Autor(es) |
Jorge Moreira
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Destinatário(s) |
Anónimo541
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De |
Portugal, Esgueira, Mesa do Vouga |
Para |
Portugal, Coimbra |
Contexto | Este processo diz respeito a Jorge Moreira, cristão-velho, doutor, prior da igreja de Macinhata do Vouga, processado por sodomia depois de voluntariamente se ter apresentado, em 1584, à Inquisição de Coimbra. Quando interrogado, disse que as pessoas com quem tinha cometido «o pecado nefando» tinham sido António Henriques e Francisco João, seus criados durante mais de oito anos. Ao mesmo tempo, tinha-os ajudado, como testemunhou, a formarem-se homens honrados, tendo António Henriques até ficado rico. Agora, treze anos passados, admitia, no entanto, também ter demandas com ambos. Aparentemente, foi por isso mesmo que se apresentou ao Santo Ofício, de medo que os outros o denunciassem. Foi condenado a penitências e a residir longe de um rapaz, Manuel do Couto, que morava com ele. O réu dizia que era seu filho ilegítimo, mas a Inquisição suspeitou que fosse seu parceiro sodomita. |
Suporte
| uma folha de papel dobrada, escrita nas duas primeiras faces. |
Arquivo
| Arquivo Nacional da Torre do Tombo |
Repository
| Tribunal do Santo Ofício |
Fundo
| Inquisição de Coimbra |
Cota arquivística
| Processo 5425 |
Fólios
| 10 r-v |
Socio-Historical Keywords
| Rita Marquilhas |
Transcrição
| Leonor Tavares |
Revisão principal
| Teresa Rebelo da Silva |
Modernização
| Rita Marquilhas |
Data da transcrição | 2009 |
Mto illustres snores inqsidores
Disse eu contra mỹ, nemine nihiloq cogente, nessa santa mesa, o q na vdade minha
memoria me representou, in delictis juventutis, E
de mais cõplices dissera, E denun-
ciara, se me mais lẽbrara, mas dos dous q nomeei, me lẽbra q o frco
yo, me pareçe q nunqua
ao menos por meu vaso, o quis dandolhe eu
copia, nẽ q eu no seu entrasse, ao menos, de-
pois q nẽ mais foe entendendo, E sẽpre mto de má mente se
chegou a isso, o q por vdade
assi declaro inda q nos nã fallamos, E trazemos demandas
ante o cor, pante quẽ o çitei
pa contas e ultimas vbas de meu testo ẽ q ando, E elle ay me
reconviu, E depois de
haver de mỹ mais de dozentos mil rs afora o offo me é ingratissimo, E envejoso doutros,
mas o
Anto anriquez q té góra sempre a esta casa veo a comer E beber, e nõ tẽ já
comigo demanda: denunçio, E se posso, acuso quo mto reu q dito tenho, E quo de
um judas, E de um ante xo
sẽ conçia, tanta deffrca vae deste a essoutro e mor, q do
inferno ao firmamẽto,
Quanto a mỹ: hómẽ, q
tã sýnçeramte me ay cofessei, E denunçiei, vir Estar preso,
me maravilho, E mto arrependo nõ ter antes fta
essa denunçiação ẽ o secular,
onde os q denunçiã, ou cõpliçes descobrẽ, hã liberrimo pdão E ainda outras gajas,
E mais q dezenove anos há me chamando sẽprer per aquy derrador té avro pa seus
sermões E festas todas, sto hora tãbẽ d avro ẽprazado pa dia de nossa sna do Ô,
E pa dia de Sã Thomé, E
na 4a fra q no mo fica, pa as exequias de ge moniz da
Syllua ay e Santo anto, vizinho E amiçissimo q foe meu, E hirmão na confraria
dos clerigos
de Sã po e Segadaes, os quaes lá se juntã todos a dita 4a fra, onde cuido q
me deitarão a missa
do pontifical, cantda, E farão prégar ainda esse dia, ca tantas
fras per qua representa homẽ ás vezes, E se tãbẽ me for
neçessario ir a essa
çidade nã sei se sã estas cousas ẽ os longes,
tãbẽ me ficou ao proposito por lẽbrar
nessa mesa, um grandissimo segredo
açerca de um natural fo meu, q no ano de 58, houve ẽ yana lopez casada ẽtã,
q ẽ casa de seu pae meu onde me eu mety chegando da corte, morava E ser-
via cõ seu mdo rodrigu eanes, o qual
fo mandei eu há 18 ãnos trazer pa esta
egreja, de idade hia ẽ sete anos, E o criei ao cabo de minha mesa ẽ pee comendo,