria Gorjoa, de pancada e de prisão.
Autor(es) José de Morais Calado
Destinatário(s) Maria Gorjoa            
De S.l.
Para S.l.
Contexto

Processo relativo a Maria Gorjoa, de alcunha a Cutilante. Era natural de Peniche e aí moradora, casada com Pedro Rodrigues. Foi presa em julho de 1646 sob a acusação de exercer feitiçaria e bruxaria. Maria Gorjoa teria adivinhado vários furtos, entre os quais um furto a um fidalgo a quem tinham roubado ouro e prata, recebendo por esta premonição a quantia de seis ou sete mil réis. Além disso, também foi acusada de curar pessoas com recurso a mezinhas. Eis um dos casos em que esteve envolvida: a ré encontrou uma mulher muito doente, a quem os remédios nada faziam, e disse-lhe que a doença dela era consequência de um feitiço. A doente deu a Maria Gorjoa uma bolsa que a pessoa que a haveria enfeitiçado lhe dera. A ré, ao abrir a bolsa, retirou de dentro uma pele de lobo branco, bem como uns papéis com corações desenhados e com uns escritos ilegíveis, que só Maria Gorjoa entendia. Enterrou o papel e, de noite, recolheu-se com a enferma e deu-lhe algo para comer. De imediato a enferma melhorou. Passados oito a nove dias, a doente ficou sã e pagou-lhe. A ré teria curado também outras pessoas por meio de palavras ininteligíveis e de beberagens. No ano de 1647, em dezembro, foi condenada ao degredo por dois anos para Castro Marim, abjuração de fé e cumprimento de penitências espirituais. Todavia, não cumpriu o degredo, tendo regressado a Peniche e às feitiçarias, pelo que voltou a ser presa, agora no Limoeiro. Em 1651, Maria Gorjoa foi novamente condenada ao degredo, mas desta vez para Angola ou para o Brasil, e pelo dobro do tempo.

Suporte meia folha de papel não dobrada escrita no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 7278
Fólios [104]r
Transcrição Ana Rita Guilherme
Revisão principal Mariana Gomes
Contextualização Ana Rita Guilherme
Modernização Raïssa Gillier
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2008

Page [104]r

que fazer o que me ta desta que não sendo ira pesoalmte pa sahir faser, o que fico comigo, aparelhasse a vm boa velhise, porque alem de dar ordem a vm vir presa, porq a tenho ja na mão, ei de lhe mandar dar hũa grandissima carga de pancadas e não cude q me ha de escapar nẽ em o ventre da balea, segunda Carta ira a luis teixeira, com q vm lhe não escapara, e pedro frs o home q anda comigo a levara o pe de mim, que ha de neste particular esprimentar mais obras que palavras porq me tenho mui bem emformado de suas vizinhas, e ei de fazer verdadeira a calharota porq não ha mais pouca vergonha que a de vm, isto digo, e não fallo mais

Joseph de moraes calado


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