Representação em facsímile
1620. Carta de Rui Fernandes de Castanheda para a sua mulher, D. Catarina Faria de Alpoim
Autor(es)
Rui Fernandes de
Castanheda
Destinatário(s)
Catarina Faria de
Alpoim
Resumo
O autor dá instruções à sua mulher para que ela o ajude a melhorar as
suas condições de vida na prisão, pois está muito doente.
Minha molher e senhora de minha alma foi deos
servido tocarme cõ o seu dedo como dise david. e por
me no mais mizeravel estado q a fortuna podia
achegarme com ficar a esta ora metido no car
se da enquisisão com nome de judeu sendo eu tão
e tão zeloso da ffe como des e vos me sois boa testa
troixeme o portador deste q he o sõr amto glz familiar
pesoa conhesida e amigo antigo e bem o mostrou em
fazer ofisio de pai q serto em toda a vida lhe pode
rey pagar ainda que lhe dera des mil cruzados
o amor e cortezia cõ que me tratou sem me ver nĩ
gem nẽ trazer gente de guarda cõsigo mais que
virmos ambos dormindo em hũa cama e comẽdo
a hũa meza cõ tanto amor como se fora meu pai
e se asim não fora e tivera tão pouca ventura q
me fora buscar outra pesoa ja fora morto por o
estado em q estou de doenca e fraqueza de dor
mir na prizão da vila de caminha tres somanas
caregado de feros cõ tantos trabalhos e fraquezas,
eu não tenho aqui mais que por os olhos no seo e
pedir a jesu xpo e a sua bemdita mai me queirão
dar muita pasiensia e livrar de tão grãode falco
testemunho e restaurarme minha onra e que
me mostre vervos antes que eu acabe esta triste vi
da e despois faca de mỹ o que for mais seu santo ser
vico pois foi servido q eu nasese pa pasar tão grão
des e ynmencos trabalhos e afrõtas em q ao prezen
te me vejo q ja de mỹ não sinto tanto porque com a
cabar esta triste vida descansaria somte o que sinto