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Maarten Janssen, 2014-

CARDS2149

1584. Carta de Jorge Moreira, capelão, para os inquisidores de Coimbra.

Autor(es) Jorge Moreira
Destinatário(s) Anónimo541            
De Portugal, Esgueira, Mesa do Vouga
Para Portugal, Coimbra
Contexto

Este processo diz respeito a Jorge Moreira, cristão-velho, doutor, prior da igreja de Macinhata do Vouga, processado por sodomia depois de voluntariamente se ter apresentado, em 1584, à Inquisição de Coimbra. Quando interrogado, disse que as pessoas com quem tinha cometido «o pecado nefando» tinham sido António Henriques e Francisco João, seus criados durante mais de oito anos. Ao mesmo tempo, tinha-os ajudado, como testemunhou, a formarem-se homens honrados, tendo António Henriques até ficado rico. Agora, treze anos passados, admitia, no entanto, também ter demandas com ambos. Aparentemente, foi por isso mesmo que se apresentou ao Santo Ofício, de medo que os outros o denunciassem. Foi condenado a penitências e a residir longe de um rapaz, Manuel do Couto, que morava com ele. O réu dizia que era seu filho ilegítimo, mas a Inquisição suspeitou que fosse seu parceiro sodomita.

Suporte uma folha de papel dobrada, escrita nas duas primeiras faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Coimbra
Cota arquivística Processo 5425
Fólios 10 r-v
Socio-Historical Keywords Rita Marquilhas
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Teresa Rebelo da Silva
Modernização Rita Marquilhas
Data da transcrição2009

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Aos mto illustres Snõres Inqui- sidores na cidade de de Coybra mssrs Mto illustres snores inqsidores

Disse eu contra mỹ, nemine nihiloq cogente, nessa santa mesa, o q na vdade minha memoria me representou, in delictis juventutis, E de mais cõplices dissera, E denun-ciara, se me mais lẽbrara, mas dos dous q nomeei, me lẽbra q o frco yo, me pareçe q nunqua ao menos por meu vaso, o quis dandolhe eu copia, nẽ q eu no seu entrasse, ao menos, de-pois q nẽ mais foe entendendo, E sẽpre mto de mente se chegou a isso, o q por vdade assi declaro inda q nos fallamos, E trazemos demandas ante o cor, pante quẽ o çitei pa contas e ultimas vbas de meu testo q ando, E elle ay me reconviu, E depois de haver de mỹ mais de dozentos mil rs afora o offo me é ingratissimo, E envejoso doutros, mas o Anto anriquez q góra sempre a esta casa veo a comer E beber, e tẽ comigo demanda: denunçio, E se posso, acuso quo mto reu q dito tenho, E quo de um judas, E de um ante xo sẽ conçia, tanta deffrca vae deste a essoutro e mor, q do inferno ao firmamẽto, Quanto a mỹ: hómẽ, q sýnçeramte me ay cofessei, E denunçiei, vir Estar preso, me maravilho, E mto arrependo ter antes fta essa denunçiação o secular, onde os q denunçiã, ou cõpliçes descobrẽ, liberrimo pdão E ainda outras gajas, E mais q dezenove anos me chamando sẽprer per aquy derrador avro pa seus sermões E festas todas, sto hora tãbẽ d avro ẽprazado pa dia de nossa sna do Ô, E pa dia de Thomé, E na 4a fra q no mo fica, pa as exequias de ge moniz da Syllua ay e Santo anto, vizinho E amiçissimo q foe meu, E hirmão na confraria dos clerigos de po e Segadaes, os quaes se juntã todos a dita 4a fra, onde cuido q me deitarão a missa do pontifical, cantda, E farão prégar ainda esse dia, ca tantas fras per qua representa homẽ ás vezes, E se tãbẽ me for neçessario ir a essa çidade sei se estas cousas os longes, tãbẽ me ficou ao proposito por lẽbrar nessa mesa, um grandissimo segredo açerca de um natural fo meu, q no ano de 58, houve yana lopez casada ẽtã, q casa de seu pae meu onde me eu mety chegando da corte, morava E ser-via seu mdo rodrigu eanes, o qual fo mandei eu 18 ãnos trazer pa esta egreja, de idade hia sete anos, E o criei ao cabo de minha mesa pee comendo, E na cama tpo algũ daquella mininiçe, d onde naçeo toda zizania de envejas os outros criados, q tãbẽ póde ser q p suas vsas julgando, qualis unusquisqe est, s, cuidariã outra cousa, por ser secreto o negio de fo, q nẽ p presunção, por respeito de minha pa E doutrina, cuido se cuidava, E mais q eu por mais encubrir o bautizei na pia de minha egreja da cella, E nesta teve a crisma, e sei se diga q o mais fora antes isso, q o adulterio, E fo casa alhea, bẽ q d y nada o deixei herdar, E quo de dous, assi desse E de doze nessa mesa dissera, antes q obrigação de tal fora de mỹ dizer, a esse, trouxe a cavallo sẽpre e armas E quo a fo tratei, E lhe dotei este assento q vivo, o q finalmte dobrou as envejas, E fez mtas tẽpestdes porq tinhã os dous adibes mto olho a isto, mor mta cousa outra havendo pa frco yo tirar por sua tença q por um alvra mentẽ, este fo se diz mael do couto, o qual segredo ponho os dessa santa mesa E christianissimos peitos de vas mes forçado hera o descobrir porq quiça ou por maliçia E enveja, ou por o assi cuidarẽ, podem algũ ao menos dos dous pessimos criados, outra cousa ay dizer, q por o juramẽto santo q nessa mesa tomei, é, mas fo quo disse crido somte ser criado, esta lida, logo por charide se rõpa, E lhes lẽbro, quo a prudentissimos E beninissimos paes, q bullindose cousa algũa cõtra algũ daquelles dous cõ-pliçes: por hõra de ds, sejã o mais secretamte q for possivel, E antes a menos q a mais respeitadas ignorantes moçidades, por a santa clemençia de vas mes, cujas vidas E stados mto grandes prelazias, aumente o snor, os mtos scritos meus, q nessa çidade entrado ja mto ẽprimir queria: achei esse melanconico bisalho, q se lerẽ por desenfado seja, e quo seu vao demanda,

desta mesa de bouga pro de dezẽbro de 1584 ãnos capellão E orador indignissimo ge mra

Legenda:

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