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Maarten Janssen, 2014-

Representação em facsímile

1722. Carta de Manuel Bicudo Correia para o seu pai, João Bicudo Correia.

ResumoO autor conta ao pai que a irmã está viva e que o marido desta tem tido um comportamento estranho.
Autor(es) Manuel Bicudo Correia
Destinatário(s) João Bicudo Correia            
De América, Brasil, São Paulo
Para América, Brasil, São Paulo, Pindamonhangaba
Contexto

Este processo diz respeito a Domingos Luís Leme, de 35 anos, cristão-velho, lavrador, natural do Rio de Janeiro, filho de Francisco Luís Leme, também lavrador, e de Ana Gerdenha. Casado com Isabel Bicuda, voltou a casar com Maria Morais de Madureira. Em junho de 1731, foi sentenciado a sair em auto da fé, a abjuração de levi suspeito na fé, a ser açoutado pelas ruas públicas de Lisboa, degredado por cinco anos para as galés, instruído na fé católica e a mais penas e penitências espirituais.

A sua mulher Isabel Bicuda era filha de João Bicudo Correia, irmã de Manuel Bicudo Correia e sobrinha de Francisco Alves Correia, Manuel Nunes Brito e Maria Moreira. Todas estas pessoas escreveram cartas porque pensaram que o réu, para poder casar-se uma segunda vez, fora a Minas Gerais com a intenção de matar a sua primeira mulher. Estas cartas foram apresentadas à mesa da Inquisição de Lisboa por João Bicudo Correia, pai da vítima.

Segundo consta do processo, o réu teria a intenção de matar a mulher, mas, demovido pelo mestre de campo Manuel Nunes Viano, que o avisou de que se o fizesse iria correr mais perigos, voltou à sua terra e começou a dizer por lá que a primeira mulher estava morta. Isabel Bicuda, que soube da intenção do marido, fugiu, tendo sido vista por João de Sousa Cabral a vender produtos sob a proteção do capitão-mor José Elias, na Bahia.

Por outro lado, outras pessoas alegavam que Isabel Bicuda tinha fugido com outro homem e, indo o marido atrás dela para a trazer de volta, a tinha encontrado morta, tendo sido assassinada por um dos tios da mesma. Esta seria, provavelmente, a versão difundida pelo réu. De facto, em depoimento em Lisboa, a 16 de junho de 1725, este contou o que, segundo ele, se passara. Dezasseis ou dezassete anos antes, estando ele solteiro e morando em São Paulo, havia casado com Isabel Bicuda, viúva de Francisco Nunes. Estiveram casados dois anos e não tiveram filhos. Depois, ele teve de ir a Minas Gerais e levou-a consigo, mas deixou-a entretanto em casa de um cunhado dela, já que precisou de voltar à Vila de Bom Sucesso para pedir a bênção de seu pai, que estava a morrer. Quando regressou a Minas Gerais para a ir buscar, ela havia fugido com outro homem. Depois de a procurar durante dois anos pelos Currais da Bahia e de Pernambuco, sempre sem ter notícias, resolveu refazer a sua vida e tratar das suas terras. Passados doze anos, começou a viver com Maria Morais de Madureira, viúva de Miguel Rodrigues, mas os parentes desta obrigaram-nos a casar. Segundo ele, ameaçaram ambos de morte, caso não o fizessem. O réu alegou também terem sido os pais de Maria Morais de Madureira a arranjar as testemunhas para provar que a sua primeira mulher estava morta, bem como a pagar ao visitador para dar licença para o casamento. Assim, em 1720, casou com a segunda mulher, com a qual viria a ter dois filhos e uma filha. Confessou ainda que tentou encontrar a primeira mulher para a matar e repor a sua honra, levando consigo apenas dois negros. Considerava isso justo, por ela o ter trocado por outro homem.

Suporte meia folha de papel de carta escrita apenas no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Inquisição de Lisboa
Fundo Processos
Cota arquivística Processo 2645, 1º caderno
Fólios 23r
Socio-Historical Keywords Maria Teresa Oliveira
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Catarina Carvalheiro
Contextualização Leonor Tavares
Modernização Raïssa Gillier
Data da transcrição2015

Page 23r

Meu Pai e Sor?

Não serve mais que estas duas Regras pa saver da boa saude do S e da Sra Minha Mai he todas as famillias de caza que pasem Com saude em serviso de noso Sor eu deus louvado de saude bem agora de frutuna bem Mal porque não ganhei nada pela somana santa porque Me faltou Meu tio Ml nunes Commigo o Mesmo he hũu home ser pobre que tudo anda az avesa mais Com folano Com a votate de deus porque deus ainda tem mto que dar senpre levarei alguma Couza Com que pase eu a vida e farMea favor dizer a sua filha que Me não gaste o milho que Colher porquanto que faso Contas de levar dois Cavalos que ja tenho Comprado ja tenho pago o tio esteve pa pagar porque não andar Comprando milho tendo aos vite de abril faso Contas de ir buscar a Meu irmão pa ir ter a festa do Sor bom jezus e quando eu tarde mto a festa de nosa senhora ei de estar Com Vmce he diga Vmce a sua filha que tenha pasiensia que eu la vou que eu porei iso logo bem he jutamete faso esta advirtensia a Vmce de que Dos Luis andou fazendo por aqui e todos oz irmão escreveram huã Carta falsa em nome de Vmce a Meu tio frasisco calve no rios das Contas pa que hele Matase a minha irma i hele em chegando dis que adou pubricado que ia matar a mulher que minha irma savedo iso se pos en cobro dele aqui escreveu Meu tio mto Molestado de Vmce ter mandado a hele pa la la vai a Carta que Meu tio esCreveu no meio desta pa que Vmce veja do que hele andou fazendo porr aqui que minha irma esta viva e Com isto não tenho mais pa manifetar a Vmce se o que quero que Vmce Me bote sua besam pa que eu va Com saude pa la oje 30 de abril de 1722 annos Seu filho que mto lhe quer

Ml Bicudo Correa


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