Nenhuma outra Razão (a não ser este justo recentimto)
me obrigaria a pegar na pena para escrever a hum
homem tão vil, e tão indigno como voce.
He o cazo Estevão Ferreira Rocha perceguido de huma
má estrella, arrastado da necessidade, e fome, depois de
naufragar a mais de secenta legoas distante de Lxa,
depois de andar a pé, e sem ampáro, ou abrigo to
da esta estenção: aqui chegou e como elle de umanos
descende descende julgou encontrar quando ahi foi, não
defezo azillo, porem ao menos algum benefficio, que se
bem que ahi dizem não haver obrigação, eu tenho votos pa
o contrario: não proceguirei porque não tenho lequidaço
ens, e só fallo nisso por effeitos de queixa, de mais quan
do não fossem estas, e outras fortes razoens hera bem
de esperar aquelle benefficio que o proximo como
proximo menistra. Farei ponto neste argumto
porque o grande mundo de tudo se compoem, e
minha Tia se não fez asi, porque em tál cazo se
faria quando não mais generoza, ao menos umana.
Vamos ao seu cazo, sim vou fallar com
voce. "De que razão he munido para dizer a
Estevão" Ainda voce não tem vergonha de a
aqui aparecer? Pregunto-lhe em que processo seu
he elle criminozo? Não tem resposta a dar-me? Olhe
que quem lhe fáz esta progunta he irmão de
Estevão, e he aquelle que só busca de hoje em di
ante ocazioens de o vêr: voce trema de o ouvir em
o seu justo recentimento, calado tenho estado the hoje
não me pizasse, não offendece meu irmão, se bem que eu
já o devia ter procurado para lhe fazer serta progunta,
e fazer-lha deveras, porem hoje tudo se ajunta.
Voce que tem enchido de ignomia os meus paren
tes: voce tem dado que falar a esse bairro todo: voce
tem dislustrado a delicadeza com que se falava dos
meus. Responda-me a mim não teve voce vergo
nha de aparecer a Estevão? e não tem voce vergonha
quando aparece aos meus, e quando lhe aparecer: eu
lhe o proguntarei: entre elle, e voce não há con
fuzão de qual seja o réu, voce bem o sabe, e sai
ba que a capa de hypocrita com que sempre
voce se cobrio he transparente e não o cobre a
meus olhos. Que pode voce arguir a Estevão
por concelhos seus he que minhas Tias, etc etc
etc etc etc etc etc lançarão mão de nós os err
ros nossos achavão sobejo castigo em seis assoutes,
e quatro palmatoadas, porem as suas vistas
forão sempre que os nossos dezamparacem,
e que lhe deixacem campo livre para seus cri
mês; sem vergonha desde a idade de reflecção
the a velhice na mesma carreira: athe
eu mesmo me envergonho de me lembrar dos
erros de voce, não sou só o que fallo quem o co
nhece o mesmo diz. Eu me ademiro, eu louvo
a purdencia de meu mano em deixar empune
tanta uzadia, saibão todos que não forão os
remorços que o deixarão em innacção foi sim
sua indolle. Na Panha encinarão-no a
elle onde eu morava tãobem o podem encinar
a voce, porem voce não tera preça de me fallar,
eu o procurarei... Ma Tia para desculpar-se
de fazer-lhe algum benefficio mandou-lhe dizer
pela criada Para que deixou elle o Collejo
onde estava onde estava tão bem?
Que
razão!... que razão para a nega de hum benefficio
etc etc Eu sei, eu sei as razoens por que voce
assim procedeu; as suas manhas ainda que
lhe- as obeccervei na minha imfancia conhe
cias a fundo. A vaidade... ... a Soberba suas
favoritas, e em voce de sobra não sofrião
que lhe fallace, e se tratace por parente
de minha Tia hum homem corrido da
fortuna, e só portegido da indigencia , por is-
so voce usou da groçaria que só a voce,
e não a elle fazem Réo: com que tempo
tem de antemão estude a resposta que nós
nos encontraremos porque lhe ha de fazer
a deligencia
Joaquim Simplicio
Fra Rocha
Mano de Estevão