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Maarten Janssen, 2014-

CARDS2014

[1724]. Carta de Francisco Gonçalves Machado Carrina, padre, para seu tio, Jorge Fernandes, também padre.

ResumoO autor escreve a seu tio dando notícias de negócios pessoais e do estado do seu processo.
Autor(es) Francisco Gonçalves Machado Carrina
Destinatário(s) Jorge Fernandes            
De Portugal, Miranda
Para Portugal, Bragança, Argozelo
Contexto

Segundo informações do Caderno do Promotor, alguns moradores de Argozelo identificados como «gente de nação dos cristãos novos» disseram que Isabel Gamboa, moça solteira e «mulher meretriz», difamava todos os moradores com mentiras e nomes muito injuriosos, vivendo durante o dia e à noite com a porta aberta, pelo que havia pendências e discórdias entre ela e aqueles moradores. Isabel Gamboa nem seria daquele lugar e não pagava a sisa, pelo que os moradores pediram a sua expulsão ao Juiz de Fora (19/10/1730). Depois de expulsa, Isabel Gamboa começou a queixar-se dizendo que, se a queriam expulsar, era por ela não querer «ajudiar» com eles, no que foi ouvida pelo padre Francisco Gonçalves Machado Carrina, que denunciou o caso ao Santo Ofício. O comissário que se deslocou a Argozelo não concluiu nada do auto de testemunhas a que procedeu. Comentou até, na carta de 20/10/1731 que dirigiu a um Inquisidor de Coimbra (transcrição normalizada): «Na forma que VSa. me ordena, fiz esta diligência inquirindo as testemunhas nela conteúdas, com aquela exação e cuidado que a matéria pede, sem que pudesse alcançar cousa alguma mais que o deposto pelas tais testemunhas, de cuja verdade não posso fazer firme conceito. Porque as pessoas que, pela sua qualidade e limpeza de sangue, se fazem dignas de crédito não podem saber cousa alguma dos particulares da gente de nação dos cristãos novos pela grande cautela que usam, mostrando-se nas suas ações exteriores mais pios, devotos e católicos que os mesmos cristãos velhos.» (fl. 254v). A Inquisição não terá chegado a levar esta suspeita de judaísmo por diante, pelo que houve lugar à instauração de processo. Os moradores de Argozelo que Isabel Gamboa denunciara, entretanto, fizeram a sua própria exposição ao Santo Ofício e alegaram sobretudo que o padre Francisco Gonçalves Machado Carrina era «inimigo capital dos sobreditos moradores», conservando destes um ódio que o levava a maquinar as mais ardilosas artimanhas para os incriminar. Como o dito padre era «de tão má língua», chegava a insultar os moradores de «cães, perros, judeus e hebreus», como pretenderam provar pelas catorze cartas que enviaram à Inquisição e que o padre tinha trocado, anos antes, com um seu tio. A razão do conflito entre o padre e os moradores não fica nunca muito clara na documentação conservada, mas teve provavelmente a ver com o facto de o padre ter sido processado no passado sob acusação de ter engravidado uma jovem.

Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.

Suporte meia folha de papel dobrada escrita em duas faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Coimbra, Cadernos do Promotor
Cota arquivística Livro 361
Fólios [259g]r
Transcrição Leonor Tavares
Contextualização Leonor Tavares
Data da transcrição2008

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Sr thio aqui me dis Amaro das eiras q ja se prenCepiarão a notefiCar asim V m se se quer liverar Ca senpre se o notefiCarem he neCeCario hir a BraganCa dizer q fas termo de se liverar e pode intão dizer ao escrivão q Ana pires he o mesmo e manifeste ao ladrão as Cartas de seguro Amaro das eiras vai bem servido Com Carta das putas do ladrão bem podera V m isCuzar q se falase em Vra. na vezita q heu o ataCara antes de hir mas V m não mo mandou dizer numCa que heu bem vezes queria ja não tem remedio o Anto me escreve dizendo o baChoro do cepeda partio pa Braga sinto partise por que se desingana da cegueira que lhe troxe o gaio mas na Cauza em que lh eu sou parte ja avia de aChar ComCluza saiba dos escrivãos de outro se tem feito as 4 procoraCão pa Braga algum letrado nesta Cauza em que se sou parte tenho muita Conta se deixou posto resCrito in braga ou se o querem por Ca porq intendo que em que o ponha agora não se a de servir porq a 26 deste ja fas 2 Mezes que se lhe reCebeu apelaCão he o que serve ter sentido nisto porq Como foi desinganar ja não valem Cartas supostas o diga que o amaro leva Carta de quem digo porq trazem rebique e manto la reComendo ao Anto isto mesmo e que avise a V m pa q V m me avise do que o pero troxer de Braga e pa q Bispado fazem tenCão levar a Cauza porq cazo se lhe não anule o resCrito pa mandar vir as Cartas de Lisboa diga ao aranhas não da minha parte q repare pasados seis dias se pode dizer misa o dipois de noteficado mas Como Ca tem o botelho não inportara e q não venha em conhecimto he couza minha este aviso - he se o ladrão não tivera a V m pornumCiado e Ana pires a termo ou livramento ou q o diabro que o leve he o ataCara Com Certa Carta porq sou de hũm Caza a pouCo tenpo a q inda que o levara o diabro não le avia de faltar he fa da fra he deCera da Carta do Amaro porq tenho sido Chamado pa rezar avangelos muitas vezes mas isto avia de ser antes de o prenunciar asim


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