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1619. Carta de Paulo de Pedrosa Meireles, vigário-geral, para um destinatário da Inquisição não identificado.

ResumoO autor narra como tem sido difícil encontrar a mulher de um babeiro-cirurgião que foi preso por bigamia.
Autor(es) Paulo de Pedrosa Meireles
Destinatário(s) Anónimo450            
De Portugal, Santarém
Para Portugal, Lisboa
Contexto

Este processo diz respeito a Diogo Dias, cristão-velho de 66 anos, barbeiro-cirurgião que dizia não saber ler, acusado de bigamia. Filho de Pero Dias barbeiro e de Leonor Fernandes, Diogo Dias era natural do lugar da Louriceira (Alcanede) e morador no Brasil, em Pernambuco. Casou com Domingas Gonçalves estando ainda viva a sua primeira mulher, Maria Cordeira, pelo que foi preso a 12 de julho de 1619.

Diogo Dias tinha casado com Maria Cordeira, filha de Lucas Antunes e de Maria Cordeira, na Louriceira, tendo feito vida marital com ela por cerca de vinte anos. Os dois tiveram três filhas (Maria Dias, de 35 anos, Leonor Dias, de 30 anos, e Isabel Dias, de 23 anos) e um filho. Um ano antes do ano da peste, acidentalmente, o réu feriu uma mulher num braço com uma espingarda no lugar de Vaqueiros, motivo pelo qual andou a monte durante algum tempo, tendo depois sido preso e degredado para o Brasil, onde passou cerca de seis ou sete anos. Na versão do réu, no ano da peste, já estando ele fugido, soube que a sua mulher também tinha saído da cidade e que andava com uns pastores na Charneca de Almeirim. Dois anos depois, estando ele preso em Santarém, soube que esta estava em Coruche, e, mandando lá alguém de confiança para averiguar, tivera notícia de que ela tinha sido encontrada agastada por um cancro e boubas. Sem mais notícias desde então, o réu foi degredado por cinco anos para o Brasil por andar amancebado com Maria Dias, moça solteira da Póvoa de Galegos, e lá ficou exercendo o ofício de barbeiro de soldados. Indo também para o degredo no Brasil Catarina da Silva e Matias Vaz, ambos lhe comunicaram que a sua primeira mulher tinha morrido em Pombal. Por isso, casou-se com Domingas Gonçalves, cristã-velha, de 50 anos, natural de Moncorvo e moradora no Rio Grande, tendo vivido com ela por tempo de três a quatro anos, até serem ambos presos e levados para Lisboa. Em auto-da-fé de 10 de janeiro de 1621, o réu foi sentenciado a ir ao auto-da-fé com uma vela acesa na mão, a fazer abjuração de leve, a degredo por 5 anos para as galés de Sua Majestade, a arbítrio dos inquisidores para servir ao remo sem soldo, a ser açoitado pelas ruas públicas da cidade, a instrução nas coisas da fé, penas e penitências espirituais e ao pagamento de custas.

Suporte meia folha de papel escrita no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 9458
Fólios 59r
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2309601
Socio-Historical Keywords Maria Teresa Oliveira
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Catarina Carvalheiro
Contextualização Leonor Tavares
Modernização Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2015

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