Illmo Sr Intendente Geral da Policia
Os desejos que V Sa tem feito bem patentes de
manter a segurança, e tranquilidade dos habi
tantes desta capital, são os que me obrigão
a fazer sciente o seguinte acontecimento:
Acha-se prezo na Cadeia do Castello o Dor Joze
da Cruz Xavier Secretário da Real Junta da
Fazenda dos Arsenaes do Exercito; sua fama
alem dos disgostos, que por este motivo tem
soffrido, tem sido attacada por trez vezes
nas Cazas da sua habitação ao Val de
Santo Antonio, cujas cazas tem hum Quin
tal para huma Travessa chamada do
olival, e isto com o fim de a roubarem,
chegando a tanto o descaramto dos Ladrõ
es, que no ultimo attaque que lhe fi
zerão, que foi no dia 25 do corre pelas
Onze horas da noute principiava a dei
tar abaixo a parede de huma janella
que deita para o quintal, o que sendo
sentido pela ditta familia se vio na
necessidade de gritar aqui d'El Rey,
e sendo então auxiliada pela vizi
Vizinhança tiverão os agressores tempo de
fugir. Na mencionada Travessa ha di
ferentes Barracas, e em huma d'ellas
morão huns sugeitos que a não habitão
sempre, porem vem ali varias vezes,
e nella introduzem mulheres e ahi há
toques de Guitarra ate alta noute cu
jos sugeitos, e factos por elles pratica
dos se fazem dignos de suspeita, e da
vigelancia e indagação da Policia de
q V Sa se acha encarregado. Apare
ce tambem nestes citios há tempos
hum individuo desertor de hum Re
gemto de Linha, o qual tem pr alcunha
o Croinha, e anda ate alta noute de
manta e cacete e já algumas pes
soas se tem queixado do seu proce
dimento. He para que estes factos
cheguem ao conhecimo de V Sa e dê
as providencias que julgar accer
tadas que se faz esta exposição
a qual he verdadeira e se pode
Pode provar pelo principio de arrom
bamento feito na Caza mencionada
o qual foi visto e examinado pelos
vizinhos que acudirão as vozes da
referida familia
Da protição de V Sa espera esta
familia o descanço que lhe he rou
bado pelos sobreditos acontecimtos
Ds Gde a V Sa ms as
Lisboa 27 de Abril de 1830
Hum Amo da tranquilidade