Resumo | O padre pede novamente à Inquisição de Lisboa que lhe seja concedida uma audiência. |
Autor(es) |
Francisco Gomes Sardinha
|
Destinatário(s) |
Anónimo111
|
De |
América, Brasil, Rio de Janeiro |
Para |
S.l. |
Contexto | O réu deste processo é o vigário Francisco Gomes Sardinha, preso por solicitação. Era vigário na igreja de São Salvador, bispado do Rio de Janeiro, e foi acusado de solicitar várias mulheres para atos "torpes" e "desonestos" aquando da confissão sacramental. As mulheres abordadas por este padre tinham sido: Inês, escrava do Curral de Nossa Senhora da Ajuda, Isabel de Barcelos, solteira e filha de António Soares da Costa, Catarina Soares, mulher de Mateus de Medeiros, e Luísa, escrava de Catarina e Mateus. Segundo a acusação, o réu oferecia dinheiro e prometia muito mais às ditas mulheres para estarem com ele. A defesa do réu negou todas as acusações, alegando que o padre era um homem de bem, de boas famílias, e que sempre tinha cumprido o seu dever como religioso; estaria a ser vítima de uma perseguição, uma vez que na sua freguesia costumava descompor quem não ia à missa. Muitas das famílias da freguesia ter-lhe-iam tal ódio que até tinham deitado fogo à sua casa, e 25 pessoas tinham mesmo sido apuradas como culpadas. Francisco Gomes Sardinha veio a falecer no dia 6 de setembro de 1695, em Lisboa, nos cárceres do Santo Ofício. Segundo os inquisidores, o réu morreu de causas naturais. |
Suporte
| meia folha de papel não dobrada escrita no rosto. |
Arquivo
| Arquivo Nacional da Torre do Tombo |
Repository
| Tribunal do Santo Ofício |
Fundo
| Inquisição de Lisboa |
Cota arquivística
| Processo 12242 |
Fólios
| 64r |
Transcrição
| Ana Rita Guilherme |
Revisão principal
| Mariana Gomes |
Contextualização
| Ana Rita Guilherme |
Modernização
| Raïssa Gillier |
Anotação POS
| Clara Pinto, Catarina Carvalheiro |
Data da transcrição | 2008 |
Illmos Senhores
He notorio em todo este Bdo
q o B
D
Juzeph de barros de Alarcam
qdo prendeu
me foi da parte de
S
M
q
Ds
gde por ordem q dise
tinha, e com esta vos Real
me teve oprimido na prizão ha dous annos reteudo sem
recurço nenhum a
Cauza pello q o fes, eu a darei
e do modo q me formou os crimes
qdo me vir
na prezença de
Vas
illmas. Apurado eu de tam porfiada tirania, e
nam de
ferir minhas petiçoens, nem darme
Livramto ou remeterme ao tribunal
q tocam esses crimes. Desta injustissa e violentia fis
fuga e não da prizão
em 18 de mayo fui a buscar o
sagrado das Igrejas pa ir dar satisfação
de mim a
Vas
illmas como tinha avizado, e o buscar recurço ao
tribunal q
tocasse.
Tanto
q me vio nesta Liberdade mandou publicar huma
excommu
nhão, q era prezo do
Sto officio, pa
q me não valesem os fieis, e com esta vos
ati
midou a este povo, e as religioins valendose do brasso secular e
tiroume do
Colejo, e tem me mais oprimido com excecivo rigor carregado de
ferros sem
remeterme nesta frota visto dizer agora
q sou prezo do Sto
officio, me deixa
neste aperto, dizendo q não he
meu juis, e q tem avizado, con tenção de me
a
cabar a vida nesta prizão; parecendolhe
q os meus ecos, e clamores não cheguem
a
noticia de Vas
illmas
pa me remirem, e por cobro na facilidade con
q se val do
nome do
Sto officio pa
vingança, e molestar aos fieis; com esta vos prendeu a
hum Lionardo de
sáa con tanto estrondo e escandalo q o teve
prezo, e oprimido
com ferros o tempo, q lhe durou
a payxão, sem cauza, nem culpa de prosesso, ao
depois o soltou não guardando o
decoro, e veneração com o respeito q se deve
ao
Sto officio sendo B e comissario.
Vas
Illmas são os que prezidem nesse
Sto tribunal; asim como he de justissa
pa castigar a culpados tambem he de mizericordia
pa absolver aos innocentes:
portanto
pesso a Vas
Illmas pellas sinco chagas de nosso
Sor Jezu Christo me
mandem remir por
algum comissario, q logo me remeta com todas as
cul
pas, e q me dem todos os papeis
pa minha defeza
q estão ja julgados no juizo
eclesisastico, e
sicular q mos negão a respeito do B,
q tudo me empede e seu
Vo
gl e por seu gosto me quer fazer judeu, permitira
Ds
q constara a Vas
Illmas a
limpeza de meu sangue, e da
familia, q procedo, q
della ouverão mtos Prince
pes,
eCleziasticos, e grandes columnas da Igreja, e meu irmão
D
Constanti
no Sardinha Rangel, he Bispo da
xina e como me acho com a concientia
se
gura não me temo das culpas q formou,
q se eu logo tivera noticia
avi
zara. Perdoem Vas
Illmas a minha confiança
q he nascida da minha
ex
cessiva, e dilatada prizão.
as pessoas de Vas
illmas
gde
Ds por felecissimos an
nos
cadea
20 de mayo de 1692 annos
Com o divido respeito, e obedientissimo a Vas
Illmas
o Pe
Vo
Franco guomes Sardinha