Meu estimado Thio
Lisboa outo de Agosto de mil
outocentos, e vinte, e hum De minha caza me par
ticipão este correio que Vocemece anda muito aflicto, com
as amiaças, que lhe fazem os Padres, de que hão de ser se
nhores do que hé seu; porque Vocemece alem de perder
o filho, que elles lhe matarão, ha de ficar sem o que
tem; porque ha de ser condemnado. Meu Thio
não se afelija, o tempo da Arbetrariadade ja não existe
que importa, que elles provassem, o que quizerão, se as
ttestemunhas da terra (são as que devem decedir por
que se tracta de hum facto acontecido ali) Ousção
as femias delles, ou criados casados com as mesmas
femias delles, e as de fora não o sabem de facto, que
são taes quaes o Mundo conhece. Não se asuste, pro
duza Vocemece testemunhas de carater, contraditan
do as ttestemunhas delles, com ttestemunhas das mes
mas terras, e deixe dizellas, que os Ministros, e Escrivans
da Meza de Coimbra os trazem fichados na algibeira.
Devo afirmar-lhe, se lhe não fizerem justiça o Sobe
rano Congresso, está como todo Mundo sabe, com
o braço alçado, sobre a preponderancia, e injustiça.
Ficão em meu poder os Despachos, que o Vigario
Geral de Coimbra lhe tem dado, os quaes me forão
transmitidos pella minha familia, asim como são
as coppias, se fossem os Orginais, elles avião de ser pre
zentados ao Soberano Congresso. Hé na verdade
athe onde pode chegar a maldade de hum Mi
nistro, dizendo ser paixão em Vocemece, como
Como Pai de seu filho morto, querer cquebrar o segu
ro, com fundamento, aos matadores de seu filho, mos-
tra demaziada paixão, hora quem sera mais apai-
xonado, Vocemece, qui hé Paii, ou o Ministro, que
o chama apaixonado!!! Custa acreditar, que em tal
tempo se profirão despachos desta natureza; por
tanto visto semilhantes despachos deve dar por sus-
peito semilhante Ministro digo semilhante Juiz
pella demaziada paixão, que mostra; pode muito bem
ser sejão patrocinados por Antonio Godinho, que
lhe servio de Testemunha para a defeza dos mesmos
Reos, hé amigo, e parente do secretario do Bispo;
porque só por dinheiro, ou por grande empenho
hé que o Vigario Geral podia proferir semilhantes
Despachos, sejão qual for os Ministros desse Juizo
elles hão de bandiar-se huns com os outros a favor
dos Reos, deve aconsilhar-se, e vêr se pode decli
nar para outro Juizo, que não seja do Foro delles
matadores, e se fôr necessario, que Eu aqui requira
ao Soberano Congresso, ou ao Poder Executivo que
hé o Rei, estou pronpto, porque se lhe a de admi
nistrar a Verdadeira justiça, não tema os Amiaços
nem os Boletins, que elles espahão, hé tudo para
o intimidarem, e quando taes amiaços o asustem
faça saber, e avizar de tudo isto a seu Sobrinho, e meu
Mano Antonio Joze Lourenço da Villa de Cêa fa
zendo lhe Procuração, porque elle se prestará emquan
to eu não Vou; porque injustiças não se devem
sofrer, e deixe o o cazo por minha conta; cujos
Sentimentos, e recomendação são tanto, meu Ma
no Antonio Joze Lourenço, como meus Manos
Doutor Ignacio, Douttor Joze Lourenço, que ao fazer
desta se lhe recomendão, e confirmão o dezejo
Dezejo de verem ponidos semilhantes malevolos de de
pravados custumes. ADeos, foi prezo o Padre
João Bernardo por ter a destreza de roubar hum
rebatedor em huma somma grande, o qual foi
prezo no mesmo dia no fim de dizer Missa no Con
vento do Carmo, veja que tal hé a raça, huns
matão por officio, e outros roubão, digolhe, que
são a deshonra da minha Patria, e contraste
do Bispado de Coimbra; mas que ha de ser
ahonde a Justiça daquelle Foro Despacha como
se vê promovendo os Asasinatos para que sol
tos continuem a matar de que lhe não conside
re o Unico Filho que lhe resta seguro, de que tenha
toda a cautella Esta carta lhe mando entregar
por via da minha famillia por ignorar se voceme
ce manda ao Correio; pois sobre este asumpto
já lhe escrevi pello Correio de Cêa, e não tive resposta
pode ser fosse á mão dos Matadores, porque ja tem
por Custume tirar as cartas do Correio, e abrillas.
Sou seu amigo, e sobrinho
Manoel Joze Lourenço da Fonceca