Representação em facsímile
1701. Carta de António Nunes Álvares, arcipreste e vigário de Ervedal, para o bispo de Coimbra [D. João de Melo].
Autor(es)
António Nunes Álvares
Destinatário(s)
João de Melo
Resumo
O autor informa o bispo de Coimbra sobre as diligências que fizera em Folhadosa, no decorrer do processo de casamento de Maria Ferroa.
carta, e perguntandoa secretamte se era a q por si, ou por outrem
tinha escrevido a Va Illma pedindolhe conselho q estado tomaria,
respondeo q sim, mas q logo no dia seguinte depoes de mandar
remeter essa carta, instada pello benefficiado Mel Gracia seo parente
e cominada por seos paes, se resolvera a tomar estado de casada,
e lhes fizera essa promessa, se a livrassem de escrupolos de conciencia
E advirtindolhe eu q visse o q fazia, poes q confessava na carta q a Va
Illma escreveo se despozara com Jesu Christo fazendo votos de castidade
e q nosso Snor a poderia castigar renunciando o maes perfeito estado sem
necessidade, poes estava informado, q suposto lhe morreo hũ irmão,
lhe ficarão dous, hũ q tinha ido pa o alem Tejo, outro q tinha em
casa: respondeo, q não avia noticias do q foi pa o alem Tejo, e q o q esta
em casa por achaques q padese he incapaz de casar no q achei falar
menos verdadeira por ser contra o q achei por informação, e conheci estar
ella, sem esperar por resolução de Va Illma, determinada a tomar estado
conjugal. Naquelle pouco tempo q estive falando com aquella
mer, descobri nella mta vontade de estar em opinião de santa sem
renunciar amor proprio, porqto me disse, q quando Deos lhe nam
despachara as peticoes dandolhe vida ao irmão de q fas menção na carta
lhe fizera queixas, dizendolhe, basta Snor q com esta minha virtude
não mereci ser de vos ouvida. E q logo pa dar a intender a não
queria naquelle estado celibado, a deixara em sequidoes na oração men-
tal por mto tempo, achandose até ali por mtas vezes interiormente conso-
lada. E fazendolhe eu advertencia, q pa ter sequidoes na oração bastavão
peccados viniaes q esfrião o fervor do Espirito, ou quererlhe Deos casti-
gar algũa soberba espiritual, e q não devia pertender q elle a despa-
chasse á vontade propria, mas querer o q elle fosse servido dispachar
por sua santissima vontade, e q Sto Anselmo, expondo aquelle lugar
da escritura q affirma fizera S Paulo tres peticoes a Deos sen q fosse
ouvido, comentara, q não era grande o despacho q Deos dava á vontade
das creaturas, mas só aquelle q lhe dá qdo despacha o q he utilidade
dellas. E q não tivesse pa Si, fora inspiração divina aquelle pensamto