1643. Carta de Mateus Peres da Cruz, padre, para António Guedes Souto-Maior, capitão morgado.

Processo relativo a António Guedes Sotomaior, capitão, acusado pela Inquisição de Coimbra por sacrilégio, falso testemunho e desacatos a imagens religiosas. O caso de denúncia é relativo ao dia 13 de maio de 1645, dia em que António Guedes fugia das mulheres de Marzagão (Moncorvo), que o perseguiam por ele lhes ter matado gado e porcos nos terrenos baldios da terra. Conseguiu esconder-se na capela de Nossa Senhora da Conceição e, enquanto estava lá fechado, lançou a imagem de Nossa Senhora da Conceição ao chão, partindo assim um braço à escultura. Afirmou que este ato serviu para trancar a porta, para se proteger do povo que o queria matar. Neste movimento, puxou também o retábulo e destruiu-o, mandou a pedra de ara do altar ao chão e quebrou-a. Foi alvo, além disso, de outras acusações, tais como comer carne nos dias de preceito da igreja ou não ir à missa.

Várias testemunhas de Marzagão foram acusar o réu, contando diversas versões do acontecido na perseguição e fuga daquele dia 13 de maio. Uma das testemunhas é o autor da carta contida no processo (PSCR0385), Mateus Peres da Cruz, padre da igreja de São João Batista de Marzagão, que afirmou ser o acusado homem "escandaloso e depravado". Algumas provas foram entregues pelo réu, como comprovativos de que era cristão-velho. Também entregou uma carta do reitor de Marzagão, pretendendo provar que era homem de crédito. António Guedes Sotomaior foi sentenciado a pagar vinte cruzados pelos danos à capela da Conceição e a dois anos de degredo para a fronteira da cidade de Elvas.