Senhor Redactor da Mnemosine C
Em certa epoca, dei certo dinheiro, para certa coiza. Quando asignei andava
a
sõma por hums seis contos de reis; dizem-me que chegou a oito contos. Vie
rão receberme o dinheiro
com que subescrivi: e hé natural que o recebessem dos outros.
Não se distribuio por aquellas para
quem dizião que era: he natural que alguem o te-
nha. O primeiro que
figorou na aquizição não era nem he nem sera capas de o ter,
e não dar contas; digamolo em
bom portuguez, de ficar com elle. O segundo pr
tanto he que o quer bifar. Queira por este
lembrete no seu interesante Jornal,
para ver se se invergonha o sujeito que esta conchavo com elle, e o
derige ao seu
destino; e quando não saia á esporada, guardeme hum cantinho no seu
Jor
nal daqui a oito dias, porque entao vai a historia trocada em miudos com
o nome do sujeito. Quem
quizer ficar com 8.000.000 reis alheios, procure os meios
de cohonestar ação; finga huma
fallencia, hum incendio de carteira, ou outro
algum incidente, tanto em voga em nossos tempos; mas
receber dinheiro para
se distribuir em donativo á tropa, e querelo suripiar. O Ceo clama, a honra o
fendesse, e os
logros aomentãose, e os ladrões multiplicão-se, e inda em cima se
riem, e eu que dei o meu dinheiro para hum
valorozo cidadão para hum de
fensor da Patria ter hum dia hum jantar que lhe encha a barriga, onde beba
á saude
da salvação da Patria, não concinto que hum que nada disto he, an
tes he hum trapalhão coma todos os dias piruns, e
rode em burnida sege á
custa dos lorpas e loirasas que lho entregarão e não lhe pedem
conta. Adeos
Sr Redactor, até á semana que vem. Queira por isto, que o homem
se VMce não
fica
com o dinheiro, e quem perde he a tropa. Tenha dó dos pobres ca-
maradas.