Rmo Snr Fr Jozeph da Natividade.
Meo estimado Primo, já nao cuidava que tinha parentes, quando me persuadião os annos, que cor
rião, não ser possivel havelos, e não receber eu ao menos hua carta delles. Asim descorria a respto de todos,
principalmente de VP, que tanto afecto me deveo. Mas se por esta cauza foi grde o meo tormento, agora que
recebi as suas letras, trocada a magoa em alegria, o dissabor em contentamento, já resuscita o meo prazer
porque tambem revive das cinzas do esquecimento a sua lembransa. Mui satisfeito estou com o progresso,
e adiantamento dos Seos estudos, em que espero que as ramas de louro, q lhe cingirem a fronte, ennobreção o tron
co, e arvore da nossa geração. Mande-me com mais miudeza noticias dos Snr Seos Paes, e prezados tios meos,
e dos Snrs Irmaons, meos primos. Sinto que a Snra minha prima Thereza ficasse, alem de viuva, pobre, e com
filhos. Cá fico encommendando a Ds a alma do defunto Seo marido, e da defunta Caetana. O P Jozeph
de Olivra, q VP me recommenda, bem pode significar-lhe os effeitos da sua recommendação nas attençoens,
com q o trato, e no muito, que o dezejo servir. Muitos são os magoados pelo infortunio do Ldo Antonio
de Sá Tinoco: esperamos em Deos que a verde se patentêe, e ella triunfe da maledicencia. Acceite lem
branças de toda a minha gente, e se quer multiplicar-me o gto, repita a miudo as suas boas noticias. A
tudo, que lhe dis respto, envio Saudades. Não há por hora mais tempo. Ds gde a V P. Mariana
aos 13 de Janro de 1763
De V P
Amante, e fiel Primo
Lino Lopes de Mattos