Representação em facsímile
1722. Carta de frei António das Chagas para [António Ribeiro de Abreu], Inquisidor de Coimbra.
Autor(es)
António das Chagas
Destinatário(s)
António Ribeiro de Abreu
Resumo
O autor pede conselho ao destinatário em relação a umas confissões que tem ouvido a uma mulher que parece estar possuída do demónio.
tal sogeito a sua caza, e sem a sua gente entender o q he,
porq a
tem por assombrada, e cuida, e tambem os mais q lhe vou ler exor-
cismos etc outras vezes vem ella ainda No q toca os pac-
tos
q de novo lhe lembrarão mandeme Vmce dizer se basta q fi-
quem assim sem ser nro declarar algũas pessoas com quem tocão
tais pactos
como a da mer entende e assim me parece plo modo
q me dis se fazia isto, e como ja forão as tais pessoas denunciadas
por culpas
semilhtes e não sabem por q modo erão constrangidas
a peccar, dis a tal mer lhe conselhavão os confesores não falasse nisso
salvo ouvesse pessoas
diversas, modo de peccar diverso etc e assim dis
q tem passado mtas confissois, e se ouver de tornar a dar conta disto
serlheha mui custozo e talvés
nocivo. sobre isto peço reposta em
forma q lha possa mostrar; só me fallou em hũa criança en-
tre as mtas q se matarão pa os Rios, das
quais tenho algúns em meu
poder pa se queimarem, pa a morte da qual concorreo a Marianna
e outras pessoas, dis q não sabe q as tais
pessoas q matavão as crianças
q as cozião, e queimavão, por mando do demo q ali assistia em
figura de homem, erão
sabedoras q aquillo era pa veneficios e por
mando do mesmo demo he mto de prezumir q assim fosse,
emqto
á Marianna não tenho duvida, nem tão pouco em q seja hũa gde
bruxa e por isso eu ja a Vmce toquei q tomara
apanhala em hũa
por modo q contra ella se podesse proceder, e em algũas destas mor-
tes das crianças he q eu a esperava, se ouvesse dos mais assisten-
tes
algú q contra ella depuzesse álem da Roza, porem esta me
disse despois q todas estas diabruras das tais mortes estavão denunci-
adas, e perguntandolhe eu
qtas serião, disseme q das q ella sabia serião
serião dés ou doze, se Vmce me poder mandar dizer se
lá fautas, e se está lá algũa em q entre a da Marianna e hú
clerigo q creio era pai da criança q então se chacinou, e
não sei
se parente da mesma Roza, segundo minha lembra porq se acazo
por este meio, ou plo depoimto do tal clerigo, ou por outro
semilhte
se podesse achar porva pa se prender a da Marianna, nesta he q
está todo o segredo deste nego e esta he a
q havia de dezembru-
lhar a meada, se lá ouvesse meio com q a obrigassem a fallar
a verde e de outra sorte suponho q nada se fará.