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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1753. Cópia de carta de Josefa Maria Marques para a tia [Inocência dos Santos].

ResumoA autora queixa-se da situação em que o marido a deixou, defende a sua honra e mostra-se admirada perante os reparos que a destinatária lhe fez.
Autor(es) Josefa Maria Marques
Destinatário(s) Inocência dos Santos            
De Portugal, Leiria
Para S.l.
Contexto

Josefa Maria Marques casara com Jacinto José dos Santos na igreja de S. Martinho do Coito de Tavarede a 9 de agosto de 1742 por não haver cura na Figueira da Foz, de onde era natural o marido. Sucedeu que o homem, escrivão do judicial e notas da vila de Castro Marim, veio a contrair matrimónio com Maria da Cruz, residindo ambos naquela povoação, estando ainda viva a primeira mulher. Na verdade, Jacinto José dos Santos deixara a primeira mulher depois de ter cometido um crime e de ser preso no Limoeiro (Lisboa). Foi nesta altura que conheceu aquela que viria a ser sua segunda mulher.

Em 1753, um tio de Josefa Maria Marques, o capitão Francisco Vieira, ao reconhecer Jacinto José dos Santos e ao tomar conhecimento da vida que este fazia em Castro Marim, denunciou o caso ao Santo Ofício. A carta que aqui apresentamos providenciou várias evidências que confirmavam o teor da denúncia. De salientar as condições através das quais o familiar do Santo Ofício, Basílio Francisco Pinheiro, teve acesso ao original, conforme declarou aos inquisidores a 14 de dezembro de 1753, a partir de Figueira da Foz): 'cuja carta lhe foi tirada [à tia de Josefa Maria Marques] com destreza e por mim fielmente copiada […]; a referida carta não há dúvida alguma ser verdadeira, porque a dita Inocência dos Santos tem publicado a várias pessoas a recebera há dois ou três dias da dita Josefa Maria Marques, sua sobrinha e juntamente pediu a pessoa fidedigna houvesse de querer escrever a resposta dela, pela mesma o não saber fazer' (fl. 25v, transcrição modernizada).

A 26 de abril de 1754 Jacinto José dos Santos acabaria por dar entrada nos cárceres da Inquisição de Évora, onde permaneceu pouco mais de quinze dias.

Suporte uma folha de papel dobrada, escrita nas duas primeiras faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Évora
Cota arquivística Processo 5483
Fólios 26r e v
Transcrição Ana Leitão
Revisão principal Rita Marquilhas
Modernização Clara Pinto
Data da transcrição2016

Page 26r > 26v

[1]

Minha thia mto minha sra mto do meu coração neste

[2]
estimei as notiçias q me deu homem dessa terra, de que
[3]
estava cazada, com o sr capam Frco Vieira o q mto Estimei
[4]
ouvir e premita o Altissimo Ds a vmces se logrem os an
[5]
nos de meu, e seu dezo q sendo assim, não terá vm mais
[6]
q dezejar nem eu q apeteçer Tambem estimei o dizer
[7]
me o mesmo homem q Vm Lograva boa saúde, eu a
[8]
pessuo boa e mto prompta a ofreço ao seu servo. Logo
[9]
q recebi o recado da pte de vme q o tal homem asima dito
[10]
me deu escrevi a vm por elle e foi tal q antes de sahir des
[11]
ta çide me dice perdera a carta e faço esta a fortuna
[12]
esperando portador pa vm me não ter em conta de
[13]
impolitica, o tal homem me disse q vm me mandava
[14]
dizer q se eu queria hir fazer Vida com meu marido me
[15]
retiraçe pa essa Terra, não deixei de sentir minha thia
[16]
q de palavra, me vieçe semelhante nego por recado, he
[17]
pa eu viver com essa magoa mais entre as mais em q
[18]
vivo, como vme não deve Ignorar, pois com q conso
[19]
lação pode esta triste viver com o dezgosto de se ver
[20]
fora da sua pátria desterrada aubzte de seu marido
[21]
e dezemparada de seus parentes; mas he ventade de
[22]
Ds com a sua Devina vonte me conformo pois elle he
[23]
Leal expozo e verdadro parente pois he Pai de todos; e
[24]
mt mais dos dezemparados como eu pois he Certo q eu
[25]
havia de sentir q vme me não escreveçe dandome a nota
[26]
por Letra de q por palavra me mandou pois o meu
[27]
procedimto o não desmereçe Mandeme vme explicar
[28]
milhor o recado porqto estando o meu marido em
[29]
termos de eu hir fazer Vida com elle, nenhuã duvida
[30]
lhe ponho pois sempre fui mais sua amte do q elle meu
[31]
porq eu me lembro de q hindo a Lxa pa ver se o punha
[32]
Livre da prizão em q estava, todas as vezes q o hia a ver
[33]
o achava sercado de mulheres Damas, sahio da prizão
[34]
não cuidou em me Escrever pois sabia aonde eu esta
[35]
va e do q se Lembrou foi de hir pa o degredo acom
[36]
panhado de huã manseba, q se pode esperar deste

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